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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Baby do Brasil

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 30.07.2024
1952 Brasil / Rio de Janeiro / Niterói
Bernadete Dinorah de Carvalho Cidade (Niterói, Rio de Janeiro, 1952). Cantora, compositora. Começa a tocar violão e cantar na infância. Aos 14 anos, vence um festival de música em Niterói. Aos 17, vai para Salvador, onde conhece o guitarrista Pepeu Gomes (1952) – futuro marido e parceiro musical – e os compositores Moraes Moreira (1947), Luiz Ga...

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Bernadete Dinorah de Carvalho Cidade (Niterói, Rio de Janeiro, 1952). Cantora, compositora. Começa a tocar violão e cantar na infância. Aos 14 anos, vence um festival de música em Niterói. Aos 17, vai para Salvador, onde conhece o guitarrista Pepeu Gomes (1952) – futuro marido e parceiro musical – e os compositores Moraes Moreira (1947), Luiz Galvão (1937) e Paulinho Boca de Cantor (1946). Ao lado deles, atua no espetáculo O Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio Universal, embrião do grupo Novos Baianos. Integra o conjunto como cantora, além de tocar afoxé, triângulo e maracas. Nessa época, adota o nome artístico Baby Consuelo. Atua nos filmes Rebelião dos Brutos (1969), de Giovanni Fago (1931); Caveira, My Friend (1970), de Alvaro Guimarães e Genesis 2000 (1970).

Em 1978, segue carreira solo. Obtém sucesso com a canção “Menino do Rio” de Caetano Veloso (1942), tema de abertura da novela Água Viva (1980), da Rede Globo. Participa do Festival de Montreux (Suíça) em 1980. Em 1982, protagoniza a personagem Emília no especial Pirlimpimpim, também da Rede Globo. Em parceria com Pepeu, compõe “Emília, A Boneca Gente” para o programa. Ainda nos anos 1980, tem experiências esotéricas que se refletem nos álbuns Canceriana Telúrica (1981), Cósmica (1982) e Kryshna Baby (1984). Em 1985, participa do Rock In Rio e lança o hit “Sem Pecado e Sem Juízo”, em álbum homônimo, trilha da novela Roque Santeiro (1985), da Rede Globo.

Separada de Pepeu, grava Ora Pro Nobis (1991). Interrompe a carreira para percorrer o caminho de Santiago de Compostela (Espanha), publicando o livro Peregrina: Meu Caminho no Caminho (1995), com o nome artístico Baby do Brasil. Participa do disco e da turnê Infinito Circular (1997), reencontro dos integrantes dos Novos Baianos. No mesmo ano lança Um, com participação das filhas Sarah Sheeva, Nãna Shara e Zabelê, que formam o trio SNZ.

Em 1999, começa a frequentar a igreja evangélica Sara Nossa Terra e funda o Ministério do Espírito Santo de Deus em Nome de Jesus, denominando-se uma “popstora”, uma pastora pop. Lança os álbuns gospel Exclusivo Para Deus (2000) e Geração Guerreiros do Apocalipse (2011). Volta aos palcos não religiosos em 2014 com a turnê Baby Sucessos, produzida pelo filho, o guitarrista Pedro Baby. Apresenta-se ao lado dos antigos parceiros Pepeu Gomes (2015) e Novos Baianos (2016).

Análise

Baby do Brasil demonstra notável capacidade de se reinventar. Integrante do Novos Baianos, filia-se à leitura brasileira dos movimentos de contracultura do final dos anos 1960, encarnando uma vanguarda artística tributária dos tropicalistas e modernistas. O grupo é transgressor na musicalidade – baseada na fusão do rock com ritmos brasileiros – e no comportamento – em plena ditadura, os integrantes escolhem viver em comunidade, embora não se reconheçam como hippies, mas como artistas profissionais. Única mulher do grupo, Baby dá vida a canções que contestam com irreverência os valores sociais vigentes, como o controle sobre o corpo feminino, em “Curto de Véu e Grinalda” (Moraes Moreira e Galvão, 1970).

No Novos Baianos, Baby encontra espaço para explorar o potencial como intérprete. Músicas como “Tinindo Trincando” e “A Menina Dança”, do álbum Acabou Chorare (1972), foram feitas para sua voz e constam de seu repertório até hoje. De seu legado no grupo, destaca-se o fato de ser a primeira mulher a cantar em um trio elétrico, no final dos anos 1970.

Moraes Moreira compara o timbre de voz de Baby ao da cantora estadunidense Janis Joplin (1943-1970), aliando sonoridades do jazz, do rock e do blues ao samba, choro e baião. Recorre a procedimentos jazzísticos de improvisação, como o scat singing, e utiliza a voz como um instrumento. A cantora é precisa na divisão rítmica, o que faz dela sucessora de Ademilde Fonseca (1921-2012) no choro cantado e uma das poucas intérpretes a colocar o gênero em evidência. Baby atualiza clássicos do choro, como “Apanhei-te Cavaquinho” [Ernesto Nazareth (1863-1934) e Darci de Oliveira (1905-1945)] e “Assanhado” [Jacob do Bandolin (1918-1969)]. 

Entre os anos 1980 e 1990, amplia o diálogo da MPB com pop-rock, não se limitando a um gênero musical específico. Além de gravar músicas de terceiros – como suas versões de “Todo Dia Era Dia de Índio” [Jorge Ben Jor (1942)] e “Eu e a Brisa” [Johnny Alf (1929-2010)] –, compõe com maior regularidade. Abrange canções românticas (“Sem Pecado e Sem Juízo”, “Um Auê Com Você”), composições voltadas ao público infantil e outras que evidenciam seu lado místico. O último álbum de estúdio antes de se dedicar ao gospel é marcado pelo funk e pelo swing, com influências do DJ e compositor estadunidense Dave Harris (1971), em versões de Baby para as músicas “Sexy, Sexy”, “Baby Toque” e “Love Sex Phone”.

Nos anos 2000, com a conversão ao protestantismo, sua performance passa por mudanças. Algumas referências são diretas, como a alteração de “dragão tatuado no braço”, da letra da canção “Menino do Rio”, para “Jesus forever tatuado no braço”. Em apresentação no Rock In Rio 2015, Baby estampa a inscrição numa barriga postiça, aludindo à sua participação do festival 20 anos antes, quando se apresenta grávida. Sinais sutis evidenciam-se no gestual, na fisionomia e na dicção, empregada à maneira exortativa dos spirituals, mesmo em canções do repertório anterior ao gospel. Embora com menor apelo à sensualidade, a cantora, que nas décadas anteriores causa impacto não apenas pela versatilidade musical mas também pelo visual extravagante, não se despoja do cabelo colorido e dos balangandãs, elementos constitutivos da identidade como “popstora”.

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