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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Grupo Sobrevento

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 28.09.2023
11.1986 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Registro fotográfico autoria desconhecida

Sandra Vargas, Miguel Vellinho e Luiz André em cena de Ato sem Palavras, 1987 [Obra]

Fundado em 1986, no Rio de Janeiro, pelos atores Luiz André Cherubini, Sandra Vargas e Miguel Vellinho, volta-se para a criação de um teatro adulto e infantil contemporâneo, por meio do trabalho com bonecos e técnicas de animação.

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Fundado em 1986, no Rio de Janeiro, pelos atores Luiz André Cherubini, Sandra Vargas e Miguel Vellinho, volta-se para a criação de um teatro adulto e infantil contemporâneo, por meio do trabalho com bonecos e técnicas de animação.

O grupo adapta na estreia uma peça do dramaturgo irlandês Samuel Beckett (1906-1989). Ato Sem Palavras, de 1987, tem excelente recepção do público e nasce de cuidadosa pesquisa sobre o teatro de bonecos japonês bunraku, em que os manipuladores ficam à vista da plateia. O espetáculo aponta novas possibilidades de encenação para a companhia, que já revela extrema precisão na manipulação direta.

Em 1988, o Sobrevento confirma sua profissionalização, apresentando Sagruchiam Badrek, título inventado pela companhia assim como a língua do espetáculo, que combina teatro de rua, elementos circenses, dança, música ao vivo, uso de máscaras, construção de figuras com um quebra-cabeças japonês e um boneco gigante. Em 1989, nova pesquisa de gênero se dá no infantil Um Conto de Hoffmann, inspirado no primeiro ato da ópera homônima de Jacques Offenbach (1819-1880), em que um poeta se apaixona por uma mulher mecânica. O Teatro de Brinquedo, ou Teatro de Papel, forma teatral em que personagens de papel bidimensionais representam em pequenas maquetes, serve de base para a encenação. Na montagem, cujo cenário e figurino são também feitos de papel, essas figuras são ampliadas para a escala humana e interagem com quatro atores. Primeiro sucesso do grupo, a peça ganha indicações para os prêmios Mambembe e Coca-Cola.

A companhia retoma a técnica da manipulação direta de bonecos em 1991, com Mozart Moments, que homenageia os 200 anos da morte do compositor austríaco ao encenar seis etapas de sua vida: o talento precoce; uma confusão; as brigas com a mulher; as dificuldades desta para se arrumar para festas; a ida ao cabeleireiro; e o falecimento do compositor. Três manipuladores, vestidos de branco, com figurinos do século XVIII, conduzem suas personagens em uma carroça, palco ambulante acompanhado pelo público. Recebe os prêmios Coca-Cola e Maria Mazzetti-RioArte.

Nas duas peças seguintes, são retomadas pesquisas anteriores. Beckett, de 1992, reúne três peças curtas do dramaturgo: Ato sem Palavras 1, Ato sem Palavras 2 e Improviso de Ohio. Nos dois primeiros atos, os manipuladores movimentam um boneco de 50 cm de altura e seguem à risca as indicações do autor. Na terceira, os atores assumem o palco e encenam o texto. O crítico Alberto Guzik (1944-2010) analisa: "Beckett é um espetáculo feliz pelo acerto da obra, pela qualidade dos atores-manipuladores, pela seriedade despretensiosa com que os originais foram tratados. A montagem envolve a plateia e comunica-se plenamente. Passa ao público as ideias soturnas do dramaturgo e brinca delicadamente com elas".1 Em 1993, baseando-se na peça A Verdade Vingada, da dinamarquesa Karen Blixen (1885-1962), e adaptando-a para a Ouro Preto do século XIX, montam O Theatro de Brinquedo. As figuras de papel são retomadas.

A versatilidade do grupo prova-se mais uma vez em Ubu!, de 1996, que comemora o centenário de Ubu Rei, de Alfred Jarry (1873-1907). Com cenário de Helio Eichbauer (1941-2018), a montagem explora o conceito de supermarionete. Cada ator veste um figurino que deforma o corpo. O som ao vivo de uma banda de heavy metal simboliza uma sensível mudança do tom da encenação em relação às anteriores, antes com temas e ambientações mais delicados. Maria Lúcia Candeias destaca os pontos positivos do espetáculo: "O que predomina na encenação (...) é o clima de alegria, transmitido principalmente pelo cenário deslumbrante de Helio Eichbauer, figurinos de Maurício Carneiro e adereços de Carlos Alberto Nunes. (...) Tudo destacado pela ótima iluminação de Renato Machado, que realça com perfeição o trabalho dos vários fantoches que fazem as vezes de personagens, interpretados com movimentação impecável".2 Cadê o Meu Herói?, 1998, escrita pelo argentino Horacio Tignanelli, emprega técnicas do fantoche de luva chinês e sofisticados recursos de iluminação e som.

De 1999, o monólogo O Anjo e a Princesa, com atuação, texto e interpretação de Sandra Vargas, trata da relação de um anjo da guarda com uma princesa, a quem deve proteger. O cenário contém móbiles inspirados na obra do escultor americano Alexander Calder (1898-1976) e causa impacto visual. A performance da atriz-manipuladora, que recebe o prêmio de melhor atriz de teatro infantil da Associação Paulista de Críticos de Artes – APCA, é reconhecida pelo dramaturgo e jornalista Dib Carneiro Neto (1961): "Além da competência técnica de bonequeira, manipulando móbiles, Sandra desdobra-se em mil e um outros talentos no palco, marcando sua interpretação como uma das melhores já vistas nos últimos tempos no teatro infantil".3

Uma nova fusão de linguagens se dá em Submundo, 2002, que une teatro, dança, música, artes plásticas, literatura e história. Em 13 cenas, descreve-se um panorama sobre a guerra, a fome, a pobreza e o preconceito desde a Galiléia do século I até a Irlanda do século XX. O cenário, de Daniela Thomas (1959), é formado por uma estrutura metálica sobre um banco de areia, na qual se movimentam os atores, que usam um pano para cobrir o rosto a fim de anular a individualidade e criar arquétipos.

O grupo comemora os 20 anos de fundação com O Cabaré dos Quase-Vivos, 2006, inspirado em Conto de Ninar, do húngaro Ferenc Molnár (1878-1952).  Duas histórias paralelas se cruzam: a de um homem pobre, condenado por desacatar um policial, e a de 40 frequentadores de um cabaré. Os quatro atores-manipuladores estimulam um jogo cênico com a plateia, ao convidá-la para uma noite de prazeres no cabaré.

O Sobrevento desenvolve também atividades voltadas à difusão do teatro, sobretudo na periferia de São Paulo, cidade para onde transfere sua sede em 2001.

O grupo realiza viagens com seu repertório e participa de vários festivais internacionais. Em 1989, integra o 1º Encontro Sul Americano de Marionetistas, em Trujillo, no Peru. Faz temporada regular de um mês, participa de festivais e dirige oficinas em Santiago do Chile, em 1995. Dois anos depois, apresenta-se em várias cidades da Espanha, entre elas: Festivais de Bilbao (País Basco), Gijón (Astúrias) e Cádiz (Andaluzia). Em 1998, viaja para Medellín, na Colômbia, e em diversas cidades da província de Antióquia. Em 1999, volta à Espanha, para apresentações nas cidades de Tolosa, Eibar e Irún (País Basco), Pamplona (Navarra), Alicante (Valencia) e Alcalá la Real (Andaluzia). Visita Dublin (Irlanda), em Glasgow (Escócia) e em Madri, León, Valladolid e Cazorla (Espanha), em 2000. No ano seguinte, está em Buenos Aires, Córdoba, Mar del Plata e La Plata (Argentina) e, novamente, na Espanha, passando pelas cidades de Sevilla, Segovia, Lleida, Valladolid, Miranda de Ebro, Noalejo, Alcalá la Real, Arjonilla, Barañaín, Burgos, Gavà, Miranda de Ebro, Zamora, Málaga, Palencia, Almagro, Valladolid, Zamora. Em 2002, retorna a Santiago do Chile, além de Medellín, Bogotá e Cáli, na Colômbia. Em 2004, apresenta-se em Madri e em cidades da região, além de ir a Luanda, Angola.

Inaugura, em junho de 2009, sua sede pública, única sala da cidade de São Paulo dedicada exclusivamente ao Teatro de Bonecos. O Espaço Sobrevento inclui uma sala de espetáculos, uma biblioteca, hemeroteca e videoteca especializadas em Teatro de Bonecos, além de um espaço para confecção, treinamento e aperfeiçoamento para marionetistas. O Espaço é mantido com recursos do próprio Grupo Sobrevento.

Notas
1 GUZIK, Alberto. Bonecos de Beckett: teatro a sério. Jornal da Tarde, São Paulo, Variedades, 1993.
2 CANDEIAS, Maria Lúcia. Um dadaísmo de bonecos. Gazeta Mercantil, São Paulo, Caderno da Gazeta Mercantil, 1997.
3 CARNEIRO NETO, Dib. Sobrevento brilha em monólogo para Calder. O Estado de S. Paulo, São Paulo, Caderno 2, 1999.

Espetáculos 49

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Exposições 1

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Fontes de pesquisa 8

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  • BRASIL, Ubiratan. Bonecos e atores no palco do Cabaré dos Quase-Vivos. O Estado de S. Paulo, São Paulo, Caderno 2, 31 mar. 2006, p. 6.
  • CANDEIAS, Maria Lúcia. Um dadaísmo de bonecos. Gazeta Mercantil, São Paulo, Caderno da Gazeta Mercantil, 1997.
  • CARNEIRO NETO, Dib. Sobrevento brilha em monólogo para Calder. O Estado de S. Paulo, São Paulo, Caderno 2, 1999.
  • CASTRO, Giovanna. Fantoches da pobreza. Correio da Bahia, Salvador, Folha da Bahia, 19 jul. 2003. p. 1.
  • CERRONE, Lúcia. É boa madeira de lei. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, Caderno B, 17 out. 1999. p. 6.
  • GUZIK, Alberto. Bonecos de Beckett: teatro a sério. Jornal da Tarde, São Paulo, Variedades, 1993.
  • SANTOS, Valmir. Sobrevento testa linguagens de bonecos e atores em nova peça. Folha de S.Paulo, São Paulo, Ilustrada, 30 mar. 2006. p. 8.
  • VIANNA, Luiz Fernando. Sobrevento brinca com o tirano Ubu. O Globo, Rio de Janeiro, Rio Show, 6 dez. 1996. p. 22.

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