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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Laurindo de Almeida

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 25.10.2023
02.09.1917 Brasil / São Paulo / Miracatu
1995 Estados Unidos / Califórnia / Los Angeles
Laurindo José de Araújo Almeida Nóbrega Neto (Miracatu, São Paulo, 1917 – Los Angeles, Estados Unidos, 1995). Compositor, arranjador, instrumentista. Nascido em família de músicos amadores, recebe as primeiras lições de piano da mãe, enquanto acompanha o pai em serestas pela cidade de Santos, onde moram em 1920. Aprende a tocar violão com a irmã...

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Laurindo José de Araújo Almeida Nóbrega Neto (Miracatu, São Paulo, 1917 – Los Angeles, Estados Unidos, 1995). Compositor, arranjador, instrumentista. Nascido em família de músicos amadores, recebe as primeiras lições de piano da mãe, enquanto acompanha o pai em serestas pela cidade de Santos, onde moram em 1920. Aprende a tocar violão com a irmã, adaptando o repertório de música erudita para o instrumento. Após a morte do pai, muda-se para São Paulo.

Em 1934, assina contrato como músico da Rádio São Paulo. Depois, trabalha na Rádio Record, integrando o grupo Ronda Paulista e o regional da emissora, regido por Armandinho Neves (1902-1976). No Rio de Janeiro, atua no regional de Batista Júnior (1894-1943), ao lado de nomes como Pixinguinha (1897-1973), Luiz Americano (1900-1960) e Luperce Miranda (1904-1977). Em 1936, é contratado pela Rádio Mayrink Veiga, onde permanece por 11 anos, além de arranjar e acompanhar artistas no Cassino da Urca e em discos das gravadoras Odeon, RCA Victor e Continental. No mesmo ano, com o Conjunto Typico Brasileiro, faz apresentações na Europa. Lá, assiste à performance do guitarrista belga Django Reinhardt (1910-1953) e conhece as harmonias jazzísticas que influenciam sua música posteriormente.

Forma, com o violonista Garoto (1915-1955), o duo Ritmo Sincopado e o Conjunto das Cordas Quentes. Grava obras do maestro Radamés Gnattali (1906-1988) e é parceiro dele na composição de “Rio Rhapsody” (1953). Participa da coletânea Native Brazilian Music (1942), lançada nos Estados Unidos, sob encomenda do maestro norte-americano Leopold Stokowski (1882-1977).

Em 1947, muda-se para os Estados Unidos, estreando no grupo Carioca Boys, com o qual atua no filme A Canção Prometida (1948). Seu trabalho como músico em Hollywood e para a televisão abrange centenas de trilhas - uma delas premiada com o Oscar em O Velho e o Mar (1958), parceria com o compositor russo Dimitri Tionkim (1894-1979).

Integra, entre 1947 e 1950, a orquestra do estadunidense Stan Kenton (1912-1979) como instrumentista, compositor e arranjador. Participa de seu projeto Innovations in Modern Music, que promove o diálogo entre o jazz e a música de concerto. Após a dissolução da orquestra, forma o Laurindo Almeida Quartet, com o saxofonista Bud Shank (1926-2009), o baixista Harry Babasin (1921-1988) e o baterista Roy S. Harte (1924-2003), todos estadunidenses. Em 1953, lança, com esse grupo, três álbuns Brazilliance, marco na fusão do jazz norte-americano com ritmos brasileiros. Em 1956, grava a Suíte Popular Brasileira para Violão e Piano - Laurindo Almeida e Radamés Gnattali, ele tocando violão elétrico e Gnattali, piano. É um dos principais divulgadores de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), gravando quatro discos com obras do compositor pela Capitol Records nos Estados Unidos. 

Conquista cinco Grammy Awards, dentre os quais o de Melhor Composição Contemporânea de Música Clássica, com a peça “Discantus” (1961). Nessa década, faz turnês pelos Estados Unidos, Europa e Japão com o grupo The Modern Jazz Quartet, do pianista John Lewis (1920-2001). É convidado especial do 2o Festival Internacional da Canção (1967), e faz parte do júri do Concurso Internacional de Violão Villa-Lobos nas edições de 1972 e 1987, ocasião em que também se apresenta no Free Jazz Festival, em São Paulo.

Em 1970, funda o quarteto L. A. 4, que lança, entre 1974 e 1982, nove discos pelo selo Concorde e, na década de 1980, o trio Guitarjam – com o qual se apresenta no Carnegie Hall (1988) –, o duo com o violonista Charlie Byrd (1925-1999) e o Laurindo Almeida Trio, ativo até a primeira metade da década de 1990.

Análise

A formação musical de Laurindo de Almeida é pouco sistematizada em comparação com violonistas eruditos – como ele próprio se define –, mas segue percurso comum ao dos músicos populares contemporâneos a ele. Sua aprendizagem, iniciada no núcleo familiar, é aprimorada pelo autodidatismo, com base em leituras de trabalhos clássicos, como o tratado de orquestração de Berlioz. A prática como profissional, torna-o um músico polivalente também em outros instrumentos de cordas – cavaquinho, bandolim, banjo e, mais tarde, guitarra elétrica, o que contribui com a versatilidade de seu repertório.

Sua trajetória profissional liga-se ao crescimento da indústria da cultura e do entretenimento, impulsionada pela ampliação dos registros fonográficos e pela “Era de Ouro” do rádio. São dessa época as primeiras gravações em que prevalecem choros, sambas, marchinhas, baiões, foxtrotes e modinhas, gêneros populares no rádio brasileiro à época. No Cassino da Urca, conhece e é conhecido por diversos músicos e produtores norte-americanos de passagem pelo Brasil. A proibição dos cassinos em 1946, torna-se um incentivo para o violonista mudar-se para os Estado Unidos. Alia-se a isso o fato de os músicos acompanhantes serem mal remunerados e seus nomes não constarem nos créditos dos álbuns. 

