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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Liniker

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 30.07.2024
1995 Brasil / São Paulo / Araraquara
Registro fotográfico Marcus Leoni

Liniker, 2019

Liniker de Barros Ferreira Campos (Araraquara, São Paulo, 1995). Compositora e cantora. Com influência de estilos como soul, jazz e samba, destaca-se, a partir de 2015, por sua potência vocal e pelas letras de amor. Dona de um timbre grave versátil, também transita naturalmente para o agudo em frequentes falsetes.

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Liniker de Barros Ferreira Campos (Araraquara, São Paulo, 1995). Compositora e cantora. Com influência de estilos como soul, jazz e samba, destaca-se, a partir de 2015, por sua potência vocal e pelas letras de amor. Dona de um timbre grave versátil, também transita naturalmente para o agudo em frequentes falsetes.

Mulher transgênero, sua poesia aborda situações cotidianas da vida afetiva (flerte, sexo, frustração, atração não correspondida) e é acolhida com entusiasmo pela juventude que sofre preconceito contra orientação sexual e identidade de gênero. Liniker faz parte de uma geração de artistas populares da música brasileira assumidamente trans, como a banda As Bahias e a Cozinha Mineira e a cantora Linn da Quebrada (1990). A negritude é tema de destaque em seus trabalhos, nos quais combina referências diversas da música negra.

Na infância, é criada pela mãe, que dá aulas de samba-rock e lhe ensina alguns movimentos. A atividade da mãe e o contato com os tios compositores de samba são influências que carrega quando começa a compor anos mais tarde.

Por sugestão de amigos, cursa a Escola Livre de Teatro de Santo André, em 2014. Lá, divide quarto e se aproxima da cantora e compositora Linn da Quebrada, que a incentiva a se reconhecer como trans. Aos poucos, Liniker assume o visual pelo qual ficou conhecida: saia, batom e turbante. Começa a compor aos 16 anos e se declara influenciada por Paula Lima (1971), Clube do Balanço, Originais do Samba e pelas cantoras estadunidenses Etta James (1938-2012) e Nina Simone (1933-2003).

Em 2015, grava o EP Cru, com três músicas, acompanhada da banda Os Caramelows. Todas as composições são de Liniker. Em outubro, os clipes das músicas são lançados em plataforma de compartilhamento de vídeos e, em apenas cinco dias, alcançam um milhão de visualizações. O vídeo da faixa Zero impulsiona a repercussão. A música valoriza o talento da cantora, que canta em falsete e a cappella na introdução, acompanhada apenas pelos backing vocals.

As harmonias vocais e o arranjo das canções rendem comparações com Tim Maia (1942-1998): o timbre e a extensão vocal de Liniker, o jeito brasileiro de traduzir as referências da soul music estadunidense e o conteúdo lírico em torno dos mistérios da paixão remetem à obra do cantor e compositor carioca, sobretudo aos trabalhos produzidos nos anos 1970.

Em 2016, Liniker e os Caramelows lançam o primeiro LP, Remonta, que inclui as três faixas de Cru. Algumas composições são baseadas em antigas cartas de amor escritas por Liniker. Ela escreve as mensagens inspirada por homens que deseja, porém não as envia. Na faixa título, a primeira do repertório, mais uma vez sua voz ganha destaque nos arranjos: após uma breve introdução de sopros que criam um ambiente de suspense, ela canta sem acompanhamento instrumental. A audição causa impacto e prepara o ouvinte para a experiência que se repete nas outras onze faixas: a técnica apurada no canto, com um timbre facilmente reconhecível e que transita sem dificuldade por diversos tons.

O trabalho é marcado por participações de outras cantoras e compositoras, como Xenia França (1986), Tássia Reis (1989) e Tulipa Ruiz (1979). A faixa “BoxOkê” expande a sonoridade da artista e se aproxima do gênero afrobeat, desenvolvido na Nigéria nos anos 1970. A parte instrumental é marcada pela bateria sincopada e a pontuação de metais que caracterizam o ritmo. Na parte vocal, Tássia Reis canta um rap e aumenta o raio de ação da música negra em que Liniker se insere.

Entre 2016 e 2018, o trabalho ganha visibilidade fora do Brasil. Liniker faz turnês pela Europa, América Latina, África e Estados Unidos. O público estrangeiro aprecia sua música mesmo sem compreender as letras em português. A representatividade que sua imagem comunica, de uma mulher negra trans bem-sucedida, também contribui para o interesse desse público.

Em 2019, lança Goela Abaixo. A primeira faixa, “Brechoque”, repete o recurso de valorizar a voz da cantora sem acompanhamento instrumental. O trabalho agrega elementos da música caribenha e africana. Essa abertura musical se reflete também nos idiomas que ela escolhe para cantar: Goela Abaixo traz versos em inglês (em “Beau”) e espanhol (“Calmô”). A figura da mulher negra trans que se afirma como um “corpo político” em diversas entrevistas assume aspecto mais global e representativo de toda a diáspora negra.

Liniker se destaca não apenas pela potência técnica de sua voz (afinada e cheia de nuances), mas também pela representatividade social. Como mulher trans que escreve e canta sobre amor, ela conecta sua obra com um público que raramente se reconhece na música brasileira.

Obras 1

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Mídias (1)

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Liniker – Série Cada Voz (2019)
A cantora Liniker conta sobre as mudanças em seu trabalho e em sua vida, os aprendizados ao longo da carreira e como lida com a rotina de entrevistas. Também fala sobre a produção de suas músicas a partir de um apanhado cotidiano de sensações e eventos, transformados em prosa.

Sobre os afetos, a importância da empatia e compreensão do espaço ocupado pela população trans e negra, além do vazio e da busca pelo pertencimento dentro de um modelo de amor preconcebido.

A Enciclopédia Itaú Cultural produz a série Cada Voz, em que personalidades da arte e cultura brasileiras são entrevistadas pelo fotógrafo Marcus Leoni. A série incorpora aspectos de suas trajetórias profissionais e pessoais, trazendo ao público um olhar próximo e sensível dos artistas.

Créditos
Presidente: Milú Villela
Diretor-superintendente: Eduardo Saron
Superintendente administrativo: Sérgio Miyazaki
Núcleo de Enciclopédia
Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenação: Glaucy Tudda
Produção de conteúdo: Camila Nader
Núcleo de Audiovisual e Literatura
Gerente: Claudiney Ferreira
Coordenação: Kety Nassar
Produção audiovisual: Letícia Santos
Edição de conteúdo acessível: Richner Allan
Direção, edição e fotografia: Marcus Leoni
Assistência e montagem: Renata Willig
Assistência de fotografia: Martha Salomão

Fontes de pesquisa 6

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