Fernanda Magalhães

Classificações Cientificas da Obesidade
Fernanda Magalhães
Texto
Maria Fernanda Vilela de Magalhães (Londrina, Paraná, 1962). Artista visual. Trabalha com fotografia e performance, explorando seu próprio corpo em autorretratos e apresentações performáticas. Sua vivência física é ponto de partida para discutir padrões de corpos femininos e questões sociais.
Formada em educação artística pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), em 1989, especializa-se em fotografia pela mesma instituição. A distorção e a reflexão sobre a imagem fotográfica lhe interessam desde o início de sua carreira, nos anos 1980. Trabalha com distorções provocadas por lentes fotográficas e, no laboratório fotográfico analógico, interfere no processo de revelação, desconstruindo os corpos fotografados, recortando e fazendo colagens.
No início dos anos 1990, muda-se para o Rio Janeiro para estudar fotografia com o artista Pedro Vazquez (1954), na Universidade Federal Fluminense (UFF). A mudança para uma cidade no litoral, em que os corpos estão mais presentes, faz com que a artista comece a refletir sobre a presença do seu corpo fora dos padrões das revistas femininas.
Nessa época, produz a série Auto Retrato no RJ (1993), em que se fotografa sozinha em seu quarto vazio, vestindo uma camisa branca, aludindo a uma camisa de força. Em suas poses, apresenta-se como uma pessoa aprisionada, encurralada, triste e desconfortável. Nesta mesma época, inicia a pesquisa A representação da mulher gorda nua na fotografia, vencedora do VII Prêmio Marc Ferrez de Fotografia da Fundação Nacional de Artes (Funarte), em 1995. A investigação resulta na série Gorda.
Neste trabalho, a artista sai do isolamento da série anterior e coloca o seu corpo em diálogo com a imagem de outros corpos femininos fora dos padrões de magreza das mídias audiovisuais. Trabalha com colagens de fotos suas e imagens de outras mulheres gordas, investigando os padrões tanto na história da arte quanto em revistas pornôs.
Em suas colagens, ela coloca esses corpos em diálogo e em confronto. Gorda 13 (1995) apresenta, em um fundo preto, a fotografia de uma mulher corpulenta recortada de uma revista pornográfica, um retrato 3x4 da artista e um texto sobre a relação negativa das mulheres com seus corpos, que costumam se odiar quando sentem que estão fora do peso considerado ideal.
Nesta série, Magalhães não apresenta o seu corpo com o seu rosto. Quando usa uma imagem do seu corpo nu, recorta sua cabeça e dá lugar ao vazio ou a reconstrói com uma outra imagem. Às vezes também usa figuras, como raios, para cobrir seu sexo. É um corpo censurado ou fragmentado. De acordo com a artista, a gordura em uma mulher só é permitida quando o assunto é maternidade, em que o corpo da mulher se expande para gerar uma vida e os seios aumentam seu volume para a amamentação.
Em 1997, faz a instalação Classificações científicas da obesidade e explora a dimensão real de seu próprio corpo e de outras mulheres, ao criar silhuetas vazadas de diferentes corpos femininos. Para a artista, a instalação também traz leveza a esses corpos que são considerados pesados e propõe ao espectador se colocar no corpo do outro.
No começo dos anos 2000, começa seu trabalho com performances. Em Corpo re-construção ação ritual performance (2003), convida as pessoas a cobrir com tinta uma parte do seu corpo e imprimi-lo em lençóis, criando no tecido um corpo coletivo. O trabalho desenvolvido entre os anos 2003 e 2008 também é tema de sua tese de doutorado, defendida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A partir da série A natureza da vida (2000-2011) é perceptível uma nova relação da artista com o seu corpo. Se antes a artista se mostrava aprisionada ou apagava a sua identidade, nesta série se apresenta confiante, posando nua de braços abertos e com semblante pleno em espaços públicos de diferentes cidades, como no Central Park, em Nova York, e no Jardim de Luxemburgo, em Paris.
Uma das fotos mais marcantes desse ensaio feito ao longo de 11 anos é feita no Bosque Central de Londrina. Para evitar a destruição da área verde para abrir passagem para uma avenida, vários artistas são convidados a fotografar e fazer trabalhos no local. A proposta de Magalhães é fazer um retrato posando nua, sentada em um tronco de uma árvore, segurando uma pequena tora em seus braços como se fosse um bebê. A artista olha para o pedaço de madeira como as imagens da madona apreciando seu filho em pinturas e esculturas sacras.
Entre os anos de 2015 e 2016, inicia seu pós-doutorado em mímesis corpórea e mímesis da palavra, no Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp. A linha de pesquisa estimula que os pesquisadores desenvolvam ações para potencializar e recriar singularidades a partir do seu próprio corpo e sua relação com o observador. Dentro dessa proposta, a artista vivencia diversas experiências (subir, sentar, deitar) com um banquinho de madeira pequeno e aparentemente frágil em relação ao físico da artista.
A partir da reflexão dos trabalhos de artistas como Lygia Clark (1920-1988), Lygia Pape (1927-2004) e Hélio Oiticica (1932-1980), Magalhães desenvolve a performance Grassa crua (2016), que mistura elementos da performance, da movimentação cênica e da dança, ao som de uma trilha sonora criada a partir de diversas de vozes femininas, que pronunciam palavras e expressões referentes ao corpo.
Em seu trabalho, Fernanda Magalhães parte da experiência com seu próprio corpo para questionar os padrões dos corpos, principalmente femininos, na sociedade. Seu trabalho propõe diálogo com o espectador, propiciando a ele uma experiência para que reflita sobre sua própria estrutura física.
Obras 2
Exposições 34
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19/12/1988 - 31/1/1987
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14/9/1994 - 6/10/1994
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24/4/1997 - 25/5/1997
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28/4/1997 - 30/4/1997
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30/11/1998 - 16/12/1998
Fontes de pesquisa 7
- ARTISTAS do acervo: conforto em confronto – Paulo Reis e Fernanda Magalhães. Paraná: Museu Oscar Niemeyer, 2021. (54 min.). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=YVUpBR3sHAk. Acesso em: 16 mai. 2022.
- FOTÓGRAFA Fernanda Magalhães conversa com Nadja Peregrino a partir de uma imagem manifesto. São Paulo: Mirada, 2021. (11 min.). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fz0ah4gLyE0. Acesso em: 16 mai. 2022.
- MAGALHÃES, Maria Fernanda Vilela de. Corpo re-construção ação ritual performance. 2008. 230 f. Tese (Doutorado em Artes) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2008.
- MAGALHÃES, Ângela; PEREGRINO, Nadja. A liberdade do corpo amordaçado. In: MAGALHÃES, Fernanda. A representação da mulher gorda nua na fotografia. Exposição realizada em 1995.
- MULHER artista resiste 2020: Gaia Colzani conversa com Fernanda Magalhães. Florianópolis: Coletivo Elza, 2020. (90 min.). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wPs9iOo-nHU. Acesso em: 16 mai. 2022.
- PAIVA, Joaquim (org.). Visões e alumbramentos: fotografia brasileira contemporânea na coleção Joaquim Paiva. Versão em inglês Katica Szabó, Laura Ferrari. São Paulo: BrasilConnects Cultura & Ecologia, 2002. 770.981 Pj149p
- TVARDOVSKAS, L. S. Corpo e gênero na produção de artistas visuais brasileiras?. In: II Encontro de História da Arte. Teoria e história da Arte: abordagens metodológicas, 2006, Campinas. Anais..., 2006.
Como citar
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FERNANDA Magalhães.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa10721/fernanda-magalhaes. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7