Vieira da Silva
![Lisbonne du souvenir, 1940 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/013302120449.jpg)
Lisbonne du souvenir, 1940
Vieira da Silva
Guache sobre cartão
Texto
Biografia
Maria Helena Vieira da Silva (Lisboa, Portugal 1908 - Paris, França 1992). Pintora, gravadora, desenhista, ilustradora e escultora. Estuda desenho, dos 11 aos 19 anos, com Emília Santos Braga e pintura com Armando Lucena, além de freqüentar cursos de anatomia da Escola de Medicina de Lisboa e aprender música em casa. Em 1928, muda-se para Paris. Prossegue os estudos de desenho na Académie de La Grande Chaumière e de escultura com Bourdelle e, na Academia Escandinava, com Despiau. Abandona a escultura e passa a dedicar-se à pintura e à gravura, tendo estudado com Dufresne, Waroquier, Friesz, Fernand Léger (1881 - 1955), Bissière e Hayter. Em 1930, casa-se com o pintor húngaro Arpad Szenes (1897-1985). Em 1933, faz ilustrações para um livro infantil e as apresenta em sua primeira individual. Em 1939, a artista deixa Paris e volta à Lisboa devido a 2ª Guerra Mundial, confiando suas obras e ateliê à galerista Jeanne Bucher. No ano seguinte, parte para o Brasil e instala-se, inicialmente, no Hotel Internacional, no Rio de Janeiro, onde convive com outros artistas europeus que se exilaram no país. Conhece os poetas Murilo Mendes (1901-1975) e Cecília Meireles (1901-1964) e o pintor Carlos Scliar (1920-2001). No mesmo ano, Vieira e Arpad fazem, para a Escola Nacional de Agronomia, painéis de azulejos e retratos de cientistas, nomeando esse conjunto de Quilômetro 44, referência ao endereço da Escola. Em 1947, retorna a Paris, onde realiza muitas exposições. Em 1949, Pierre Descargues publica a primeira monografia sobre a artista e, em 1954, o crítico Guy Weelen passa a organizar e divulgar a sua obra e a de seu marido, tendo escrito uma série de estudos e organizado diversas exposições. Naturaliza-se francesa em 1956. Em 1963, realiza em Reims, França, seu primeiro vitral, no Ateliê Jacques Simon. Em 1968, inicia com Charles Marq uma série de vitrais para a Igreja Saint-Jacques, concluídos apenas em 1976. Recebe diversos prêmios e títulos e torna-se membro de associações artísticas como a Académie des Sciences, des Arts et des Lettres de Paris e a Royal Academy of Art de Londres. No Brasil, recebe prêmios na 2ª e 6ª Bienais Internacionais de São Paulo. Em 1990 é fundada em Lisboa a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva.
Análise
Nascida em Portugal, Maria Helena Vieira da Silva estuda na Escola de Belas Artes de Lisboa. Muda-se para Paris em 1928, onde estuda escultura. Passa a dedicar-se à pintura e gravura, estudando com Fernand Léger (1881-1955). Em 1930, casa-se com o artista húngaro Arpad Szenes. Suas obras situam-se entre figuração e abstração. A pintura da artista apresenta uma preocupação em revelar ambigüidades do espaço e da profundidade representados sobre uma superfície plana. Predomina em seus quadros o emprego de uma rede quadriculada, obtida por meio das linhas e de suas interseções, que formam planos semelhantes a quadrados coloridos, como ocorre em La Chambre à Carreaux [O Quarto Quadriculado], de 1935. No quadro L'Atelier Lisbonne [O Ateliê Lisboa], de 1940, pequenos quadrados giram para constituir um interior em perspectiva. No centro da composição, figuras fazem um círculo, lembrando A Dança de Matisse, em um registro espectral. A artista revela também a importância de obras de Bonnard (1867 - 1947), em especial o quadro Le Nappe à Carreaux [A Toalha Quadriculada], que vê ao chegar em Paris, e das composições abstratas de Torres Garcia (1874 - 1949).
