Silviano Santiago
Texto
Silviano Santiago (Formiga, Minas Gerais, 1936). Ensaísta, romancista, crítico, contista e poeta. Sua obra caracteriza-se pela diversidade de gêneros com que o autor exerce sua produção intelectual e criativa, bem como pelo modo singular como as questões pertinentes a cada gênero influenciam-se mutuamente. Dessa forma, reflexões filosóficas, propostas político-culturais e elementos formais e estéticos perpassam tanto sua produção crítica como sua produção artística.
Passa a infância em sua cidade natal, em 1948 é aprovado no exame de admissão do Colégio Estadual de Minas Gerais e transfere-se para Belo Horizonte. Em 1952, frequenta o Centro de Estudos Cinematográficos (CEC) e conhece um de seus fundadores, o poeta Jacques do Prado Brandão (1924-2007), que se torna seu mentor intelectual. Nos anos seguintes, contribui com resenhas para a Revista de Cinema e idealiza a revista Complemento. Ingressa no curso de letras da Universidade de Minas Gerais (UMG) em 1957. No ano seguinte, torna-se secretário da companhia de balé de Klauss Vianna (1928-1992) e Angel Vianna (1928).
Tem seus primeiros textos publicados no livro 4 Poetas (1960), em parceria com Affonso Romano de Sant’Anna (1937), Domingos Muchon e Teresinha Alves Pereira (1934). Nesses poemas, Silviano já demonstra uma grande preocupação formal e certa tendência a uma poética menos emotiva. No mesmo ano, muda-se para o Rio de Janeiro, com o objetivo de se especializar nos estudos de literatura francesa. Logo depois, recebe uma bolsa do governo francês para fazer doutorado na Universidade de Sorbonne. Durante as décadas de 1960 e 1970, atua como professor visitante em universidades de diversos países. Em 1974, é nomeado professor-associado da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ). Sua carreira acadêmica tem continuidade como pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Em 1978, lança O Entre-lugar do Discurso Latino-Americano, um de seus mais importantes textos críticos, e o livro de poemas Crescendo Durante a Guerra numa Província Ultramarina. A confluência das relações entre política, pensamento crítico e fazer poético, que caracterizam a produção de Silviano Santiago, pode ser observada em ambas as obras, em que questões históricas e socioculturais referentes à sociedade brasileira no período da ditadura militar são examinadas.
Do mesmo modo, seus estudos sobre ficção, influenciados pelo filósofo francês Jacques Derrida (1930-2004), associados às pesquisas sobre o modernismo brasileiro, reverberam no romance Em Liberdade (1981), um “falso diário” do romancista Graciliano Ramos (1892-1953). Segundo o crítico norte-americano David Jackson, esse romance é um exemplar da criação artística pós-moderna: a reprodução do real por meio da simulação do discurso, subvertendo as relações entre história e invenção.
As fronteiras tênues entre realidade e ficção, importante componente dos livros de Santiago, revelam-se ainda de outra maneira. Numa experiência descrita como autoficcional, sua literatura se alimenta de dados autobiográficos, ou seja, de elementos alçados da memória, que estimulam o autor a produzir obras com “sinceridade” e “verdade poética”. Em suas palavras: “Os dados autobiográficos servem de alicerce na hora de idealizar e compor meus escritos e, eventualmente, podem servir ao leitor para explicá-los. Traduzem o contato reflexivo da subjetividade criadora com os fatos da realidade que me condicionam e os da existência que me conformam”1. É o que se observa em O Falso Mentiroso (2004) e Histórias Mal Contadas (2005).
Na obra literária de Silviano Santiago, as atividades de crítico e de estudioso dialogam com os procedimentos artísticos de criação. Nesse sentido, uma obra como As Raízes e o Labirinto da América Latina (2006) torna-se paradigmática. Ela retoma questões de seu interesse desde a década de 1970 e reavalia obras seminais do historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) e do poeta mexicano Octavio Paz (1914-1998). O livro mescla uma “narrativa pós-moderna” com uma reflexão ensaística para pensar a nova configuração da América Latina no panorama global do século XXI. Em 2015, o autor vence o Prêmio Oceanos de melhor obra do ano com o romance Mil Rosas Roubadas (2014).
Com uma obra amplamente reconhecida pela crítica, Silviano Santiago possui extensa produção intelectual como ensaísta, romancista e poeta, na qual constantemente subverte os limites entre gêneros literários e entre realidade e ficção.
Nota
1. Trecho de palestra escrita por Silviano Santiago, apresentada na sede do Sesc, em Copacabana, em 2007. In: SANTIAGO, Silviano. Meditação sobre o ofício de criar. Palestra apresentada no Rio de Janeiro. Revista Aletria: revista de estudos de literatura. Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, v. 18, p. 173-179, jul./dez. 2008.
Obras 2
Espetáculos 1
Links relacionados 2
Fontes de pesquisa 6
- CUNHA, Eneida Leal (org.). Leituras críticas sobre Silviano Santiago. Belo Horizonte: Ed. UFMG; São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2008.
- JACKSON, K. David. O cárcere da memória: em liberdade, de Silviano Santiago. In: Travessia. Publicação do Programa de Pós-Graduação em Literatura, Universidade Federal de Santa Catarina, n. 22, p. 28-40, 1991. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/travessia/article/view/17180/15747. Acesso em: 18 set. 2012.
- MIRANDA, Wander Melo. Corpos escritos: Graciliano Ramos e Silviano Santiago. São Paulo: EDUSP; Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1992.
- SANTIAGO, Silviano. Meditação sobre o ofício de criar. Palestra apresentada no Rio de Janeiro. In: Revista Aletria: revista de estudos de literatura. Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, v. 18, p.173-179, jul./dez. 2008.
- SANTIAGO, Silviano. O entre-lugar do discurso latino-americano. In: SANTIAGO, Silviano. Uma literatura nos trópicos: ensaios sobre dependência cultural. São Paulo: Perspectiva: Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, 1978.
- SOUZA, Eneida Maria de; MIRANDA, Wander Melo (org.). Navegar é preciso, viver: escritos para Silviano Santiago. Belo Horizonte: Ed. UFMG; Salvador: Edufba; Niterói: Eduff, 1997.
Como citar
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SILVIANO Santiago.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa1243/silviano-santiago. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7