Tachismo
![Ponte do Sonho, 1984 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/009317001019.jpg)
Ponte do Sonho, 1984
Manabu Mabe
Acrílica sobre tela, c.i.d.
86,00 cm x 102,00 cm
Texto
Definição
Menos que um movimento pictórico com traços facilmente reconhecíveis, o tachismo remete a uma tendência artística que finca raízes na Europa no período após a Segunda Guerra Mundial, 1939-1945. O termo - que vem do francês tache, "mancha" - é criado pelo crítico Michel Tapié no livro Un Art Autre [Uma Arte Outra] para tentar definir o novo estilo de pintura que recusa qualquer tipo de formalização, rompendo com as técnicas e os modelos anteriores. Arte informal (no sentido de sem forma) é outra designação corrente para o tachismo, às vezes também ligado à noção de abstração lírica. A defesa da improvisação, associada ao gesto espontâneo e instintivo, permite entrever as afinidades da nova pintura com o expressionismo abstrato, assim como a inspiração no surrealismo, pela valorização do inconsciente, no dadaísmo, em função da defesa do caráter irracionalista da arte e no expressionismo, que toma a imaginação como expressão direta do espírito do artista. O uso de manchas irregulares de cores remete ainda à pintura de maturidade de Claude Monet. O pintor e poeta Jean-Michel Atlan, um dos expoentes da nova tendência pictórica, define, em 1953, o caráter do projeto tachista: "A pintura para mim não pode ser derivada de uma idéia preconcebida; a parte que cabe ao acaso (aventura) é muito importante e, de fato, é este acaso que cumpre o papel decisivo no processo de criação".
A arte informal deve ser compreendida no contexto de crise mundial instaurada também na Europa do pós-guerra. Além disso, acentua-se a descrença em relação à racionalidade ocidental e à civilização tecnológica, celebradas pelas vanguardas do começo do século XX. As filosofias da crise, em especial o existencialismo de Jean-Paul Sartre, dão o tom da época no plano das idéias, reverberando nas artes de modo geral. O reexame crítico dos movimentos artísticos da primeira metade do século XX dirige o foco dos novos artistas para o cubismo, do qual é recuperada a idéia de decomposição. Mas esta, no caso do tachismo, deve ser explosiva - e não analítica como querem Pablo Picasso e Georges Braque -, refletindo-se no rompimento radical da forma. A ênfase na gestualidade coloca-se como uma tentativa de ultrapassagem tanto dos conteúdos realistas quanto dos formalismos geométricos. A convicção do insucesso do realismo socialista - que vê a arte como instrumento da luta operária - e a impossibilidade de a associação entre arte e indústria, defendida pela Bauhaus, democratizar-se estão na matriz das diversas Poéticas do Informal.
Em pintores como Hans Hartung e Pierre Jean Louis Soulages, observa-se a recusa da fórmula racionalista pela pintura apoiada no gesto. O conhecimento deriva da ação e esta se apresenta pelo traço decidido do artista que abre e bloqueia espaços na superfície da tela com o auxílio de linhas e borrões, negros e grossos, que deixam entrever o fundo por pequenas frestas e intervalos, por exemplo em T. 1947-25, 1947 de Hartung e em Composição, 1950 de Soulages. Em outros pintores, a ênfase da pesquisa recai preferencialmente sobre a matéria, como nos franceses Jean Fautrier e Jean Dubuffet, e nos trabalhos do italiano Alberto Burri e do catalão Antoni Tàpies. Fautrier se singulariza pelo desenvolvimento de uma técnica própria, que consiste em pintar uma camada de tinta sobre a outra, com a qual ele obtém espessos empastes. Sua série mais famosa, Reféns, 1943 nasce da experiência como refugiado, quando assiste aos fuzilamentos dos prisioneiros de guerra pelos alemães.
Em Dubuffet, o trabalho com a matéria conhece pelo menos dois resultados. Um que se liga às Texturologias produzidas em fins dos anos 1950, que se caracterizam, como o próprio título indica, pelas texturas experimentadas com cores e materiais distintos, e apontam na direção da recusa da expressão ou da representação. Outro resultado advém da associação da matéria ao desenho, que originam figurações cômicas como L'interloqué, 1954 - no título, evidencia-se o jogo de palavras designando aquele que está "impedido de dizer", o que, de outro modo, retoma a idéia de incomunicabilidade. Burri explora as potencialidades expressivas de maneira diferente: solda, costura e cola seus sacos, madeiras, papéis queimados, paus, latas e plásticos. Combustões, 1957 e Ferros, 1958 constituem exemplos eloqüentes de seu projeto. A "pintura matérica" de Tàpies, por sua vez, tem forte sentido trágico. Os muros intransponíveis, as janelas e portas fechadas que negam qualquer acesso se relacionam diretamente com a situação política espanhola.
Em artistas como Wols, os caminhos da decomposição da forma são outros. O tom dominante nesses trabalhos - menos que o gesto ou a matéria - é o traço, a linha e a cor, que guardam relação com o lirismo de Paul Klee. A criação de signos também ocorre com o pintor e poeta Henri Michaux em O Silo, 1960, assim como em Georges Mathieu, admirador da caligrafia oriental, Cast, 1964. Na Itália é possível lembrar os nomes de Emilio Vedova, Afro, Renato Birolli e Giuseppe Capogrossi. No Japão, a arte informal tem lugar em 1950 com o Gutai Bitjutsu Kyokai [Grupo Gutai] e o pintor Jiro Yoshihara. No Brasil, as obras de Manabu Mabe, Tomie Ohtake e Flavio-Shiró parecem se ligar ao tachismo ou ao abstracionismo lírico, que conhecem adesões variadas entre nós, em Cicero Dias, Antonio Bandeira e Iberê Camargo.
Obras 1
Ponte do Sonho
Fontes de pesquisa 6
- ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos. Tradução Denise Bottmann, Frederico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
- BORJA-VILLEL, Manuel J. Antoni Tàpies. Introdução Miquel Tàpies. Barcelona: Fundació Antoni Tàpies, 1990, 75 p. il. color.
- CHILVERS, Ian (org.). Dicionário Oxford de arte. Tradução Marcelo Brandão Cipolla. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
- DICIONÁRIO da Pintura Moderna. Tradução Jacy Monteiro. São Paulo: Hemus-Livraria Editora, 198. 380p. il. p&b.
- GOODING, Mel. Arte abstrata. São Paulo: Cosac & Naif, 2002, 96 p. il. color (coleção Movimentos da Arte Moderna).
- La nuova enciclopedia dell'arte Garzanti. Milano: Garzanti, 1986.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
TACHISMO.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/termo3843/tachismo. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7