Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Barreto Júnior

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 10.01.2017
05.06.1903 Brasil / Pernambuco / Cabo de Santo Agostinho
21.02.1983 Brasil / Pernambuco / Recife
José do Rego Barreto Júnior (Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco, 1903 - Recife, Pernambuco, 1983). Ator e diretor.de teatro Muito jovem, gosta de ver espetáculos mambembes em sua cidade natal. No Colégio Salesiano do Recife, onde estuda, participa de encenações em festas escolares. Aos 18 anos, frequenta o Teatro Helvética, no centro do Recife,...

Texto

Abrir módulo

Biografia
José do Rego Barreto Júnior (Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco, 1903 - Recife, Pernambuco, 1983). Ator e diretor.de teatro Muito jovem, gosta de ver espetáculos mambembes em sua cidade natal. No Colégio Salesiano do Recife, onde estuda, participa de encenações em festas escolares. Aos 18 anos, frequenta o Teatro Helvética, no centro do Recife, acompanhando as revistas ali apresentadas e fazendo amizade com atores.

Em 1923, abandona o emprego, sai da casa dos pais e consegue o papel de um ladrão de galinhas na peça Eu Vi, da Companhia Paraense Leonardo Siqueira, no Helvética. Participa da primeira produção cinematográfica do Ciclo do Recife, Retribuição (1924), da Aurora Film. Estreia como ator profissional na peça À Espera da Missa (1928), também no Helvética. Em seguida, integra a Companhia Conceição Ferreira, com quem viaja para Minas Gerais e, depois, a Companhia Brandão Sobrinho como cantor de opereta. Ainda na década de 1920, forma conjuntos com o amigo Elpídio Câmara (1895-1965) e viaja pelo interior de Pernambuco, vindo daí a fama de ator mambembe. Entra, em 1931, no grupo Gente Nossa, dirigido pelo jornalista e dramaturgo Samuel Campello (1889-1939). Nessa fase, entre outras peças, atua em O Interventor, de Paulo Magalhães (1900-1972) e na opereta A Rosa Vermelha (1927), de Samuel Campello (1889-1939) e Valdemar de Oliveira (1900-1977).

Em excursão com grupos amadores, conhece a atriz Maria Anunciada Ferreira. Ela participa do Gente Nossa e muda seu nome para Lenita Lopes. Eles casam e saem do grupo com outros atores para formar a própria trupe. O grupo estreia, em 1933, no Teatro Municipal de Belo Horizonte, a burleta Flor do Agreste. Em 1936, viaja a São Luís, onde apresenta, no Teatro Artur Azevedo, a peça Compra-se um Marido, de José Wanderley. Outro êxito do grupo nas excursões pelo Norte e Nordeste é a montagem de Deus lhe Pague, de Joracy Camargo (1898-1973).

Por alguns anos reside no Rio de Janeiro. Ocupa o posto de primeiro ator da Companhia Otilia Amorim e administra a Companhia Jaime Costa. Com patrocínio do Serviço Nacional do Teatro, em 1940, a Companhia Nacional de Comédias Barreto Júnior viaja por todo território nacional com repertório de burletas e peças. Em 1944, convidado por Assis Chateaubriand, apresenta-se para os pracinhas em Fernando de Noronha. No final dos anos 40, Barreto volta a Pernambuco.

Em Recife, entre 1950 e 1952 constrói o Teatro Almare, onde monta Carlota Joaquina, de R. Magalhães Júnior (1907-1981), representando o papel de D. João VI, sua caracterização mais conhecida. Em 1956, inaugura o Teatro Marrocos, na avenida Dantas Barreto e, depois, na Praça da República, que permanece em atividade até o início da década de 1970, quando é demolido. Nele são montadas comédias de costumes e peças de teatro rebolado com números de strip-tease. Barreto recebe o Troféu Mambembe  do SNT em 1978 pelo conjunto de sua obra e sua contribuição ao teatro nacional e afasta-se dos palcos até a morte, em 1983.

Análise
Conhecido como o "rei da chanchada", Barreto Júnior, desde o início da carreira, demonstra talento para interpretar papéis cômicos. Autodidata, irreverente, aprimora seu estilo de interpretação nas viagens pelo interior do país, como ator mambembe, marcado pela facilidade na comunicação com o público e desenvoltura para improvisações. Hábil na caracterização de tipos farsescos e no uso de bordões, explora a figura do caipira, concretizada em papéis que consolidam seu prestígio como comediante.

Espírito inquieto e com gosto por viagens, após sua passagem pelo grupo Gente Nossa, Barreto Júnior participa de empreendimentos artísticos durante toda a década de 30, criando companhias teatrais cujos repertórios voltam-se para o teatro popular. Comédias de costumes, burletas e revistas são levadas ao palco por seu grupo e recebidas com entusiasmo em capitais ou cidades do interior do Norte e Nordeste.