Durante a permanência no Brasil, as composições de Laurindo são voltadas à gravação de grandes intérpretes populares, como Carmen Miranda (1909-1955) e Orlando Silva (1915-1978). Exemplo disso são o samba “Você Nasceu Para Ser Granfina” e “Mulato anti-Metropolitano”, ambos de 1939, e o choro “Dissimulada” (1946), em parceria com Bororó (1898-1986). Elas não apresentam inovações na música brasileira gravada à época, mas demonstram outra face do compositor: a de letrista. Em parceria com a dupla caipira Alvarenga e Ranchinho, assina “Malvada Minha”, gravada por eles em 1943. Com Junquilho Lourival, compõe “Meu Caboclo”, lançada por Orlando Silva em 1942. 

Com a mudança para os Estados Unidos, a música instrumental ganha regularidade em seu repertório. Além de compositores brasileiros como Heitor Villa-Lobos, Radamés Gnattali e Camargo Guarnieri (1907-1993), grava obras de compositores como o paraguaio Agustín Barrios (1885-1944), do mexicano Manuel Ponce (1882-1948) e do francês Gabriel Fauré (1845-1924). Destaque-se que, dos cinco Grammy Awards (prêmio máximo da música norte-americana) recebidos, quatro devem-se à produção como violonista clássico.

O conjunto de sua obra caracteriza-se pelo esforço em promover uma fusão das linguagens do jazz, da música erudita e da música popular brasileira. Dessa forma, o compositor tende a valorizar mais as harmonias que os demais elementos e as formas musicais clássicas predominam como parâmetro para composição. Com relação ao ritmo, são frequentes as mudanças de compasso como recurso de contraste entre seções. Já a melodia está centrada sobre as dissonâncias do acorde, além do uso de cromatismos.

O contato com a obra de Django Reinhardt no final da década de 1930 exerce papel importante em seu trabalho. Essa influência imprime uma maneira peculiar à execução de sambas e choros, pelo acréscimo de intervalos de 9a, 11ª e 13ª a suas harmonias, e passa a fundir elementos rítmicos e melódicos característicos da música popular brasileira com harmonias jazzísticas, dando origem ao que chama na época de “jazz de samba”. Um dos primeiros instrumentistas a explorar o dedilhado das cordas da guitarra, em lugar do uso da palheta, ele também é responsável por retomar a tradição da guitarra não eletrificada no jazz moderno.

Por tais motivos, frequentemente é considerado o precursor da bossa nova. No entanto, apesar de anteceder a concepção harmônica e o uso da improvisação sobre ritmos brasileiros, o violonista não se vincula ao grupo de músicos cariocas que dá origem a essa vertente. Pode-se afirmar que Laurindo influencia seus criadores, admiradores confessos da orquestra de Stan Kenton, que integra até 1950. Parte dos elementos estéticos da bossa nova estão presentes no choro “Brazilliance”, faixa do Concert Creations for Guitar (1949), primeiro disco de Laurindo lançado nos Estados Unidos. Na primeira seção, encontram-se acordes e regiões da tonalidade não comuns aos choros da mesma época. Outra peça, “Amazônia” (1950), apresenta uma nítida influência de Villa-Lobos, além dos impressionistas franceses. Nos discos gravados posteriormente ao sucesso da bossa nova nos Estados Unidos, Ole! Bossa Nova! (1962), Viva Bossa Nova! (1962) e It's a Bossa Nova World (1963), mescla alguns temas bossanovistas e do sambalanço a sucessos do hit parade internacional.

Músico pouco conhecido no Brasil, Laurindo de Almeida tem sua obra reconhecida no exterior, sobretudo nos Estados Unidos, onde são comercializados seu método de violão (Laurindo Almeida Guitar Method) e partituras de arranjos, transcrições e coletâneas. Também deixa marcas como instrumentista no cinema e na televisão, entre as quais o solo de banjo da música de abertura do seriado Bonanza (1959) e o solo de bandolim em O Poderoso Chefão (1972). É um dos primeiros músicos brasileiros a se estabelecer no exterior como violonista de concerto. Ao longo de sua carreira, torna-se membro de grupos da maior importância na história do jazz norte-americano, por meio dos quais difunde a música brasileira pelo mundo.

Fontes de pesquisa 5

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  • BERENDT, Joaquim E. O jazz: do rag ao rock. Tradução Júlio Medaglia. São Paulo: Perspectiva, 1987.
  • EID, Félix Ceneviva. Música e identidade na América Latina: o caso de Agustín Barrios Mangoré. 2012. xiii, 133 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes, 2012. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/91611. Acesso em: 22 ago 2023.
  • FRANCISCHINI, Alexandre. Laurindo Almeida: dos trilhos de Miracatu às trilhas em Hollywood [online]. São Paulo: Editora Unesp: Cultura Acadêmica, 2009. Disponível em: http://creasp.org.br/biblioteca/wp-content/uploads/2012/09/Laurindo-Almeida.pdf. Acesso em: 1 nov. 2016.
  • MÚSICOS do Brasil. Uma enciclopédia musical. Disponível em: http://www.musicosdobrasil.com.br/inicio.jsf. Acesso em: 10 ago. 2016.
  • TAUBKIN, Myriam (org.). Violões do Brasil. 2. ed. São Paulo: Senac, 2007.

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