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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Marcos Duprat

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 05.07.2024
1944 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução fotográfica Jaime Acioli

Horizonte VI, 2012
Marcos Duprat
Óleo sobre tela
102,00 cm x 102,00 cm

Marcos Borges Ribeiro Duprat (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1944). Pintor, desenhista, escultor, fotógrafo, diplomata. Tem sua carreira artística voltada principalmente para a pintura a óleo e para trabalhos sobre papel – pastéis oleosos ou desenhos. Seus trabalhos exploram aspectos como o reflexo, a solidão e as passagens. Sendo diplomata, fr...

Texto

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Marcos Borges Ribeiro Duprat (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1944). Pintor, desenhista, escultor, fotógrafo, diplomata. Tem sua carreira artística voltada principalmente para a pintura a óleo e para trabalhos sobre papel – pastéis oleosos ou desenhos. Seus trabalhos exploram aspectos como o reflexo, a solidão e as passagens. Sendo diplomata, frequentemente se instala em novos países, o que ocasionalmente influencia sua produção, como no caso dos trabalhos vinculados à estética japonesa produzidos quando está no Japão, entre 2000 e 2005.

Segundo o empresário e bibliófilo José Mindlin (1914-2010), a carreira diplomática de Duprat está repleta de competência e dedicação. Para Mindlin, sua carreira artística vai além disso, contando também com devoção e talento. A decisão de seguir ambas as carreiras ocorre aos 20 anos, após voltar de uma temporada de estudos de três anos nos Estados Unidos, com bolsa do governo americano.

Começa sua formação artística no início dos anos 1960, com cursos de desenho e pintura na Escola Nacional de Belas Artes (Enba). Em 1966, estuda desenho na Universidade de Waseda, em Tóquio, Japão. Entre 1967 e 1969, no ateliê do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Mam Rio), tem aulas com Aluísio Carvão (1920-2001) e Anna Bella Geiger (1933), entre outros, que o incentivam a fazer obras sem observação direta. Em 1977, paralelamente ao trabalho como diplomata, obtém título de mestre em belas artes pela The American University, em Washington, nos Estados Unidos. 

O mestrado envolve prática no ateliê com observação direta, análise crítica, materiais, técnicas e história da arte. O corpo docente conta com artistas importantes, como a estadunidense Grace Hartigan (1922-2008). Até o mestrado, trabalha principalmente com o desenho. A partir de então, trava contato aprofundado com a pintura. É no mestrado que retoma a prática do desenho e da pintura mediante observação direta do modelo ou do espaço.

Sua produção artística se notabiliza pela abertura e pela imaginação. Isto é, suas obras pressupõem relações abertas entre os ambientes e as figuras retratadas e, além disso, dão ensejo para a fantasia e o devaneio do espectador. De acordo com o próprio artista, “sonhar é essencial para sermos um pouco mais felizes”1. Assim, trata-se de produção que, apesar de ser realista, abre fendas na realidade, levando-a rumo ao mistério.

O historiador de arte peruano Carlos Rodríguez Saavedra afirma que a linguagem que o pintor inventa tem três signos2. O primeiro é orgânico e corresponde ao corpo humano. O segundo é abstrato e remete à construção habitada pelo homem. O terceiro é translúcido: é a luz.

Para o crítico de arte japonês Miki Kaneko, a luz também tem importância na obra do artista, sendo o centro da expressão e, muitas vezes, estruturando a criação das pinturas3. Duprat absorve influência de artistas como o pintor holandês Johannes Vermeer (1632-1675), em seus interiores calmos, o pintor francês Pierre Bonnard (1867-1947), na representação da luz, e o pintor estadunidense Edward Hopper (1882-1967), na atmosfera fantasmagórica. 

A crítica de arte Vera Pedrosa (1936-2021) afirma que as indagações propostas pelas pinturas de Duprat giram em torno da realidade, do espelho, do mito de Narciso, da aparência e da representação4.
Seus temas principais – figuras, interiores, naturezas-mortas – são muitas vezes interligados, não costumam surgir isolados. Por exemplo, o óleo Reflexo II (1986) retrata uma mulher nua e seu reflexo bem definido num espaço fechado com poucos objetos, com incidência de luz externa. Reflexo (2018), também a óleo, trabalha com as mesmas questões, ainda que aqui o nu seja masculino e a superfície refletora esteja no chão. Ambas as telas apresentam figuras solitárias e distantes. 

A pintura de Duprat muitas vezes se vale da velatura, técnica que sobrepõe diversas camadas transparentes de tinta ou verniz e que realça a luz da cena. Para o crítico de arte Jacob Klintowitz (1941), o uso dessa técnica leva a um convívio demorado com a obra de arte, fazendo com que se perceba nela a mão do artista5. Para o crítico José Guilherme Merquior (1941-1991), na obra de Duprat, “o mundo visível se torna misterioso à força de claridade e transparência”6.