O casal Arpad Szenes e Vieira da Silva vem para o Brasil em 1940, devido à Segunda Guerra Mundial, instalando-se no antigo Hotel Internacional, no Rio de Janeiro. Lá convive com intelectuais e pintores, como Cecília Meireles, Murilo Mendes (1901 - 1975) e Carlos Scliar. Em 1941, Vieira da Silva pinta La Forêt des Erreurs [A Floresta dos Errantes], quadro que apresenta um ritmo visual quase vertiginoso e uma gama cromática rebaixada, com predomínio de amarelos e verdes. O casal funda o Ateliê Silvestre, que se transforma em centro de discussões artísticas. Traz ao Brasil a novidade da abstração que, no caso de Vieira da Silva, evoca formas de associação entre cores, texturas, ritmos e intervalos.
Vieira da Silva, ao longo de sua carreira, mantém uma trajetória coerente e independente das correntes artísticas com as quais se deparou. Na opinião do historiador da arte Nelson Aguilar, o impacto de sua obra pode ser reconhecido no Brasil, por exemplo, nos painéis de azulejos realizados para projetos paisagísticos de Burle Marx (1909-1994) e também na obra de Carlos Scliar e Athos Bulcão (1918-2008).
Obras 55
Arraial
Atelier, Lisbonne
Bahia Imaginée
Bataille Des Rouges Et Des Bleus
Broderie hongroise
Exposições 148
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 19
- 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
- AGUILAR, Nelson Alfredo. Figuration et spatialisation dans la peinture moderne brésilienne: le séjour de Vieira da Silva au Brésil (1940-1947). 1984. 314p. Dissertação (Doutorado) Université Jean Moulin ? Lyon III, Faculté de Philosophie, Lyon, 1984.
- AGUILAR, Nelson Alfredo. Vieira da Silva no Brasil. Colóquio: Artes, Lisboa, n.27, pp. 5-15, 1976.
- ARAÚJO, Marcelo Mattos (coord.), BAEZ, Elizabeth Carbone (coord.), REGO, Ivonne Felman Cunha (coord.). Arpad Szenes e Vieira da Silva: retratos. Curadoria José Sommer Ribeiro. Rio de Janeiro: Museus Castro Maya, 1997.
- CHAR, René. Nove agradecimentos a Vieira da Silva. In: VIEIRA da Silva. Texto Murilo Mendes, Mário Cesariny, José Augusto França, René Char. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1970. 217 p., il., pp. 24-25.
- DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5).
- FRANÇA, José Augusto. Da poesia Plástica (Ed. Cadernos de Poesia 1950-1951). In: VIEIRA da Silva. Texto Murilo Mendes, Mário Cesariny, José Augusto França, René Char. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1970. 217 p., il., p. 27.
- GULLAR, Ferreira. Relâmpagos: dizer o ver. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
- LASSAIGNE, Jacques. A operação criadora. In: ______ & WEELEN, Guy. Vieira da Silva. Barcelona: Publicações Europa-América, 1978., p. 146-151.
- LEITE, José Roberto Teixeira. 500 anos da pintura brasileira. [S.l.]: Log On Informática, 1999. 1 CD-ROM.
- LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
- MENDES, Murilo. Vieira da Silva. In: VIEIRA da Silva. Texto Murilo Mendes, Mário Cesariny, José Augusto França, René Char. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1970. 217 p., il., pp. 19-20.
- PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1987.
- ROSENTHAL, Gisela. Vieira da Silva 1980-1992. À procura do Espaço Desconhecido. Lisboa, Colônia, Taschen, 1998.
- SILVA, Maria Helena Vieira da. Vivíamos assim como uma borboleta. In: TEMPOS de guerra: Hotel Internacional / Pensão Mauá. Curadoria Frederico Morais. Rio de Janeiro: Galeria de Arte Banerj, 1986. (Ciclo de exposições sobre arte no Rio de Janeiro).
- SILVA, Vieira da. Vieira da Silva nas coleções portuguesas. São Paulo: Masp, 1987.
- SILVA, Vieira da. Vieira da Silva. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1989. 30 il. color.
- VALLIER, Dora. Chemins d'approche: Vieira da Silva. Paris, Galilée, 1982. (Écritures/figures).
- ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
VIEIRA da Silva.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa9819/vieira-da-silva. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7