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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Milton Hatoum

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 21.11.2023
19.08.1952 Brasil / Amazonas / Manaus
Registro fotográfico Fernanda Preto

Milton Hatoum, s.d.

Milton Hatoum (Manaus, Amazonas, 1952). Romancista, contista, professor e tradutor. Destaca-se por retratar conflitos pessoais e familiares no contexto geográfico, histórico e sociocultural da Amazônia, inspirando-se em sua vivência como descendente de libaneses e como migrante pelo Brasil.

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Milton Hatoum (Manaus, Amazonas, 1952). Romancista, contista, professor e tradutor. Destaca-se por retratar conflitos pessoais e familiares no contexto geográfico, histórico e sociocultural da Amazônia, inspirando-se em sua vivência como descendente de libaneses e como migrante pelo Brasil.

Muda-se para Brasília em 1967 e lá permanece até 1970, quando vai para São Paulo. Diploma-se arquiteto pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP) e, ainda nesta cidade, trabalha como jornalista e professor.

No início da década de 1980, viaja para a Europa e estuda literatura comparada na Sorbonne Université. De volta ao Brasil, leciona literatura francesa na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), entre 1984 e 1999.

Hatoum cria textos ricos em detalhes, apresentando lugares, pessoas e conjunturas extraídos de seu imaginário enquanto manauara descendente de libaneses. Seu primeiro romance, Relato de um certo oriente (1989), trata de uma volta ao passado: após quase 20 anos de ausência, uma mulher retorna a Manaus, cidade de sua infância, com o objetivo de reencontrar Emilie, a velha matriarca de uma família de imigrantes libaneses, que a criou como sua filha. Inicia-se nesse ponto o relato do acerto de contas da personagem com seu passado.

A imagem do imigrante abre caminho para conceitos como identidade, entrelugar e memória. A temática se define pela presença de quem migra, mas não apenas geograficamente – aquele cuja condição primordial é o exílio, fomentado pela voz, presença e olhar do outro.

Em 1996, como professor visitante, Hatoum ministra aulas de literatura brasileira na University of California (UCLA), onde também foi escritor residente. Publica, em periódicos do Brasil e da Europa, artigos e ensaios sobre autores brasileiros e latino-americanos. Contribui regularmente com diversos órgãos de imprensa, como O Estado de S. Paulo e Terra Magazine.

Cinzas do Norte (2005), seu terceiro romance, traz a história de dois meninos de Manaus que constroem uma amizade duradoura. Olavo, conhecido como Lavo, é o narrador, um menino órfão criado pelos tios, que cresce à sombra da família do melhor amigo, Raimundo Mattoso, ou simplesmente Mundo. Este desafia o pai, a moral dominante e o regime político – a ditadura militar brasileira (1964-1985). Mundo foge, chega à Europa dos anos 1970, mas não se desenlaça do que o liga à sua cidade natal. Por meio de revelações e versões que se cruzam e se divergem na narrativa, Hatoum traça uma história moral de sua geração.

Um dos procedimentos centrais na construção dos romances de Hatoum é a fusão entre o social e o existencial: trata das histórias particulares de certos personagens sem descuidar da observação do contexto social e histórico em que eles vivem. Esse contexto envolve quase sempre o processo de integração dos imigrantes originários do Oriente Médio no Norte do Brasil e as repercussões da ditadura militar brasileira naquela região.

A tendência a incluir acontecimentos históricos na ficção decorre do fato de Hatoum ser um escritor de uma minoria (como os libaneses no Brasil), o que o impele a registrar "a voz dos esquecidos: vozes do passado soterradas em um espaço problemático marcado por tentativas de assimilação"1.

Estilisticamente, a prosa de Hatoum varia pouco de livro a livro (o que denota a unidade interna de sua obra), sendo construída com base em narradores que optam sempre por um tom informal, fluente e coloquial. Além de "econômico", o estilo de Hatoum é "ao mesmo tempo poético, cheio de figurações e estranhamentos”2.

O real e o fantasiado se emaranham na escrita devido à abundância e detalhamento das descrições. Para o autor, "ninguém escreve do nada. As coisas que escrevemos são resultado das nossas experiências. A vivência é importante para a voz do escritor. Não dá para escrever sem a experiência de vida. É por meio dela que os autores encontram sua voz", diz, na mesa da qual participa na Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), em 2016.

