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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Paulo Venturelli

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 09.06.2020
17.12.1950 Brasil / Santa Catarina / Brusque
Paulo Cesar Venturelli (Brusque, Santa Catarina, 1950). Escritor, professor, pesquisador e bibliófilo. Com uma produção literária plural, feita de poesias, contos, romances e textos infantojuvenis, discute a autopercepção, a loucura e as relações amorosas socialmente estigmatizadas. Sua pesquisa acadêmica, cuja temática se estende à ficção, trat...

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Paulo Cesar Venturelli (Brusque, Santa Catarina, 1950). Escritor, professor, pesquisador e bibliófilo. Com uma produção literária plural, feita de poesias, contos, romances e textos infantojuvenis, discute a autopercepção, a loucura e as relações amorosas socialmente estigmatizadas. Sua pesquisa acadêmica, cuja temática se estende à ficção, trata da homoafetividade na literatura brasileira.

Em 1963, Venturelli entra para o internato Sagrado Coração de Jesus, em Corupá, Santa Catarina, onde conclui o ginásio. Nesse período, por incentivo de um professor, começa a ler com afinco e a demonstrar seu potencial para a escrita. Depois de ir para Jaraguá do Sul com os pais, passa a publicar contos, poemas e resenhas em um jornal da cidade, enquanto faz o curso científico.

Ao mudar-se para Curitiba em 1974, ingressa no curso de letras da Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde demonstra afinidade para a vida acadêmica ao tornar-se monitor de literatura brasileira, função que lhe permite auxiliar os professores nas pesquisas e nas aulas. Na Casa do Estudante Universitário (CEU), desenvolve intensa atividade cultural com um grupo de colegas, discutindo textos, estudando teatro e convidando artistas para debates. É nesse momento que surge seu primeiro livro, Asilo de Surdos (1976), uma coletânea de poemas feita com César Machado, Edgar Yamagami (1956-2013) e Zeca Corrêa Leite. Trata-se de um livro artesanal, produzido em mimeógrafo.

Tendo se formado em 1978, passa a lecionar no Colégio Medianeira, de orientação jesuíta. Em suas aulas, ensina língua portuguesa com o objetivo de formar leitores, sem usar manuais de gramática. Posteriormente, recebe um convite da Secretaria Estadual de Educação para reelaborar o currículo do ensino de língua portuguesa em Santa Catarina.

Em 1989, lança seu primeiro livro de autoria individual, Admirável ovo novo, publicado como obra infantil. Escrito originalmente como conto, e sem a pretensão de atingir um público mais jovem, o livro narra a história de um pintinho que se questiona sobre seu lugar no mundo, sobre os sentidos das coisas e sobre perceber-se como indivíduo pensante. A obra é usada por diversas escolas e dá visibilidade ao autor.

Venturelli ingressa na UFPR como professor do curso de letras em 1990. Na mesma instituição, inicia uma pesquisa de mestrado que resulta na dissertação A carne embriaga: uma leitura em torno de João Silvério Trevisan (1993). O trabalho analisa a questão do amor presente no livro Em nome do desejo (1983), cujo enredo trata de dois garotos que se apaixonam em um seminário católico. Segundo o pesquisador, o romance de Trevisan (1944) mistifica o amor, insinuando que o único sentimento verdadeiro e possível é o que ocorre entre pessoas do mesmo gênero.

A pesquisa prossegue na tese Um pequeno mundo flutuante: literatura e homoerotismo em circuito fechado ⎼ Adolfo Caminha e Silviano Santiago (2001), defendida na Universidade de São Paulo (USP). Nela, Venturelli faz um estudo comparativo entre O bom crioulo (1895), de Adolfo Caminha (1867-1897), considerado por alguns o primeiro livro de temática gay da literatura brasileira, e a obra contemporânea Stella Manhattan (1985), de Silviano Santiago (1936).

Muitas das obras ficcionais do autor dialogam com suas primeiras experiências de leitura. Fantasmas de Caligem (2006), uma série de contos não realistas e impressionistas, na qual os personagens se confrontam com a própria loucura e o próprio descentramento, é um exemplo disso. A obra é influenciada pela trama detetivesca dos livros de Arthur Conan Doyle (1859-1930), escritor britânico que criou o detetive Sherlock Holmes. Também são comuns no trabalho de Venturelli elementos de sua forte educação católica, em especial o desprezo pelo corpo e as pressões sociais referentes a gênero e sexualidade. Ele afirma em entrevistas que seus textos vão contra esses princípios, numa espécie de vingança histórica contra a repressão.

O trabalho ficcional prossegue ao publicar várias obras infantojuvenis, como Introdução à arte de ser menino (1996), vencedora do Prêmio Cruz e Sousa, da Fundação Catarinense de Cultura; e Visita à Baleia (2013), eleito melhor livro do ano pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. A conexão entre palavras e imagens na condução desta história é considerada exemplar. O artigo O papel do projeto gráfico na construção narrativa de livros de literatura infantil contemporâneos (2019), de Marta Passos Pinheiro e Jéssica Mariana Andrade Tolentino, discute esse e outros aspectos da obra.

Em 2015, o objeto de pesquisa de Venturelli ⎼ homoafetividade e literatura ⎼ vira tema de uma de suas ficções. Madrugada de farpas (2015) conta a história de dois estudantes universitários, Israel e Obadah, que vivem uma relação amorosa em Curitiba. Decorrente do interesse em investigar o desejo, o livro surge com uma pesquisa de campo em que são entrevistados 24 garotos de programa de 18 a 24 anos, na Praça Osório, centro da cidade.

Ao longo da carreira de pesquisa, docência e escrita, Venturelli torna-se defensor da literatura como força transformadora. Segundo ele, é a melhor ferramenta para compreender o mundo e para contestá-lo, ao propor fórmulas, criaturas e comportamentos novos, avessos a modelos sociais vigentes. Bibliófilo, ele reserva um apartamento para sua biblioteca, que agrega milhares de livros.

Por fomentar discussões cada vez mais valorizadas na sociedade contemporânea, a obra acadêmica e ficcional de Paulo Venturelli é uma importante referência para o debate, a representatividade e a produção de conhecimento.

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