Clube de Gravura de Porto Alegre
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Histórico
A fundação do Clube de Gravura de Porto Alegre em 1950 dá-se no interior de um movimento de renovação das artes no Estado do Rio Grande do Sul que remonta aos anos de 1930, à criação da Associação Antonio Francisco Lisboa (1938) - que se opõe ao Instituto de Belas Artes - e à intensa atuação da Editora Globo, que, com a Livraria e a revista Globo, tem papel decisivo no incremento das artes visuais e da literatura na região, auxiliando na divulgação das conquistas estéticas do modernismo de 1922. Carlos Scliar (1920-2001), um dos principais membros do Clube de Gravura, atua, desde 1940, como importante intermediário entre os artistas de São Paulo e do sul do país. Membro da Família Artística Paulista - FAP, ele é responsável por levar ao Rio Grande do Sul um grupo de artistas e pintores no período, com vistas a incentivar a modernização artística local. A ânsia de atualização técnica e formal combina-se ao entusiasmo pelo realismo social e pelo engajamento das artes na criação dos Clubes de Gravura de Porto Alegre e de Bagé (1951). Vasco Prado (1914-1998), parceiro de Scliar na formação do grupo da capital, em Paris em 1947, entra em contato com a experiência do Taller Grafica Popular (TGP), do México, forte inspiração para os clubes de gravura gaúchos. As obras de Lasar Segall (1891-1957) e Candido Portinari (1903-1962) constituem outras referências importantes para os artistas sulistas. Deve-se lembrar que José de Morais (1946), integrante do Clube de Bagé, havia colaborado com Portinari no conjunto da Pampulha, projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012), entre 1942-1944, na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais.
Uma atitude claramente programática e o uso de técnicas como a xilogravura e linoleogravura definem o perfil do grupo, do qual participam Glênio Bianchetti (1928), Danúbio Gonçalves (1925) e Glauco Rodrigues (1929-2004), entre outros. A defesa da arte figurativa - contra "as manifestações cosmopolitas e antinacionais do abstracionismo", nos termos de Vasco Prado -, a temática regional gauchesca e o folclore, o registro da vida do trabalhador rural e urbano, assim como as lutas da classe trabalhadora e a tentativa de levar a arte ao povo, constituem as molas mestras do projeto do Clube de Gravura de Porto Alegre. Scliar é enfático: "É propósito do Clube de Gravura não só o desenvolvimento dessas técnicas entre os nossos artistas, como a divulgação do gosto pela gravura entre camadas cada vez mais vastas de nosso povo". A gravura - sobretudo a xilo e a linoleogravura - parece se prestar com perfeição a esses propósitos pela facilidade com o que o trabalho pode ser reproduzido e divulgado em livros, jornais, revistas e cartazes. Na medida em que descarta por princípio a "obra única", a gravura como técnica coloca-se a serviço das causas sociais e da formação do povo, haja vista seu lugar destacado na Revolução Mexicana e também na experiência da China popular. Esse é o mote de uma série de artigos veiculados nas revistas culturais de esquerda da época, por exemplo, aquele publicado na Fundamentos, nº 12, de 19 de fevereiro de 1950, que trata a gravura como "arma de combate", destacando o sentido revolucionário dos gravadores chineses.
Após cinco anos de intensa atuação, os artistas envolvidos com o Clube de Gravura de Porto Alegre avaliam ter cumprido seus propósitos, criando uma tradição de gravura no país e chamando a atenção dos artistas para a realidade social. A disseminação da experiência em outros Estados e cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo, Santos e Recife, parece atestar, segundo eles, o êxito da experiência. Tal avaliação leva-os ao encerramento das atividades do clube, em 1955, que, enquanto durou, angariou vários adeptos. Além dos artistas mencionados, participam também da experiência: Edgar Koetz (1914-1969), Plínio Bernhardt (1927-2004), Carlos Antônio Mancuso (1930), Charles Mayer (1933) Charles Mayer (1933) e Fortunato (1916-2004). As principais críticas dirigidas à produção realizada sob a égide do Clube de Gravura de Porto Alegre referem-se a seu progressivo sectarismo e à rigidez de sua orientação.
Exposições 2
Fontes de pesquisa 3
- AMARAL, Aracy. Arte para quê?: a preocupação social na Arte brasileira 1930-1970: subsídio para uma história social da Arte no Brasil. São Paulo: Nobel, 1984.
- TORRESINI, Elisabeth Rochadel. Editora Globo. São Paulo ; Porto Alegre: EDUSP ; Editora da UFRGS, 1999.
- ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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CLUBE de Gravura de Porto Alegre.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/instituicao335918/clube-de-gravura-de-porto-alegre. Acesso em: 12 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7