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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Arte rupestre

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.04.2020
Do francês rupestre, o termo designa gravação, traçado e pintura sobre suporte rochoso, qualquer que seja a técnica empregada. Considerada a expressão artística mais antiga da humanidade, a arte rupestre é realizada em cavernas, grutas ou ao ar livre. Estão excluídas as manifestações artísticas contemporâneas como o graffiti e a arte ambiental. ...

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Definição
Do francês rupestre, o termo designa gravação, traçado e pintura sobre suporte rochoso, qualquer que seja a técnica empregada. Considerada a expressão artística mais antiga da humanidade, a arte rupestre é realizada em cavernas, grutas ou ao ar livre. Estão excluídas as manifestações artísticas contemporâneas como o graffiti e a arte ambiental. Alguns especialistas criticam o uso do termo "arte" para fazer referência às inscrições sobre pedra que remontam, em geral, aos povos de épocas pré-históricas, na medida em que pinturas e gravuras descobertas pelas pesquisas arqueológicas nem sempre teriam, hoje, um sentido estético evidente. Apesar disso, convenciona-se chamar de "arte" essas expressões plásticas que fornecem acessos valiosos para o estudo de várias fases da história da humanidade. Outros estudiosos alertam para o equívoco de considerar a arte rupestre como restrita à pré-história. Se exemplos mais antigos remontam aos tempos glaciais, é possível localizá-la nas eras neolítica e paleolítica e até mesmo em épocas recentes, indicam eles. Na Califórnia e no sul da África, por exemplo, a arte rupestre continua a ser produzida no século XIX.

Pinturas e gravuras rupestres apresentam-se em diferentes épocas e lugares. A dispersão geográfica, aliada às dificuldades de conservação desses grafismos, é um dos problemas colocados em seu estudo. Avaliações numéricas aproximadas calculam de 350 mil a 400 mil sítios arqueológicos com arte rupestre em todo o mundo. A África é o continente mais expressivo, com algo em torno de 100 mil sítios, pertencentes a épocas mais recentes, como os localizados na região do Saara e na região sul (Tanzânia, Angola, Namíbia e Zimbábue). A Austrália é outro território rico em arte rupestre (região de Laura, Pilbara e terra de Arnhem - Parque Nacional de Kakadu). A Ásia, por sua vez, é o menos conhecido, fala-se em 10 mil sítios na China, além dos existentes na Ásia Central, Oriente Próximo e Índia. As Américas - do Canadá à Patagônia - apresentam diversos sítios arqueológicos importantes. No Brasil, os sítios de São Raimundo Nonato, no Piauí, são os mais antigos (ver Fundação Museu do Homem Americano - Fumdham). Os exemplares europeus são mais recentes - a localização de Altamira, na Espanha, data do século XIX - e sobre eles os pesquisadores se detêm por mais tempo. Isso faz com que se considerasse, durante algum tempo, ser a arte rupestre européia a mais antiga. A despeito dos de Chavet, na França (região de Ardèche) e de La Viña (Astúrias, Espanha), parecem se localizar na Austrália (Carpenter's Gap, Kimberley) os exemplos mais remotos de arte rupestre (entre 30 mil e 40 mil anos). De qualquer maneira, as controvérsias em torno da datação permanecem apesar dos novos métodos de aferição com radiocarbono.

Ainda que os estudos mencionem ser a arte rupestre mais freqüentemente realizada ao ar livre, a arte das cavernas do paleolítico europeu é a que conhece maior popularidade (como a gruta de Lascaux, na França). A escolha dos espaços - grutas, fissuras de rochas, proximidade de lagos e outros -, longe de casual, está repleta de sentidos. Há uma tendência a interpretar as pinturas realizadas com auxílio de tochas na escuridão das cavernas, por exemplo, como feitas por xamãs em estado de transe. Divergências à parte, o fato é que o meio natural e suas relações com o mundo sobrenatural são elementos fundamentais para a análise dessas manifestações gráficas, cercadas de significados rituais, religiosos e cerimoniais.