Os trabalhos produzidos pelo artista no Japão no início dos anos 2000, quando lá reside trabalhando como diplomata, são reunidos na mostra Sonhos Diurnos, que é apresentada embrionariamente na Promo Art Gallery, naquele país, em 2003. No Brasil, a exposição é realizada no Memorial de Curitiba, Paraná, em 2004, e na Pinacoteca de São Paulo (Pina_), em 2006, mediante convite do então diretor do museu, Marcelo Mattos Araújo (1956). Ao tratar dessa mostra, o curador e crítico de arte Oscar D’Ambrosio afirma que o principal talento do artista diz respeito à criação de diferentes atmosferas, que teriam poder de conduzir o espectador à reflexão.

Essa exposição também apresenta desenhos feitos em papéis artesanais. Um deles, Caminho (2004/2005), é um pastel oleoso que retrata uma cena externa, um caminho de pedras ladeado por árvores e folhas. O desenho tira valor das irregularidades presentes na superfície, integrando-as como textura das pedras ou movimento do vento.

Marcos Duprat é um artista com carreira longa e consistente. Sua obra tem como base a luz e vem se desdobrando em temas como figuras, interiores e naturezas-mortas, por meio dos quais discute a impermanência, o reflexo, a incerteza e a solidão.

Notas

[1] DUPRAT, Marcos. Momento feliz. In: SONHOS diurnos. São Paulo: Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2006. p. 11.

[2] SAAVEDRA, Carlos Rodriguez. Marcos Duprat. In: MARCOS Duprat: óleos. São Paulo: Galeria de Arte, 1979.

[3] KANEKO, Miki. Luz e sombra. In: SONHOS diurnos. São Paulo: Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2006. p. 15.

[4] PEDROSA, Vera. Marcos Duprat. In: MARCOS Duprat: óleos. São Paulo: Museu de Arte de São Paulo, 1979.

[5] KLINTOWITZ, Jacob. Figuras humanas, mas com características personalíssimas. Jornal da Tarde, São Paulo, 13 jun. 1983.

[6] MERQUIOR, José Guilherme. Marcos Duprat. In: MARCOS Duprat: 1985-1988. São Paulo: Museu de Arte de São Paulo, 1988. p. 12.

Obras 5

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Reprodução fotográfica Jaime Acioli

Ginkakuji

Lápis de cor sobre papel artesanal japonês
Reprodução fotográfica Jaime Acioli

Horizonte VI

Óleo sobre tela
Reprodução fotográfica Jaime Acioli

Limites II

Óleo sobre tela

Exposições 40

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Fontes de pesquisa 15

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  • CICERO, Antonio. Matter and light. In: PALAZZO PAMPHILJ. Marcos Duprat: paintings. Roma, 2018, p. 3-5.
  • CSORBA, Géza. Marcos Duprat. In: BUDAPEST HISTORY MUSEUM. Marcos Duprat. Budapeste, 1992, p. 5-7.
  • DUPRAT, Marcos. Marcos Duprat. Brasília: ECT Galeria de Arte, 1984.
  • DUPRAT, Marcos. Momento feliz. In: PINACOTECA DO ESTADO. Marcos Duprat: sonhos diurnos. São Paulo, 2006, p. 11-12.
  • DUPRAT, Marcos. [Currículo]. Enviado pelo artista em: 20 abr. 2018.
  • EXPOSIÇÃO “Limites”, de Marcos Duprat. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, 22 nov. 2016. Exposições. Disponível em: www.bn.gov.br/acontece/exposicoes/2016/12/exposicao-limites-marcos-duprat-apresenta-um. Acesso em: 27 out. 2020.
  • GONZALES, Valéria. Marcos Duprat. In: FUJIYA GALLERY. Marcos Duprat. Tóquio, 2004, s/p.
  • KANEKO, Miki. Luz e sombra. In: PINACOTECA DO ESTADO. Marcos Duprat: sonhos diurnos. São Paulo, 2006, p. 13-24.
  • KLINTOWITZ, Jacob. Figuras humanas, mas com características personalíssimas. Jornal da Tarde, São Paulo, 13 jun. 1983.
  • MARCOS Duprat 1985-1988. Apresentação de Pietro Maria Bardi. Texto de José Guilherme Melchior e Elizabeth Ilhilliard. New York: Elaine Benson Gallery, 1988.
  • MARCOS Duprat no Museu Nacional de Belas Artes. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, 6 jun. 2017. Novidades do Museu. Disponível em: www.mnba.gov.br/portal/imprensa/novidades-do-museu/122-marcos-duprat-no-museu-nacional-de-belas-artes.html. Acesso em: 27 out. 2020.
  • MERQUIOR, José Guilherme. Marcos Duprat. In: MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO. Marcos Duprat: 1985-1988. São Paulo, 1988, p. 11-12.
  • PEDROSA, Vera. Marcos Duprat. In: MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO. Marcos Duprat: óleos. São Paulo, 1979. s/p.
  • PINACOTECA DO ESTADO. Marcos Duprat: sonhos diurnos. São Paulo, 2006.
  • SAAVEDRA, Carlos Rodriguez. Marcos Duprat. In: GALERIA DE ARTE. Marcos Duprat: óleos. São Paulo, 1979.

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