Fernando Augusto
Texto
Fernando Augusto Gonçalves Santos (Recife, Pernambuco, 1947 - idem, 2022). Ator, dramaturgo, bonequeiro, cenógrafo, diretor artístico. O trabalho do artista se caracteriza por trazer para a arte contemporânea uma pesquisa sobre bonecos brasileiros e tradições populares, conciliando a perspectiva de estudioso ao campo de vivência pessoal com agentes de produção da cultura popular.
Nascido em Recife, vive os primeiros anos da infância em Triunfo, no sertão Pernambucano, cidade da família paterna na qual a mãe, educadora, dirige uma escola. Naquele período, adquire o hábito de brincar com bonecos confeccionados pela mãe para incorporá-los ao método de ensino. Alfabetizado no Colégio de Aplicação Stella Maris de Triunfo, onde freiras franciscanas alemãs oferecem educação de vanguarda para os filhos das famílias abastadas da região, se transfere para o município de Glória de Goitá, por conta do trabalho da mãe. A mudança é determinante na trajetória do artista, que passa a conviver com os folguedos da Zona da Mata, como o bumba-meu-boi, o maracatu e o mamulengo, manifestações culturais que incorpora ao seu trabalho na vida adulta.
Com a mudança da família para Recife, matricula-se no Colégio Salesiano Sagrado Coração, no qual começa a fazer teatro. No período do ensino médio, inicia a militância política e opta pelo curso superior em sociologia e política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), espaço de resistência à ditadura militar (1964-1985). Frequentador do Teatro Popular do Nordeste (TPN), é levado ao Teatroneco do Centro de Comunicação Social do Nordeste (Cecosne) por Hermilo Borba Filho (1917-1976), com quem trabalha como assistente de direção. Após uma temporada na Europa, no final dos anos de 1960, retorna ao Brasil no início da década de 1970 e, em 1975, funda o Grupo Mamulengo Só-Riso em parceria com o ator e dramaturgo Nilson Moura (1948-1994) e o ator, professor e escritor Luiz Maurício Carvalheira (1945-2002).
A partir da participação no 5º Festival Nacional de Teatro de Bonecos (1976), promovido pela Associação Brasileira de Teatro de Bonecos (ABTB), o grupo Mamulengo Só-Riso ganha reconhecimento entre os pares. A montagem dos espetáculos Festança no Reino da Mata Verde (1976) e Carnaval da alegria (1976) impulsiona a trajetória do grupo, que se apresenta em diversas regiões do país e do mundo e obtém reconhecimento do público e da crítica especializada. Em Carnaval da alegria, os autores Fernando Augusto e Nilson Moura apresentam cantos, danças e brincadeiras do carnaval de rua de Olinda, com destaque para o frevo. Em Festança no Reino da Mata Verde, os autores se utilizam da liberdade de movimentos característica dos mamulengos para ir da farsa popular à dança de pastoril e ao maracatu, com 35 bonecos manipulados por seis pessoas.
Para além das atividades artísticas, Fernando Augusto atua como militante do campo da cultura, dedicado à preservação do teatro popular de bonecos. Em 1980, monta a exposição Mamulengo – História e estórias, com curadoria da pesquisadora e colecionadora Magda Modesto (1925-2011), na sede da Organização dos Estados Americanos (OEA), durante o Festival Mundial de Marionetes, realizado pela União Internacional da Marionete (Unima), em Washington, Estados Unidos. A montagem de exposições é retomada em 1994, quando realiza Marionnettes en territoire brésilien, durante o 10º Festival Mondial des Théâtres des Marionnettes, em Charleville-Mézières, França. Idealizado ainda na década de 1970, quando os integrantes do Mamulengo Só-Riso começam a adquirir bonecos dos antigos mestres mamulengueiros, o Museu do Mamulengo – Espaço Tiridá é fundado em 1994 na cidade de Olinda. Com acervo de cerca de 1.200 peças, entre bonecos antigos e contemporâneos, instrumentos musicais e adereços de palco, é o primeiro museu de bonecos da América Latina, definindo-se como um espaço artístico, lúdico e mágico, com exposições permanentes e temporárias.
A militância cultural leva o artista a ocupar cargos de gestão em associações de classe e instituições públicas. De 1979 a 1981 preside a ABTB, período no qual a associação desenvolve atividades de formação profissional para artistas, fomentando a abertura de espaços de trabalho para o teatro de bonecos. Em 1995 e 1996, ocupa cargos na pasta de Cultura, Turismo e Patrimônio da prefeitura de Olinda, coordenando a restauração de prédios históricos da cidade. Soma-se aos cargos de gestão a atividade no ensino superior, como professor convidado da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA). No campo da produção intelectual, publica o livro Mamulengo: um povo em forma de boneco (1979), além de artigos para revistas especializadas e cartilhas voltadas para o ensino básico. Entre 1995 a 2014, é responsável pelas cenografia, iluminação e coordenação executiva da montagem do Carnaval de Olinda, intervenção urbana instalada em área de preservação do sítio histórico da cidade. O tema das alegorias de Carnaval criadas pelo artista está sempre ligado à cultura da região. Em 2010, Mamulengo Só-Riso é premiado com a Ordem do Mérito Cultural.
Criador nas artes cênicas, Fernando Augusto desenvolve um trabalho voltado para a resistência da cultura popular diante em um contexto de massificação cultural. Atuando em diversos campos voltados para a preservação do patrimônio cultural brasileiro, promove a comunicação entre as esferas popular e erudita em busca da valorização da cultura popular do Nordeste e da identidade de seu povo.
Espetáculos 12
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Fontes de pesquisa 6
- BENTO, Emannuel. Morre Fernando Augusto, mestre do teatro de mamulengos, aos 74 anos. JC. 15 jul. 2022. Obituário. Disponível em: https://jc.ne10.uol.com.br/cultura/2022/07/15045497-morre-fernando-augusto-mestre-do-teatro-com-mamulengos-aos-74-anos.html. Acesso em: 22 jul. 2022.
- BRAGA, Humberto. Fernando Augusto: o menino de Nanã. Móin Móin – Revista de Estudos sobre Teatro de Formas Animadas, v. 1, n. 13, pp. 88-106, jul. 2015.
- LEVI, Clovis. Enterro dos Ossos: Carnaval da alegria. O Globo, Rio de Janeiro, 25 fev. 1978. Disponível em: https://cbtij.org.br/carnaval-da-alegria-direcao-mamulengo-riso/. Acesso em: 15 dez. 2021
- MAGALDI, Sábato. Mamulengo Só-Riso e Festança no Reino da Mata Verde. In: STEEN, Edla van; VENDRAMINI, José Eduardo. Amor ao teatro. São Paulo: Edições Sesc-SP, 2016.
- SANTOS, Fernando Augusto Gonçalves. Mamulengo: o teatro de bonecos popular no Brasil. Móin-Móin – Revista de Estudos sobre Teatro de Formas Animadas, Florianópolis, v. 1 n. 2, pp. 16-35, 2006. Disponível em https://www.revistas.udesc.br/index.php/moin/article/view/1059652595034701032007016.
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FERNANDO Augusto.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
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Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7