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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Hermano Penna

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 14.03.2022
Hermano Penna (Crato, Ceará, 1945). Diretor de cinema. Sua obra se caracteriza por filmes de contexto regional, sobretudo do Norte e Nordeste, com temáticas tradicionais, como o cangaço, o homem sertanejo e sua cultura, além da questão da terra e dos povos indígenas.     

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Hermano Penna (Crato, Ceará, 1945). Diretor de cinema. Sua obra se caracteriza por filmes de contexto regional, sobretudo do Norte e Nordeste, com temáticas tradicionais, como o cangaço, o homem sertanejo e sua cultura, além da questão da terra e dos povos indígenas.     

No início dos anos 1960, Penna frequenta o Clube de Cinema da Bahia, em Salvador, onde sua família se estabelece. Em 1965, muda-se para Brasília e trabalha no Instituto Central de Artes da Universidade de Brasília (IDA/UnB). Integra o projeto de recriação do curso de cinema da instituição, ocupada pelas forças do regime militar um ano antes, e realiza seu primeiro curta-metragem, o documentário em 16 mm CPI do Índio (1968).

Em 1969, muda-se para São Paulo e atua como assistente de direção no longa-metragem O Profeta da Fome (1970), do diretor de cinema Maurice Capovilla (1936-2021). No ano seguinte, incube-se das etapas do som do curta Visão de Juazeiro, dirigido por Eduardo Escorel (1945) e Sérgio Muniz (1935). Trata-se de episódio da série A Condição Brasileira, em projeto conhecido como Caravana Farkas1. Em 1974, colabora com o fotógrafo e diretor de cinema Jorge Bodanzky (1942) no argumento do longa Iracema, Uma Transa Amazônica, obra de referência da cinematografia nacional. Dois anos depois, dirige o docudrama A Mulher no Cangaço (1976), segundo episódio de uma série para o programa Globo Repórter, da Rede Globo.

Estreia como diretor no longa-metragem Sargento Getúlio (1983), ficção baseada em livro homônimo do escritor João Ubaldo Ribeiro (1941-2014). Para o autor José Carlos Monteiro, o filme é a “exasperada descrição de um itinerário – o de um brutal sargento e seu prisioneiro, pelas veredas do Sergipe”2. O crítico uruguaio Jorge Ruffinelli define o longa como uma impactante imagem do poder da repressão.

Trabalho mais prestigiado de Penna, o projeto em 16 mm se inicia em 1978, mas é lançado apenas em 1983, ampliado para 35 mm. A trama narra em chave épica a tarefa do militar ao conduzir um preso político da Bahia até a capital sergipana Aracaju. Com uma reviravolta política no país, Getúlio não obedece a ordem de soltar o condenado e passa a ser perseguido como insurgente.

Em 1988, assina seu segundo longa, o também ficcional Fronteira das Almas (1988). A trama parte de argumento próprio de um agricultor que enfrenta percalços para manter um pedaço de terra em Rondônia, e seu irmão, vítima de grileiros violentos no Pará. Segundo o crítico José Geraldo Couto, o filme é quase documental, uma denúncia a “um sistema de poderes e interesses que ameaça a integridade dos povos da região e seus meios de subsistência”3

A Amazônia segue como cenário de sua terceira direção, Mário (1999), que reflete a vida de um homem urbano desiludido, que abandona a mulher e viaja ao acaso até chegar à região, onde depara com diversos desafios e problemas. É um filme de aprendizado, que contorna e expõe contradições, soluciona impasses, sem apresentar conciliação.

De mesmo conceito de road movie existencial é Voo Cego Rumo ao Sul (2004), longa de ficção adaptado por Penna de livro do escritor e jornalista Sinval Medina (1943). Na obra, quatro militantes deixam o Rio de Janeiro em direção a Porto Alegre em 1º de abril de 1964, data oficial da instauração da ditadura militar no país (1964-1985)4

A tragédia Édipo Rei, de Sófocles (496-406 a.C.), é inspiração para o longa seguinte, Olho de Boi (2007). Transposto para o sertão, o mito se desenvolve na trajetória de dois peões em busca de vingança, o mais velho atormentado pela suspeita de traição da mulher com o irmão. O uso expressivo de luz nos planos de movimento dos personagens remete à noção de teatralidade.

Os dois longas posteriores levam Penna ao reencontro de um de seus universos prediletos, o cangaço, vinculados pela mesma personagem e uma casualidade do passado. Quando filma A Mulher no Cangaço, o diretor descobre a figura do sergipano José Francisco do Nascimento (1918-1961), o Zé de Julião – o Cajazeira do bando de Lampião (1898-1938). No projeto ficcional Aos Ventos que Virão (2012), o filho de proprietário de terras, cangaceiro, candango em Brasília e depois político, se chama Zé Olímpio. Com o fim do cangaço, o protagonista trabalha na construção civil em São Paulo, depois retorna ao local de origem, em Sergipe, onde se candidata a cargo público e passa a combater a corrupção. Zé de Julião – Muito Além do Cangaço (2016) recupera no modelo documental, em um retrato da vida social e política brasileira, o percurso incomum desse herdeiro do latifundiário, Julião, até seu misterioso assassinato.

De filmografia relativamente econômica no que tange à direção, Hermano Penna mantém fidelidade e genuíno interesse pela cultura nordestina. Em sua produção, segue atento a um universo histórico e rico do passado da região, buscando os pontos de contato com a atualidade.   


Notas

1. A série de 20 documentários em curta-metragem denominada inicialmente A Condição Brasileira é produzida na década de 1960 pelo fotógrafo e diretor de cinema Thomaz Farkas (1924-2011). Entre 1968 e 1970, ele lidera a ida de um grupo de jovens realizadores ao Nordeste, registrando aspectos e manifestações da cultura popular. Surge daí o nome informal de Caravana Farkas.

2. MONTEIRO, José Carlos. História Visual do Cinema Brasileiro. Rio de Janeiro: Funarte/Atração, 1996.

3. COUTO, José Geraldo. As Chagas Abertas da Amazônia. In: 6ª MOSTRA ECOFALANTE DE CINEMA AMBIENTAL, 22 maio 2017, São Paulo. Catálogo. São Paulo: Ecofalante, 2017.

4. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

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