Mesclando elementos de suas memórias e experiências pessoais com o contexto sociocultural amazônico, Hatoum constrói narrativas complexas, que promovem reflexão sobre relações familiares e seus conflitos, miscigenação e relação entre culturas, colocando em discussão, por consequência, a tolerância ou intolerância ao outro.

 

 

Notas

1. PENALVA, Gilson; SCHNEIDER, Liane. Identidade e Hibridismo na Amazônia Brasileira: Um Estudo Comparativo de Dois Irmãos e Cinzas do Norte, de Milton Hatoum. Revista Brasileira de Literatura Comparada, n. 21, p.11-50, 2012. Disponível em: http://www.abralic.org.br/downloads/revistas/1415578907.pdf. Acesso em: 12 jul. 2019, p. 28.

2. TOLEDO, Marleine Paula Marcondes e Ferreira de. Milton Hatoum: itinerário para um certo relato. São Paulo: Ateliê Editorial, 2006, p.127.

Obras 2

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Mídias (2)

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Milton Hatoum - Jogo de Ideias (2007)
Itaú Cultural
Milton Hatoum - Série Encontra - Arte 1 (2019)
Gisele Kato visita o escritor Milton Hatoum em sua casa. Fala sobre uma dívida que sentiu sendo paga com a publicação do livro "Dois Irmãos", com a personagem Domingas. A dívida era com o escritor francês Gustave Flaubert, que inspira sua produção e serve como referência para a construção de seus personagens.

Hatoum também fala sobre o vazio após a publicação de um livro, a recusa em reler as próprias obras e a incerteza sobre os caminhos seguintes. Ele apresenta o hábito de ler como elemento fundamental em sua vida, além de uma atividade que pratica com mais frequência que a escrita.

A Enciclopédia Itaú Cultural apresenta a série Encontra, produzida pelo canal Arte 1. Em um bate-papo com Gisele Kato, o público é convidado a entrar nas casas e ateliês dos artistas, conhecendo um pouco mais sobre os bastidores de sua produção.

Créditos
Presidente: Milú Villela
Diretor-superintendente: Eduardo Saron
Superintendente administrativo: Sérgio Miyazaki
Núcleo de Enciclopédia
Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenação: Glaucy Tudda
Núcleo de Audiovisual e Literatura
Gerente: Claudiney Ferreira
Coordenação: Kety Nassar
Arte 1
Direção: Gisele Kato/ Ricardo Sêco
Produção: Yuri Teixeira
Edição: Tauana Carlier

Fontes de pesquisa 9

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  • CRISTO, Maria da Luz Pinheiro de (org.). Arquitetura da memória: ensaios sobre os romances Dois irmãos, Relato de um certo oriente e Cinzas do norte de Milton Hatoum. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2007.
  • HATOUM, Milton. Cinzas do norte. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
  • HATOUM, Milton. Dois irmãos. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
  • HATOUM, Milton. Relato de um certo oriente. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
  • MILTON HATOUM. Site do Artista. Disponível em: http://www.miltonhatoum.com.br. Acesso em 27 set. 2010.
  • PENALVA, Gilson; SCHNEIDER, Liane. Identidade e Hibridismo na Amazônia Brasileira: Um Estudo Comparativo de Dois Irmãos e Cinzas do Norte, de Milton Hatoum. Revista Brasileira de Literatura Comparada, n. 21, p.11-50, 2012. Disponível em: http://www.abralic.org.br/downloads/revistas/1415578907.pdf. Acesso em: 12 jul. 2019.
  • Programa do espetáculo -Dois Irmãos. Não catalogado
  • TOLEDO, Marleine Paula Marcondes e Ferreira de. Entre olhares e vozes: foco narrativo e retórica em Relato de um certo oriente e Dois irmãos, de Milton Hatoum. São Paulo: Nankin Editorial, 2004.
  • TOLEDO, Marleine Paula Marcondes e Ferreira de. Milton Hatoum: itinerário para um certo relato. Cotia: Ateliê Editorial, 2006.

Como citar

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