O dramaturgo e escritor Ariano Suassuna (1927-2014) é um dos admiradores do artista e confirma a influência do ator na sua vida: "Tenho por Barreto Júnior um sentimento misto de admiração, afeto, respeito e gratidão. Admiração por seus grandes recursos de ator popular e gratidão por ter sido ele o desbravador do sertão da Paraíba do Norte no campo do teatro. O circo, o mamulengo, o folheto de cordel e Barreto Júnior com O Grande Marido e O Simpático Jeremias, foram meus primeiros deslumbramentos teatrais em Taperoá"¹.

À frente da Companhia Nacional de Comédias, Barreto Júnior permanece fiel aos gêneros que abraça e, nos jornais, ressaltam-se sempre a comicidade das peças encenadas e o desempenho dos atores da companhia, tida como um grupo sério e talentoso.

Pode-se dizer que Barreto Júnior é um herdeiro da geração Trianon do Rio de Janeiro. A exemplo de Procópio Ferreira (1898-1979) ou Leopoldo Fróes (1882-1932), é um ator que, por conta do sucesso e público cativo, cria uma companhia na qual ele é quase sempre o primeiro ator, escolhe os textos a serem encenados, dirige a montagem e seleciona o elenco.

Vivendo da arte de representar, Barreto Júnior procura manter boas relações com autoridades, pois, depende delas para as temporadas em teatros públicos. Ao levar sua companhia para se apresentar aos pracinhas em Fernando de Noronha, recebe condecorações oficiais e o interventor em Pernambuco, Agamenon Magalhães (1893-1952), chama-o de "o Rondon do teatro brasileiro". Em suas revistas, entretanto, não deixa de criticar os políticos. Contra a censura, diz ser o teatro o retrato da vida. Para ele, qualquer assunto deve ser levado ao palco se acontece na vida real.

Ao voltar para o Recife, o comediante luta para ter um teatro próprio na cidade. Inaugura o Teatro Almare e, depois, o Teatro Marrocos e traz novidades para a cena local. Barreto defende as casas de espetáculos populares e toma iniciativas para facilitar o acesso ao teatro. Antecipa o início das sessões para as 20 horas, de modo que as pessoas possam voltar de ônibus mais cedo para os subúrbios; aos domingos`, realiza récitas matinais e vesperais; barateia o preço dos ingressos e permite aos espectadores vestirem traje esporte, abolindo a formalidade do paletó e gravata como é exigido no Teatro de Santa Izabel.

O público prestigia as duas casas. Nelas, são apresentadas montagens da companhia de Barreto Júnior e de companhias de revistas cariocas. Ele e atores do seu grupo, a exemplo de Lucio Mauro (1927), participam das revistas visitantes com esquetes humorísticos nos chamados “números de cortina”, usados para manter o público entretido nos intervalos. Barreto Júnior abre as portas do seu teatro para revistas locais da Companhia Tra-lá-lá.

Os carros-chefes do repertório da companhia de Barreto Júnior são peças de bom nível dramatúrgico a exemplo de Carlota Joaquina, de R. Magalhães Júnior e A Raposa e as Uvas, de Guilherme Figueiredo (1915-1997). Carlota Joaquina é uma das montagens mais requisitadas na trajetória da companhia. Já a peça de Figueiredo é encenada pela companhia em excursões e, ao estrear no Teatro Marrocos, é saudada pelos colunistas teatrais do Recife por sua fidelidade ao texto e a performance correta do elenco.

A crítica teatral recifense, todavia, divide-se em relação ao teatro de Barreto Júnior. Usam o trabalho da sua companhia em contraponto ao desempenho do Teatro de Amadores de Pernambuco, de Valdemar de Oliveira, apontado como exemplo de um teatro de qualidade. Já o teatro de Barreto Júnior, apesar de profissional, é visto como proposta em declínio, por ser chanchadeira e comercial.

Barreto, todavia, não dá muita atenção às críticas negativas e tem aliados no teatro pernambucano que o defendem quando necessário por sua dedicação de levar o riso ao povo, como atesta o crítico Silvino Lopes ao falar do Teatro Almare: "o teatro do Barreto foi como papa na boca do pobre. Com pouco dinheiro, adquire-se ali o direito de gargalhar à vontade"².

Reconhecimento também feito pelo crítico Adeth Leite ao lembrar a fidelidade de Barreto Júnior ao seu ponto de vista de representar quando o ator comemora 40 anos de carreira: "É um ator que sabe o que quer dentro da ribalta, não existe segredo para ele dentro do palco. Sabe como ninguém contagiar o público com o sadio humorismo sem ferir susceptibilidades, usando a linguagem histriônica apropriada para as horas certas"³.

Notas
1 SUASSUNA, Ariano. In: FIGUEIRÔA, Alexandre. Barreto Júnior: o rei da chanchada. Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 2002.
2 LOPES, Silvino. In: FIGUEIRÔA, op. cit.
3 LEITE, Adeth. In: FIGUEIRÔA, op. cit.

Espetáculos 3

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 1

Abrir módulo
  • FIGUEIRÔA, Alexandre. Barreto Júnior: o rei da chanchada. Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 2002.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: