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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Trompe l'oeil

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 24.02.2017
Recurso técnico-artístico empregado com a finalidade de criar uma ilusão de ótica, como indica o sentido francês da expressão: tromper, "enganar", l'oeil, "o olho". Seja pelo emprego de detalhes realistas, seja pelo uso da perspectiva e/ou do claro-escuro, a imagem representada com o auxílio do trompe l'oeil cria no observador a ilusão de que el...

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Definição

Recurso técnico-artístico empregado com a finalidade de criar uma ilusão de ótica, como indica o sentido francês da expressão: tromper, "enganar", l'oeil, "o olho". Seja pelo emprego de detalhes realistas, seja pelo uso da perspectiva e/ou do claro-escuro, a imagem representada com o auxílio do trompe l'oeil cria no observador a ilusão de que ele está diante de um objeto real em três dimensões e não de uma representação bidimensional. O objetivo do procedimento é, portanto, alterar a percepção de quem vê a obra. O termo, ainda que de início aplicado à pintura de períodos em que predomina o naturalismo - por exemplo, na Grécia Antiga e no Renascimento italiano, se generaliza no vocabulário crítico e passa a referir-se a qualquer forma de ilusionismo acentuado empregado nas artes. Na arquitetura, a decoração ilusionista em que a pintura de forros e paredes altera a percepção do tamanho do espaço (denominada quadratura), é considerada um tipo de trompe l'oeil. Andrea Pozzo (1642 - 1709) é um dos maiores praticantes desse ilusionismo decorativo, típico do barroco. Seu mais importante trabalho de quadratura é o enorme afresco Alegoria da Obra Missionária dos Jesuítas, 1691/1694, no forro da igreja de S. Ignazio, em Roma.

Na arte grega, o nome de Parrásio, pintor ativo no fim do século V a.C., se destaca pela particular habilidade com que emprega os contornos e representa as expressões faciais, recursos que ajudam a transmitir o caráter do retratado. A grande mestria do artista no emprego do ilusionismo é registrada nas anedotas do enciclopedista romano Plínio (ca.23 - 79 d.C). Na Renascença, o trompe l'oeil se generaliza na exploração dos jogos entre imagem e realidade, entre bi e tridimensionalidade. Os avanços da perspectiva renascentista - técnica de representação do espaço tridimensional numa superfície plana de modo que a imagem obtida se aproxime daquela que se apresenta à visão -, amparados pelas conquistas da geometria e da ótica, têm papel decisivo nos efeitos ilusionistas, embora nem sempre o uso desses recursos implique o trompe l'oeil propriamente dito.

trompe l'oeil é amplamente utilizado em diferentes contextos e períodos, ao longo da história da pintura. Célebres exemplos são: o Retrato de um Cartuxo, ca.1446, do pintor neerlandês Petrus Christus (ca.1410 - ca.1475), em cuja base figura uma mosca feita nessa técnica; Pintor com Cachimbo e Livro, do holandês Gerrit Dou (1613 - 1675), conhecido por seus interiores detalhados, com figuras enquadradas por janelas e cortinas que parecem reais; Trompe L'Oeil, 1750, do suíço atuante na Inglaterra Henry Fuseli (1741 - 1825), explicita o uso do recurso no papel pintado, que parece colado sobre a tela. Nos Estados Unidos, alguns artistas se notabilizam pelo uso sistemático da técnica, como William Harnett (1848 - 1892) - que se especializa no trompe l'oeil em elaboradas composições com instrumentos musicais, Violino, 1886, e armas de fogo, Após a Caçada, 1885 - e John Frederick Peto (1854 - 1907), com naturezas-mortas que simulam realidade.

Se a arte moderna - cujo trajeto no século XIX acompanha a curva definida pelo romantismo, realismo e impressionismo - se define por uma atitude crítica em relação às convenções artísticas, entre elas, a perspectiva e todas as formas de ilusionismo, o trompe l'oeil é retomado por alguns artistas e movimentos de vanguarda com sentido humorístico e/ou crítico. Na verdade, os exemplos modernos e contemporâneos citam o trompe-l'oeil precisamente para subvertê-lo. A obra do pintor belga René Magritte (1888 - 1971), um dos grandes expoentes do surrealismo, é exemplar nessa direção. Seus trabalhos exploram ao limite as ambigüidades entre o objeto real e sua representação, seja pela figuração de um objeto cuja presença é desafiada pela frase "Isto não é um cachimbo" (1928-1929), seja pela representação de pinturas dentro de pinturas (A Condição Humana), seja pela confusão proposital entre interior e exterior, entre dia e noite.

A arte contemporânea, como sabido, coloca em questão o caráter das representações artísticas e a própria definição de arte, por meio de inúmeras soluções e recursos. Um dos caminhos utilizados na tematização crítica da representação artística pode ser encontrado no hiper-realismo, popular nos Estados Unidos e na Inglaterra desde a década de 1960, em que a fotografia é utilizada na composição das obras, de modo que elas adquiram precisão e riqueza de detalhes, como Chuck Close, 1940. A atenção extrema à reprodução fiel da realidade produz geralmente, e de modo paradoxal, um sentimento de irrealidade.

Ainda que não pareça fácil localizar na arte brasileira nomes que se destaquem pelo uso específico do trompe l'oeil, recursos ilusionistas podem ser encontrados em diversas fases da produção artística nacional. Entre as inúmeras realizações do barroco brasileiro, por exemplo, é possível lembrar os efeitos ilusionistas empregados no teto da nave da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, 1767, por um dos mais talentosos pintores do período, Manoel da Costa Athaide (1762 - 1830).

Fontes de pesquisa 3

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  • CHILVERS, Ian (org.). Dicionário Oxford de arte. Tradução Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
  • La nuova enciclopedia dell'arte Garzanti. Milano: Garzanti, 1986.
  • MARCONDES, Luiz Fernando. Dicionário de termos artísticos. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1998. 381 p., il. p&b.

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