Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Guilherme Coelho

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 15.05.2017
1950 Brasil / Paraíba / João Pessoa
Guilherme Pontes Coelho (João Pessoa, Paraíba, 1950). Ator e diretor. Adolescente, frequenta curso de extensão em artes da Universidade Federal da Paraíba e tem aula com os artistas plásticos Raul Córdula (1943) e João Câmara (1944). Em seguida, mora no Recife para prosseguir seus estudos secundários e acompanha os espetáculos do Teatro Popular ...

Texto

Abrir módulo

Biografia

Guilherme Pontes Coelho (João Pessoa, Paraíba, 1950). Ator e diretor. Adolescente, frequenta curso de extensão em artes da Universidade Federal da Paraíba e tem aula com os artistas plásticos Raul Córdula (1943) e João Câmara (1944). Em seguida, mora no Recife para prosseguir seus estudos secundários e acompanha os espetáculos do Teatro Popular do Nordeste (TPN), da Companhia Barreto Júnior, no Teatro Marrocos. Toma gosto pelo teatro de revistas ao ver shows do produtor e diretor Carlos Machado (1908-1992).

Entra no Mosteiro de São Bento, em Olinda, em 1966, e engaja-se na pastoral dos jovens. Enquanto estuda filosofia e teologia no mosteiro, faz pedagogia na Universidade Federal de Pernambuco. Passa a morar na comunidade de seminaristas da rua da Boa Hora, em Olinda, onde conhece os artistas da cidade e se aproxima da Associação dos Rapazes e Moças do Amparo. Com eles monta, em maio de 1974, o espetáculo Vivencial I. A peça, criação coletiva com base na colagem de textos diversos, estreia no auditório do Colégio São Bento. Seu caráter transgressor e o interesse despertado no público leva o grupo a se apresentar em outros espaços cênicos.

Com o êxito do Vivencial, deixa a vida religiosa e passa a atuar como mentor intelectual do grupo. Confecciona figurinos e dirige, entre outros, os espetáculos Genesíaco (1974), O Pássaro Encantado da Gruta do Ubajara (1975), Nos Abismos da Pernambucália (1975), Vivencial II (1976) e Sobrados e Mocambos (1977). Em 1978, dirige Repúblicas Independentes, Darling, que leva o Vivencial ao Rio de Janeiro e São Paulo pelo Projeto Mambembão, em 1979.

Participa da criação do Vivencial Diversiones, café-teatro, localizado numa área pobre, próxima ao mangue entre Olinda e Recife. Nesse local, dirige Bonecas Falando para o Mundo (1979) e colabora com Carlos Bartolomeu (1953) e Antonio Cadengue (1954) na elaboração do texto de All Star Tapuias. Sua última participação no grupo acontece em 1981, quando realiza a adaptação e direção do espetáculo Em Cartaz, o Povo.

No final do mesmo ano vai para o Rio de Janeiro trabalhar com Luiz Mendonça (1931-1995). Retorna ao Recife meses depois e, com o fim do Vivencial, trabalha com a Aquarius Produções Artísticas. Em 1983, dirige para a Companhia Práxis Dramática o espetáculo Tal e Qual, Nada Igual 2. Em 1987, muda-se para Brasília e dedica-se ao ensino, voltando anos depois à vida monástica junto aos monges beneditinos.

Análise

A ação teatral de Guilherme Coelho é marcada pela rebeldia, identificação e proximidade com os movimentos de contracultura. Ela nasce no âmbito familiar como resposta à rigidez da educação paterna, que o leva a adotar um comportamento inspirado no movimento hippie, despertando nele a curiosidade por uma vida mística. A primeira montagem da qual participa – Vivencial I – é fruto da intersecção dessas vivências no engajamento como seminarista na pastoral da juventude, acompanhando a renovação proposta pela teologia da libertação, e o desejo de lutar pela liberdade de expressão dos jovens.

Ao criar o Grupo Vivencial (1974-1981) com os jovens egressos da Associação de Rapazes e Moças do Amparo, em Olinda, Coelho, com o grupo, coloca em prática os seus ideais libertários e adota o mesmo espírito associativo dos grupos de criação coletiva que surgem no Brasil naquele período. Para ele, a vinculação afetiva e de ideias é uma forma de confrontar a repressão do regime militar.

Como mentor intelectual do grupo Vivencial, é capaz de reunir os anseios dos integrantes e atuar como catalisador do processo criativo. Em suas palavras: "O grupo compartilhava, absoluta e radicalmente tudo. Cada um participava ao seu modo, com suas histórias de vida, suas deficiências, habilidades e competências. O trabalho de criação era circular e contínuo. Era a pulsação política do desejo de cada participante que constituía a matéria prima de nossos espetáculos"1.

Nesse processo criativo, Coelho e o grupo integram na encenação a influência dos tropicalistas, de grupos como o Oficina (1958), do teatro de revista, e defendem a clara rejeição aos modelos tradicionais de produção teatral. Com a premissa de que todas as coisas têm em si uma dimensão teatral, o grupo ocupa um território de transgressão como forma de desafiar a censura e os bons costumes, pensando o teatro como veículo de formação e expressão do indivíduo, centrado na relação ator-plateia. Tânia Pacheco percebe isso ao comentar em O Globo, a peça Repúblicas Independentes Darling: "sobra ao grupo uma intensa preocupação com o público para quem trabalha, por quem busca lançar no palco a reflexão crítica do dia a dia com seus sonhos e limites"2.

Na fase do Vivencial Diversiones, o gerenciamento do café-teatro fica sob a responsabilidade de Coelho que abre o espaço para travestis, pequenos traficantes, segmentos marginalizados da sociedade, de modo a profissionalizá-los como artistas. O espaço, o figurino e os objetos de cena são todos feitos com material reciclado. Nas montagens prevalece a colagem, marcada pelo hibridismo e pela intertextualidade.

Reflexo dessa opção cênica, Bonecas Falando para o Mundo, com direção de Guilherme Coelho, estreia em 1979 e fica em cartaz por dois anos com elenco composto por bailarinos, comediantes, strip-girls e travestis. O espetáculo alterna números de dança e música com quadros que, de forma escrachada, versam sobre sexo e política, o que leva o escritor João Silverio Trevisan (1944) a destacar, em artigo para o jornal Lampião da Esquina, como o Vivencial atua com um componente de marginalidade radical que passa da vida para o palco e se torna tema e estilo3.

Defensor, até hoje, do fazer teatral como "espaço educativo libertário da resistência", Guilherme Coelho prossegue fiel a um teatro capaz de desafiar o artista e mobilizar o público, "na hora da partilha, celebração e comunhão"4.

Notas
1 COELHO, Guilherme. Conferência apresentada no Congresso Arte/Educação SESC-PE UFPE, Recife, jul. 2014.
2 FIGUEIRÔA, Alexandre. Transgressão em 3 atos: nos abismos do Vivencial. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2011.
3 Id. Ibid.
4 COELHO, Guilherme. Entrevista concedida a Alexandre Figueirôa. Recife, juL. 2014.

Espetáculos 60

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 4

Abrir módulo
  • COELHO Guilherme. Conferência apresentada no Congresso Arte/Educação SESC-PE UFPE, Recife, jul. 2014.
  • COELHO Guilherme. Entrevista concedida a Alexandre Figueirôa. Recife, julho/2014.
  • ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Igor Almeida]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não Catalogado
  • FIGUEIRÔA, Alexandre. Transgressão em 3 atos: nos abismos do Vivencial. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2011.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: