Chico Pelúcio
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Biografia
Francisco Paulo Maciel Pelúcio (Cruzilha, Minas Gerais, 1959). Ator, diretor e gestor cultural. Integrante do Grupo Galpão desde 1984, destaca-se como ator no espetáculo Álbum de Família, de Nelson Rodrigues, 1990, e na direção da montagem de Um Trem Chamado Desejo, 2000. Sua trajetória é marcada pela atuação como gestor cultural, principalmente à frente do Galpão Cine Horto e na presidência da Fundação Clóvis Salgado (Palácio das Artes).
Formado em administração e ciências contábeis e com especialização em cinema na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas, Chico Pelúcio completa sua formação artística com cursos livres e, principalmente, com a experiência prática. Paralelamente, atua como produtor cultural desde 1981, quando idealiza e coordena o Festival Canta-Conte de Baependi, Minas Gerais.
Inicia sua trajetória no teatro durante o curso universitário na PUC Minas, ao montar com Eduardo Moreira, futuro parceiro no Grupo Galpão, o espetáculo Murro em Ponta de Faca, de Augusto Boal, com orientação de João Machado, em 1982. No mesmo ano, realiza uma experiência comunitária na Ilha de Marajó, Pará, onde cria o espetáculo de teatro de bonecos O Gato Estrepado. De volta a Minas Gerais, participa da montagem de A Escola Acabou, do grupo Teatro de Resistência da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, em 1983. Em seguida, passa uma temporada em Londres, faz curso de palhaço e monta o espetáculo de rua A Maçã, com o qual percorre Inglaterra, França, Bélgica e Holanda.
Em 1984, após concluir a graduação na PUC Minas, retorna a Baependi, Minas Gerais, cidade onde fora criado, e monta o grupo de teatro amador Cataguá, e com ele produz o espetáculo Nó Cego, de Carlos Vereza, e ganha os prêmios de melhor diretor e melhor ator no Festival de Ouro Fino. No mesmo ano, ingressa no espetáculo E a Noiva Não Quer Casar, do Grupo Galpão, fazendo uma substituição de emergência, e organiza com o grupo o projeto Lápis de Cera - Teatro Vai à Escola, em parceria com Xuxo Lara.
O encontro com o Galpão configura-se como um marco em sua carreira. A partir daí, participa de diversas montagens, em que o grupo desenvolve pesquisas de linguagem que passam pelo teatro de rua, pela commedia dell'arte e por textos de Nelson Rodrigues, William Shakespeare e Molière. Com o Grupo Galpão, atua nos espetáculos Ó Procê Vê da Ponta do Pé, criação coletiva de 1984; Arlequim Servidor de Tantos Amores, baseado na obra Arlequim Servidor de Dois Amos, de Carlo Goldoni, em 1985; Corra Enquanto É Tempo, com texto e direção de Eid Ribeiro, em 1988, e Álbum de Família, de Nelson Rodrigues, em 1990. Por esta última, Pelúcio ganha o Prêmio Cauê de melhor ator do ano. A crítica Clara Arreguy, do jornal Estado de Minas, comenta sua atuação: "Nu, como um louco, sem texto mas com todos os subtextos, contracena com os demais todo o tempo, representa com todos os músculos do corpo, num total despojamento, literal".1
De 1984 até 1994, Chico Pelúcio é coordenador de produção do Galpão. Nesse período, o trabalho do grupo ganha projeção nacional e internacional com a montagem de Romeu e Julieta, de Shakespeare, dirigida por Gabriel Villela em 1992, e com esse espetáculo premiado o Galpão apresenta-se no Globe Theatre, em Londres.
Como produtor cultural, coordena o Festival Internacional de Teatro de Rua realizado pelo Grupo Galpão em 1990 e 1992 e também o 1º Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte - FIT-BH, em 1994. Inicia uma bem-sucedida carreira de diretor teatral em 1996, com o espetáculo O Mambembe, de Artur Azevedo, em montagem de formatura dos alunos do curso de teatro da Fundação Clóvis Salgado.
No mesmo ano, atua no curta-metragem O Ex-Mágico da Taberna de Minhota, do diretor Rafael Conde. Após cinco anos dedicados às turnês do espetáculo Romeu e Julieta, Pelúcio atua, em 1997, na nova montagem do Grupo Galpão: Um Molière Imaginário, adaptação da comédia O Doente Imaginário, de Molière, com direção de Eduardo Moreira. Ainda em 1997, participa da criação da Cia. Burlantins, dedicada ao teatro musical de rua, e dirige o espetáculo de estreia, O Homem da Gravata Florida, e as duas operetas seguintes. Com a segunda delas, O Homem que Sabia Português, ganha os prêmios Sated e Amparc na categoria melhor diretor. O espetáculo recebe ainda os prêmios Shell e Sesc/Sated de melhor música do ano para Tim Rescala.
Em 1998, assume a coordenação geral do Galpão Cine Horto, centro cultural especializado em teatro, fundado pela companhia. Nesse espaço, gerencia projetos voltados para a formação, a criação e o compartilhamento de experiências artísticas, o que fortalece o teatro de grupo em Belo Horizonte. Integra o conselho editorial da revista Subtexto e realiza o primeiro encontro de grupos e espaços de teatro que dá origem ao movimento Redemoinho, que articula mais de 70 grupos de teatro no Brasil.
Estreia o primeiro espetáculo produzido pelo Galpão Cine Horto, Noite de Reis, de Shakespeare, em 1999. A montagem, com estética inspirada nas manifestações populares do norte de Minas Gerais, é indicada pelo jornal Estado de Minas como um dos melhores espetáculos do ano. Ainda em 1999, atua no longa-metragem Outras Estórias, de Pedro Bial, que aborda o universo de Guimarães Rosa. Faz outra incursão pelo cinema em 2000, quando atua no filme O Circo das Qualidades Humanas, de Geraldo Veloso.
Dirige pela primeira vez o Grupo Galpão em 2000, na montagem de Um Trem Chamado Desejo, criação coletiva com dramaturgia de Luís Alberto de Abreu. O musical, com trilha original de Tim Rescala, narra as desventuras da malograda Companhia Teatral Alcantil das Alterosas, às voltas com a concorrência do cinema, no fim dos anos 1920 e início dos anos 1930. Sobre o espetáculo, o jornalista Israel do Vale escreve: "[...] este 'Trem' trafega por um jogo de espelhos, feito de oposições e imagens invertidas que recompõem, em registro de farsa, a trajetória do próprio grupo. A começar da busca de sobrevivência".2
Um Trem Chamado Desejo conquista o prêmio Bonsucesso/Amparc de melhor diretor, melhor atriz, melhor atriz coadjuvante e melhor iluminação. O espetáculo vence o Prêmio Shell de 2001 nas categorias trilha sonora (Tim Rescala) e cenário (Márcio Medina).
Pelúcio volta a atuar no cinema em 2001, participando de dois curtas-metragens, Dalmar e Rosália e De Incerta Feita, ambos dirigidos por Bel Bechara e Sandro Serpa. No ano seguinte, assina a direção de mais um espetáculo do projeto Oficinão do Galpão Cine Horto, O Homem que Não Dava Seta, que aborda o problema da ética na contemporaneidade; e do terceiro espetáculo da Cia. Burlantins, A Sombra do Sucesso, também uma opereta de Tim Rescala.
Compartilha com Marcelo Bones, em 2003, a direção da peça Bicicleta Branca, de autoria de Ana Régis. No Galpão Cine Horto dirige In Memorian, em 2004, em parceria com Júlio Maciel, e Papo de Anjo, em 2005, com Lydia Del Picchia, sua esposa, também atriz do Grupo Galpão.
Nesse ano, Pelúcio assume a presidência da Fundação Clóvis Salgado, instituição mantenedora do Palácio das Artes e da Serraria Souza Pinto, cargo no qual permanece por dois anos. Na Fundação, idealiza e realiza novos projetos, como Teatro Encontro.com; Concerto Minas Experimental; Música Independente; Orquestra Jovem; Prêmio Estímulo a Montagem - teatro e dança, entre outros. Nesse período, integra ainda o elenco do filme Depois daquele Baile, de Roberto Bontempo.
Em 2006, recebe da Câmara Municipal o título de Cidadão Honorário de Belo Horizonte e participa de mais dois filmes, Arremate, de Cláudio Costa Val, e Batismo de Sangue, de Helvécio Ratton.
Retorna à direção do Galpão Cine Horto em 2007 e atua em mais uma montagem do Grupo Galpão, Pequenos Milagres, dirigida por Paulo de Moraes. No ano seguinte, coordena a edição mineira do Próximo Ato - Encontro Internacional de Teatro, promovida pelo Itaú Cultural, e realiza sua primeira direção de curta-metragem, em parceria com Rodrigo Campos, no projeto Cinema Instantâneo, do Galpão Cine Horto. Ainda em 2008, dirige, em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, a ópera A Redenção pelo Sonho, de Tim Rescala, sobre a obra e a vida do escritor Monteiro Lobato (1882 - 1948).
Notas
1. ARREGUY, Clara. Na montagem do Galpão, toda a magia do teatro. Estado de Minas, Belo Horizonte, 20 mar. 1991. Segunda seção, p. 2.
2. VALE, Israel do. Galpão embarca teatro e cinema no mesmo trilho. Folha de S.Paulo, São Paulo, 28 nov. de 2000.
Espetáculos 49
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 7
- ARREGUY, Clara. Na montagem do Galpão, toda a magia do teatro. Estado de Minas, Belo Horizonte, 20 de março de 1991. Segunda seção, p. 2.
- BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. Grupo Galpão: 15 anos de Risco e Rito. Belo Horizonte: O Grupo, 1999.
- FERREIRA, Alessandra. O Galpão, da direção coletiva às parcerias importantes. In: PENSARTE.COM. Disponível em: [http://www.terra.com.br/pensarte/noticias/galpao.html]. Acesso em: jan. 2009.
- GALPÃO Cine Horto. Site oficial da instituição. Belo Horizonte. Disponível em: [http://www.galpaocinehorto.com.br]. Acesso em: jan. 2009.
- LEAL, Maria Teresa. Do Galpão para a direção da FCS. Hoje em Dia, Belo Horizonte, 03 mar. 2005.
- MARTINS, Alexandra. Galpão conta em musical as desventuras do teatro. O Tempo, Belo Horizonte, 23 nov. 2000.
- VALE, Israel do. Galpão embarca teatro e cinema no mesmo trilho. Folha de S. Paulo, São Paulo, 28 nov. 2000.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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CHICO Pelúcio.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa109186/chico-pelucio. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
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