As técnicas empregadas constituem outro aspecto explorado pelas análises. A pintura parece ter sido a realização mais antiga, mesmo que as gravuras - quando a forma é obtida pela retirada de matéria ou por incisões - sejam mais numerosas (vale lembrar que as pinturas ao ar livre praticamente desapareceram). Os traços podem ser feitos com os dedos ou com a ajuda de utensílios; as cores, obtidas do carvão (preta), do óxido de ferro (vermelha e amarela) e, às vezes, com cera de abelha. Substâncias líquidas - água, clara de ovo, sangue etc. - são empregadas nas pinturas. Às diferentes técnicas e cores (muitas vezes superpostas) são atribuídos sentidos variados. No sul da Califórnia, por exemplo, o vermelho é considerado apropriado às cerimônias femininas.

Do ponto de vista do repertório, a arte rupestre compreende temas considerados universais. As linhas e os traços circulares, em geral gravados sobre a pedra, são fartamente utilizados: no Havaí estão associados à fertilidade, sendo considerados freqüentemente femininos; na Califórnia, apresentam-se ligados a formas de controle do tempo. Mãos e pés, juntos ou isolados, assim como pegadas de animais são outra recorrência. Alguns são vistos como ligados à mitologia, outros interpretados como "assinaturas". Sobre os signos abstratos - linhas, ziguezagues, grafismos e formas geométricas - recaem as maiores dúvidas interpretativas (afinal, de que falam eles?).

Formas humanas e animais, por sua vez, abundam na arte rupestre. Também se fazem presentes figuras fantásticas, objetos e cenas, domésticas ou de trabalho. A falta de registros sobre boa parte das sociedades que produziram arte rupestre, a ambigüidade dos símbolos e as dificuldades em separar o universo profano do religioso colocam problemas para os intérpretes que mesmo assim, arriscam classificações. Fala-se em arte que "afirma uma presença" (indicando uma forma de dizer "estive" ou "estivemos aqui") por meio da representação de mãos, pés e figuras; e em outra que tem o sentido de "testemunho", na medida em que representa visualmente narrativas, eventos, cenas e mitos. Certos grafismos parecem representar mais diretamente o xamanismo; outros indicam formas de intervenção no mundo. Do ponto de vista de seus realizadores, classifica-se a arte rupestre mundial como a dos povos "caçadores-coletores arcaicos" (as cenas são raras; os animais e signos, freqüentes); a dos "caçadores evoluídos" (cenas numerosas); a dos "criadores de rebanhos" (com animais domésticos e cenas da vida cotidiana) e das "sociedades complexas" (mais variadas, com representações mitológicas e signos de todos os tipos). Em termos de estilo, fala-se no levantino (entre 6.000 e 4.000 a.C.) - quando a figura humana ganha importância e sua representação vem acompanhada de grande movimento, em cenas de dança, luta e caça - e na arte esquemática (localizada no fim da Idade do Bronze, entre 4.000 e 1.000 a.C.), quando ocorre maior simplificação e esquematização do desenho. As representações figuradas - homens e animais - convivem aí com uma profusão de inscrições abstratas.

Mídias (1)

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O Ateliê de Luzia - Arte Rupestre no Brasil - Rumos Cinema e Vídeo 2001-2002
Trecho do documentário "O Ateliê de Luzia - Arte Rupestre no Brasil" de Marcos Jorge que retrata as conclusões atuais da arqueologia no que se refere aos vestígios visuais do homem brasileiro. A sociedade brasileira é investigada desde suas origens, abordando os limites entre arte e ciência na interpretação das pinturas rupestres até sua expressão mais atual, as pichações nas grandes cidades. Esse vídeo recebeu apoio financeiro para sua produção através do programa Rumos Cinema e Vídeo 2001-2002.

Fontes de pesquisa 4

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  • ANTES - Histórias da Pré-História. Concepção Marcelo Dantas; curadoria Niéde Guidon, Anne-Marie Pessis, Gabriela Martin; tradução Gavin Adams. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2004. 300 p., il. color.
  • CLOTTES. Jean. Les musées des roches. L'art rupestre dans le monde. Paris: Seuil, 2000, 119 p. il. p&b. color.
  • GUIDON, Niéde. Peintures pré-historiques du Brésil. L'art rupestre du Piauí. Paris: EN, 1991, 109pp. Il. p&b. color.
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.

Como citar

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