À Flor da Pele
![À Flor da Pele, 1969 [Enciclopédia de Teatro. Espetáculo]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/007998001019.jpg)
À Flor da Pele, 1969
Rodrigo Whitaker Salles
Acervo Idart/Centro Cultural São Paulo
Texto
Histórico
Primeiro texto encenado de Consuelo de Castro (1946), autora que faz parte da chamada "geração de 1969", ao lado de Antônio Bivar (1939), Leilah Assumpção (1943), José Vicente (1945-2007) e Isabel Câmara (1940-2006).
Em 1968, Consuelo escreve À Prova de Fogo, peça que enfoca o movimento estudantil no auge de sua mobilização. Com o título alterado para A Invasão dos Bárbaros, a obra vence o Concurso de Dramaturgia do Serviço Nacional de Teatro (SNT), em 1975.
À Flor da Pele é sua segunda obra, na qual contrapõe um intelectual de esquerda a uma jovem estudante de teatro; eles vivem um caso amoroso, uma relação fora dos padrões, o que desencadeia um permanente questionamento mútuo. A ideologia, de fato, é o grande tema abordado no texto de Consuelo. Materializa-se principalmente nas diferenças que ambas as personagens exibem no tocante a suas vidas, seus valores, modos de ver e viver o mundo. Verônica, em seu paroxismo, encontra, num suicídio altamente teatral, um meio tanto para chamar a atenção quanto para mergulhar de vez no irracionalismo pelo qual está dominada.
A montagem inaugura o Teatro Paiol, empreendimento de Miriam Mehler (1935) e Perry Salles. Ela vive Verônica, jovem atriz rebelde e inconformada, amante de Marcelo, um professor de teatro casado e de meia-idade, papel defendido por ele. Para abrigar a montagem, o cenógrafo Tulio Costa cria o ambiente de um apartamento moderno e mal arrumado, onde uma bandeira na parede traz a inscrição: "seja realista, peça o impossível", slogan largamente disseminado pelos estudantes franceses do movimento de maio de 1968. Essa montagem enquadra-se numa categoria rara na obra do diretor Flávio Rangel (1934-1988): a direção de atores suplanta a do espetáculo.
Para Mario Schenberg (1914-1990), "Verônica é um personagem trágico de extraordinária vitalidade e profunda verdade. Além de estudante e artista, é de família burguesa rica, habituada aos confortos e requintes permitidos pela civilização tecnológica de hoje. Está numa situação privilegiada para sentir com grande intensidade o esvaziamento das motivações existenciais decorrentes da exaustão dos valores tradicionais da cultura ocidental. É porém como mulher que o drama de Verônica atinge talvez a maior pungência, atingida pela crise da família e pelas sobrevivências de um patriarcalismo arcaico. (...) As peças de Consuelo são pioneiras de um novo tipo de teatro brasileiro, voltado para os estudantes e os intelectuais jovens, setores sociais de influência rapidamente crescente em todo o mundo".1
Flávio Rangel ganha em 1969 o Prêmio Molière de melhor direção pelo conjunto da obra, composto por À Flor da Pele e Esperando Godot, de Samuel Beckett, último espetáculo de Cacilda Becker (1921-1969).
A peça origina o filme homônimo de Francisco Ramalho, em 1976, com Juca de Oliveira (1935) e Denise Bandeira nos papéis centrais.
Notas
1 SCHENBERG, Mário. Uma autodestruição desesperadamente lúcida. In: CASTRO, Consuelo de. Urgência e ruptura. São Paulo: Perspectiva, 1989. p. 521-524.
Ficha Técnica
Consuelo de Castro (Prêmio da Associação Paulista de Críticos Teatrais, APCT, para revelação de autor nacional)
Direção
Flávio Rangel
Direção (assistente)
Consuelo de Castro
Cenografia
Tulio Costa
Figurino
Dalva de Castro
Elenco
Clemente Viscaíno / Voz
Miriam Mehler / Verônica
Perry Salles / Marcelo
Obras 1
Fontes de pesquisa 6
- CASTRO, Consuelo de. Urgência e ruptura. São Paulo: Perspectiva, 1989.
- MAGALDI, Sábato. Moderna dramaturgia brasileira. São Paulo: Perspectiva, 1998.
- MICHALSKI, Yan. Consuelo de Castro. In: ______. Pequena enciclopédia do teatro brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro, 1989. Material inédito, elaborado em projeto para o CNPq.
- SCHENBERG, Mário. Uma autodestruição desesperadamente lúcida. In: CASTRO, Consuelo de. Urgência e ruptura. São Paulo: Perspectiva, 1989.
- SIQUEIRA, José Rubens. Viver de teatro: uma biografia de Flávio Rangel. São Paulo: Nova Alexandria, 1995.
- À flor da pele. Direção Flávio Rangel. São Paulo, 1969. 1 folder. Programa do espetáculo, apresentado no Teatro Paiol em 1969.
Como citar
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À Flor da Pele.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/evento399206/a-flor-da-pele. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7