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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Augusto Calheiros e os Turunas da Mauricéia

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 17.04.2023
1926 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
1930
Sob patrocínio do jornal Correio da Manhã apresentam-se em 22 de janeiro de 1927 no Teatro Lírico do Rio de Janeiro, ainda sem Luperce. O periódico promove, desde 1926, uma coluna dedicada à publicação de poemas, contos, músicas e textos explicativos sobre cultura popular, com participação de Sílvio Romero (1851-1914), Catulo da Paixão Cearense ...

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Augusto Calheiros e os Turunas da Mauricéia (1926-1930). Conjunto vocal e instrumental formado por Augusto Calheiros (1891-1956), Manuel de Lima (?-1943), Periquito (João Frazão), e pelos irmãos João, Romualdo (1887-1930) e Luperce Miranda (1904-1977). Os três irmãos iniciam a carreira musical em orquestra caseira montada pelo pai, o pianista, bandolinista e violonista João Pessoa de Miranda. Em 1921, Romualdo e João Frazão participam do bloco Os Boêmios, matriz do conjunto Turunas Pernambucanos, do qual também fazem parte Jararaca (1986-1977) e Ratinho (1896-1972). Como integrantes desse bloco, apresentam-se no Teatro Moderno de Recife, ao lado do grupo carioca Oito Batutas. A convite de Pixinguinha (1897-1973), fazem temporada no Rio de Janeiro em 1922. Em 1926, em Recife, formam os Turunas da Mauricéia, alusão ao nome da cidade durante a ocupação holandesa no século XVII.

Sob patrocínio do jornal Correio da Manhã apresentam-se em 22 de janeiro de 1927 no Teatro Lírico do Rio de Janeiro, ainda sem Luperce. O periódico promove, desde 1926, uma coluna dedicada à publicação de poemas, contos, músicas e textos explicativos sobre cultura popular, com participação de Sílvio Romero (1851-1914), Catulo da Paixão Cearense (1863-1946), João Pernambuco (1883-1947), Patrício Teixeira (1893-1972) e outros. Em fevereiro de 1927, lança o concurso O que é nosso, no qual os Turunas recebem amplo reconhecimento, e Augusto Calheiros é eleito vencedor da categoria cantor de música regional. Entre os números executados, estão os sambas “Helena” (Augusto Calheiros), “Indurinha do Coqueiro”, “Samba do Caná”, “Pandeiro Furado”, “Pequeno Tururu”(Augusto Calheiros, Luperce Miranda), a canção “Na Praia” [Raul Morais (1891-1937)], e a valsa “Único Amor” (Alfredo Medeiros e Armando Gayoso). A presença de palco é marcada por trajes típicos nordestinos, com chapéus de abas largas onde se leem seus apelidos. O sucesso maior vem no carnaval de 1928, com a embolada (registrada no selo do disco como samba) “Pinião”, de Augusto Calheiros e Luperce Miranda. Em pouco tempo, conquistam espaço em revistas teatrais, no rádio e na indústria fonográfica, gravando ao todo 18 discos.

O terreno para o sucesso do conjunto sedimenta-se na década anterior, pela apropriação de temas folclóricos para o teatro de revista e o destaque do Grupo de Caxangá. A partir dos anos 1910, valsas, mazurcas, cançonetas francesas convivem lado a lado com maxixes, canções sertanejas e outros gêneros regionais. Com os Turunas, ganham força os ideais compartilhados pelos colunistas que promovem o concurso e outros intelectuais. Entre eles, o musicólogo Mário de Andrade (1893-1945), pesquisador do popular como fonte da criação artística nacional, que lhe dedica algumas linhas de crítica da estrutura rítmica da embolada “Pinião” em seu Ensaio Sobre a Música Brasileira (1928).

Apesar de considerado representante da música regional e reação aos gêneros estrangeiros, o grupo absorve referências musicais urbanas, mesclando diversas sonoridades. Em “O que É Nosso”, catalogado como samba, a instrumentação é marcada pela sanfona; em determinado trecho, o andamento é de valsa, depois acelera, culminando num charleston de feições jazzísticas. O repertório evidencia um momento em que os gêneros ainda estão sendo definidos pela indústria fonográfica. “Pandeiro Furado” (1927), cujo selo o classifica como samba, é a rigor um maxixe. Assim como as valsas, modinhas e modas de viola são catalogadas como canção, a exemplo de “Amor Secreto” (1927), de Romualdo Miranda e “Belezas do Sertão” (1927), de Luperce Miranda e Augusto Calheiros. Ou são catalogadas como samba, como “Bela Dama” (1927) e “Estás Com Medo Fala” (1927), de Augusto Calheiros.

O conjunto fortalece a vertente regionalista e inspira a criação de outros, como o Bando de Tangarás e os Turunas Paulistas. Quando se desfaz, em 1930, Augusto Calheiros e Luperce Miranda seguem carreira solo. Luperce torna-se instrumentista de renome, participando de gravações célebres, como a segunda do choro “Carinhoso” (1934), de Pixinguinha e o samba “Na Pavuna” (1929) do grupo Bando de Tangarás. Com o slogan radiofônico de “A Patativa do Norte”, Augusto Calheiros torna-se cantor de sucessos como “Mané Fogueteiro”, de João de Barro (1907-2006); “Chuá Chuá”, de Pedro Sá (1892-?) e Ary Pavão; “Revendo o Passado”, de Freire Júnior (1881-1956); “Do Pilá”, de Jararaca, Augusto Calheiros e Zé do Bambo e “Ranchinho Abandonado”, de Carlos Lentini e Nei Orestes (1900-1980). O cantor cearense Fagner (1949) considera Calheiros uma de suas maiores influências.

Fontes de pesquisa 8

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  • ACERVO fonográfico do Instituto Moreira Salles. Disponível em: < http://acervo.ims.uol.com.br/ >. Acesso em: 30 dez. 2013.
  • ALMIRANTE (Henrique Foreis Domingues). No Tempo de Noel Rosa. 3 ed. Rio de Janeiro: Sonora, 2013.
  • ANDRADE, Mário de. Ensaio sobre a música brasileira. 4 edição. Belo Horizonte: Itatiaia, 2006.
  • BESSA, Virgínia de Almeida. Pelo que é nosso. In: A escuta singular de Pixinguinha. História e música popular no Brasil dos anos 1920 e 1930. São Paulo: Alameda, 2010. p. 95-126.
  • NAVES, Santuza Cambraia. O violão azul: modernismo e música popular. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,1998.
  • NEPOMUCENO, Rosa. Música Caipira: da roça ao rodeio. São Paulo: Editora 34, 1999.
  • TABORDA, Marcia. O violão no Rio de Janeiro: um instrumento nacional? In: Anais do XVII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música. São Paulo: Unesp, 2007. Disponível em: < http://www.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2007/etnomusicologia/etnom_MTaborda.pdf >. Acesso em 20 dez. 2013.
  • TONI, Flavia Camargo (org.). A música popular brasileira na vitrola de Mário de Andrade. São Paulo: Ed. Senac, 2004.

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