Marcio Kogan
Texto
Marcio Kogan (São Paulo, São Paulo, 1952). Arquiteto e cineasta. Forma-se na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Influenciado pelo cinema, Kogan realiza, além de projetos arquitetônicos, séries de filmes que registram a relação entre a arquitetura e as pessoas, com humor ácido.
Em 1980, funda seu escritório de arquitetura. Nessa época, a estrutura organizacional da empresa tem a colaboração de arquitetos como coautores dos projetos. Parte considerável dos projetos é de residências unifamiliares de alto padrão – como as casas Osler (Brasília, 2009), Cobogó (São Paulo, 2011), Toblerone (São Paulo, 2011) e de Punta del Este (2011), no Uruguai, além de construções comerciais (lojas), de serviços (estúdios, escritórios) e de hotelaria.
Em parceria com o arquiteto Isay Weinfeld (1952), realiza 14 curtas-metragens, entre 1973 e 1983, recebendo prêmios no Festival de Gramado, na Bienal de São Paulo e no Festival de Cinema Ibero-Americano de Huelva (Espanha). A trajetória cinematográfica da dupla completa-se com o longa-metragem Fogo e Paixão (1988). A parceria com Weinfeld permanece em seis exposições, concebidas entre 1995 e 2004, como Arquitetura e Humor (1995) e HappyLand (2002).
Na parceria, a análise urbano-arquitetônica é feita com viés satírico. Esse é um período de transição para ambos, conforme depoimento do crítico Fernando Serapião (1971): “o grande dilema dos dois: criticar o mundo edificado ou edificar? Seja como for, a arquitetura de Weinfeld e Kogan potencializou-se à medida que ambos se aproximaram mais da linguagem arquitetônica propriamente dita, deixando para trás o humor ácido"1.
O trabalho de Marcio Kogan como cineasta lhe confere um caráter experimental e interdisciplinar, presente em todo seu portfólio de projetos. Em entrevista, Kogan afirma que: “em todos os momentos da faculdade, nunca tive um arquiteto, um ídolo, alguém em quem me espelhar, de quem gostasse. Minha formação dentro da arquitetura era totalmente cinematográfica”2.
A Casa Goldfarb (1988), em São Paulo, é exemplo de tal relação. Elaborada em parceria com Isay Weinfeld, existe na concepção uma clara referência à Villa Arpel, do filme Mon Oncle [Meu Tio] (1958), do cineasta francês Jacques Tati (1907-1982). Absorve em parte a sátira contida na película. Observam-se semelhanças na volumetria externa com elementos pitorescos,como a varanda em curva e as janelas circulares, além da elaboração de percurso interno por meio de uma sequência – roteiro – de ambientes concebidos quase como cenários.
Recebe, no anos de 2002, 2004 e 2008, prêmios do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). Em 2010, seu projeto Casa Paraty e no ano seguinte, recebe o título de membro honorário do American Institute of Architects (AIA). Na 13ª edição da Bienal de Arquitetura de Veneza (2012), Lucio Costa (1902-1998) e Marcio Kogan representam o Brasil na mostra ConvivênciaConvivenza, do curador Lauro Cavalcanti (1954), com o filme-instalação Peep, dirigido por Kogan e Lea van Steen (1965).
Em 2001, o escritório de arquitetura de Marcio Kogan passa a ter o nome de StudioMK27 e operar de modo colaborativo, com a equipe trabalhando em coautoria, desde a interface com clientes até o acompanhamento da execução da obra. Os projetos passam a ser influenciados por obras modernistas brasileiras das décadas de 1940 e 1950. Segundo Lauro Cavalcanti, essa inspiração ocorre da seguinte forma : “Uma vez descartadas as ilusões do papel de transformação social do país através da arquitetura, o moderno é tomado como linguagem e não mais como ideologia”3.
Nas obras do arquiteto, a influência da produção de Oscar Niemeyer (1907-2012), Lucio Costa (1902-1998), Rino Levi (1901-1965) e Oswaldo Bratke (1907-1997) transparece de modo dessacralizado. Sem o compromisso com os cânones modernos, permanece a lógica do desenho com a racionalidade da modulação, orientando a estrutura e as subdivisões internas. Externamente, as construções se estabelecem em volumes prismáticos, a partir de retângulos de proporção alongada. Essa horizontalidade é compreendida pela intenção de que as ambiências concebidas assemelhem-se a uma imagem cinematográfica: à proporção do widescreen. Tais dimensões também permitem uma integração entre exterior e interior do edifício por meio de grandes planos – portas ou janelas – que deslizam e se recolhem.
Mesmo que as formas sigam uma lógica modernista, Kogan tem liberdade na seleção dos materiais que revestem os planos, resultando em uma diversidade de soluções. Cavalcanti ressalta a “concisão e casamento de materiais novos e tradicionais”4.
Márcio Kogan transita entre as linguagens arquitetônica e cinematográfica para construir suas obras. Embora a arquitetura seja sua formação e seu trabalho, o cinema vem ao encontro dela para registrar construções, e discutir sua finalidade como plataforma para as relações entre pessoas e com o espaço.
Notas
1. SERAPIÃO, Fernando. Kogan vs. Kogan. Monolito, São Paulo, n. 5-6, 2011. p. 36.
2. GRUNOW, Evelise. Entrevista: Marcio Kogan. Projeto Design, São Paulo, 31 jul. 2008. Disponível em: < http://arcoweb.com.br/projetodesign/entrevistas/marcio-kogan-nesta-entrevista-31-07-2008 >. Acesso em: 13 mai. 2014.
3. CAVALCANTI, Lauro. Os bons ventos de MK27. In: BIENAL de São Paulo (Org.). ConvivênciaConvivenza. Lucio Costa e Marcio Kogan. São Paulo: [s.n.], 2012. p.78.
4. Ibid., p. 82.
Exposições 4
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2/10/1971 - 31/10/1971
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21/4/2002 - 9/6/2002
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20/10/2004 - 14/11/2004
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20/10/2004 - 14/11/2004
Fontes de pesquisa 5
- BIENAL DE SÃO PAULO (org.). ConvivênciaConvivenza. Lucio Costa e Marcio Kogan. São Paulo: [s.n.], 2012.
- GRUNOW, Evelise. Entrevista com Marcio Kogan. Projeto Design, São Paulo, 31 jul. 2008. Disponível em: http://arcoweb.com.br/projetodesign/entrevistas/marcio-kogan-nesta-entrevista-31-07-2008. Acesso em: 13 mai. 2014.
- MONOLITO. Marcio Kogan. São Paulo: Editora Monolito, n. 5-6, 2011.
- STATHAKI, Ellie. An interview with architect Marcio Kogan. Wallpaper, London, 2010.
- STATHAKI, Ellie. Marcio Kogan Report. Wallpaper, London, 2010.
Como citar
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MARCIO Kogan.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa105202/marcio-kogan. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7