Editora José Olympio
Texto
A Editora José Olympio é fundada em 1931 na cidade de São Paulo, pelo editor José Olympio (1902-1990). Inicialmente dedicada à produção literária, ganha destaque no meio editorial com a publicação de obras de pensadores brasileiros de diferentes posicionamentos políticos e pela preocupação com os direitos autorais.
A produção da editora inicia-se em 1931 com a publicação de Conhece-te pela Psicanálise [How to Psychoanalyse Yourself], do norte-americano Joseph Ralph, que obtém grande êxito comercial, permanecendo no catálogo por cerca de 20 anos.
Estreia no ramo literário com o lançamento de A Ronda dos Séculos (1920), do escritor Gustavo Barroso (1888-1959), em 1933. No ano seguinte, a editora alcança sucesso comercial com a obra de ficção Os Párias, de Humberto de Campos (1886-1934). Ainda nesse período, publica os romances Menino de Engenho (1932) e Bangüê (1934), de José Lins do Rego (1901-1957), em tiragens de 5 mil e 10 mil exemplares, respectivamente, quantidade ambiciosa para a época. O fato de pagar adiantado os direitos autorais, algo incomum até então, fomenta sua credibilidade no meio cultural.
Devido à estagnação econômica de São Paulo, decorrente da instabilidade política após a Revolução Constitucionalista de 19321, a editora transfere-se para o Rio de Janeiro em 1934. Em meio à efervescência da capital federal, a "Casa", como é conhecida por seus frequentadores, transforma-se em ponto de encontro da intelectualidade brasileira, abrigando figuras de posicionamentos políticos contrários. A consolidação da editora se dá por meio das obras de intelectuais brasileiros, referências em estudos sobre a formação da sociedade do país, como Sérgio Buarque de Hollanda (1902-1982), que publica Raízes do Brasil (1936), e Gilberto Freyre (1900-1987), além de ficcionistas como Guimarães Rosa (1908-1967) e Clarice Lispector (1920-1977).
Apesar da proximidade com o presidente Getúlio Vargas (1882-1954), a Editora José Olympio lança romances de autores contrários ao Estado Novo, como Jorge Amado (1912-2001) e Graciliano Ramos (1892-1953). O extenso leque ideológico das obras também contribui para a editora tornar-se a maior do Brasil já no final dos anos 1930.
Na década de 1940, aposta na publicação de obras consideradas clássicas na literatura mundial, lançando traduções de autores como Honoré de Balzac (1799-1850) e Fiódor Dostoiévski (1821-1881).
Nos anos 1960, mantém no catálogo escritores de posições políticas diferentes, publicando obras de autores de esquerda e livros como Geopolítica do Brasil (1966), do general Golbery do Couto e Silva (1911-1987), figura influente na ditadura militar (1964-1985)2.
Ainda nesse período, há uma grande expansão comercial, em que a editora investe em coleções vendidas de porta em porta, a crediário, e na assinatura de contratos com o governo para venda e distribuição de material didático.
Com o aumento no preço do papel, derivado da crise mundial do petróleo, em 1973, a Editora José Olympio apresenta dificuldades financeiras e, em meados da década de 1980, é comprada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em 2001, o Grupo Record adquire a editora, e o selo passa a contar com um catálogo de quase 600 títulos.
Marcando o cenário editorial brasileiro desde a década de 1930, a Editora José Olympio é lembrada por sua abrangência ideológica no catálogo e pela publicação de obras que são referências em estudos sobre a sociedade do país.
Nota
1. A Revolução Constitucionalista de 1932 é um movimento armado motivado pelas insatisfações de setores políticos paulistas com o governo provisório de Getúlio Vargas, exigindo uma nova Constituição para o Brasil. Os embates entre as forças paulistas e nacionais acontecem entre os meses de julho e outubro de 1932.
2. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 4
- HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. Tradução Maria da Penha Villalobos e Lólio Lourenço de Oliveira. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1985.
- PAIXÃO, Fernando (Coord.). Momentos do livro no Brasil. São Paulo: Ática, 1997.
- TRIGO, Luciano. Uma trajetória de amor aos livros. G1, Rio de Janeiro, 28 jul. 2008. Disponível em: http://g1.globo.com/platb/maquinadeescrever/2008/07/28/uma-trajetoria-de-amor-aos-livros/. Acesso em: 14 abr. 2021.
- VILLAÇA, Antônio Carlos. José Olympio: o descobridor de escritores. Rio de Janeiro: Thex Editora, 2001.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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EDITORA José Olympio.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/instituicao113425/editora-jose-olympio. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7