Mário Bortolotto
Texto
Biografia
Mário Bortolotto (Londrina PR 1962). Autor, ator e diretor. Dramaturgo de personagens à margem da sociedade, Mário Bortolotto é o representante contemporâneo mais próximo ao universo do autor Plínio Marcos, de linguagem cáustica e direta. Com produção vasta e constante, Bortolotto marca presença no teatro paulista a partir de meados dos anos 1990.
Em 1982, Mário Bortolotto, Lázaro Câmara e Edson Monteiro Rocha fundam, em Londrina, o grupo de teatro Chiclete com Banana que, a partir de 1987, passa a denominar-se Cemitério de Automóveis. Nesse ano integra um ciclo de novos diretores no Madame Satã em São Paulo, participando ainda de vários festivais no país.
Em 1994 a equipe transfere-se para Curitiba, remontando alguns trabalhos: Uma Fábula Podre, Curta Passagem e Nossa Vida Não Vale Um Chevrolet. Ainda em Curitiba estréia Vamos Sair da Chuva Quando a Bomba Cair e Cocoonings.
O lançamento de Leila Baby no Centro Cultural São Paulo, CCSP, 1996, marca a mudança do conjunto para a capital paulista; e, em 1997, estréia Medusa de Rayban, Será que a Gente Influencia o Caetano?, Postcards de Atacama e Diário das Crianças do Velho Quarteirão, em 1998; e A Lua é Minha, em 1999, e Rolex-O Anti Velox , em 2000.
Em 1997, surpreende como ator em Santidade, texto de José Vicente censurado na ditadura e, finalmente, colocado em cena por Fauzi Arap. Em 1999, está ao lado da atriz Leona Cavalli, em Disk Ofensa Linha Vermelha, de Pedro Vicente, direção de Nilton Bicudo.
Além de teatro, seu grupo passa a produzir também livros, CDs e filmes de curta metragem. Edita o jornal Urbano, divulgando teatro, música e literatura, trabalhos dos integrantes e amigos (livros, CDs, fitas demo, histórias em quadrinhos, filmes, fanzines, etc.).
Medusa de Rayban ganha prêmios e catapulta a presença do grupo em São Paulo. Sobre este texto, comenta a pesquisadora Sílvia Fernandes: "[...] Mas talvez seja Mário Bortolotto quem mais se aproxime, em Medusa de Rayban, de um hiper-realismo no retrato da classe média baixa, assumindo influências de Charles Bukovski e Sam Shepard, associadas a automatismos de comportamento de assassinos de aluguel, bêbados e artistas frustrados, resgatados de um mundo que o dramaturgo conhece bem, e talvez seja o mais próximo do universo dramático de Plínio Marcos".1
Em 1999, em Londrina, estreiam Efeito Urtigão e Felizes para Sempre, texto e direção de Mário Bortolotto.
Em outubro de 1999 apresentam no Sesc Bauru o evento Beat Cemitério, uma jam poética sobre a literatura beat tendo como convidados os escritores Antônio Bivar, Reinaldo Moraes e Ademir Assunção (editor da revista Medusa).
Em 2000 a atriz Fernanda D'Umbra produz a Mostra Cemitério de Automóveis: quatorze espetáculos que permanecem em cartaz entre julho e outubro no Centro Cultural São Paulo - CCSP. A mostra rende a Mário Bortolotto o Prêmio Associação Paulista de Críticos de Artes - APCA, de melhor autor do ano de 2000 pelo conjunto da obra, e o Prêmio Shell de melhor autor por Nossa Vida Não Vale Um Chevrolet, em 2001.
Em 2000 forma-se a Banda Cemitério de Automóveis. Em 2001 estréia Getsêmani e, em 2002, em comemoração dos 20 anos da companhia, apresenta a 2ª Mostra de Teatro, no CCSP, reunindo 79 atores em 26 espetáculos. No mesmo ano, participa como autor da Mostra de Dramaturgia Contemporânea do Teatro Popular do Sesi, TPS, com o texto Deve Ser do C... o Carnaval em Bonifácio, com direção de Fauzi Arap. Ainda em 2002, estréia uma bem-sucedida montagem de outro texto seu, Hotel Lancaster, com direção de Marcos Loureiro.
O crítico Sebastião Milaré analisa o trabalho do dramaturgo: "A obra dramática de Mário Bortolotto tem óbvias influências da literatura em permanente confronto com o sistema de um Kerouac e, mais ainda, de um Bukowski. Na maneira de abordagem, aos problemas e nos fluentes diálogos, todavia, prevalecem a cor local, e os estigmas da classe média brasileira, sufocada em angústias, medos e carências. Numa linguagem teatral contemporânea, Bortolotto vê o inconformismo dos filhos da burguesia em face do sistema burguês, que marcou a arte nos anos 1950 e 1960. E revela a atualidade desse inconformismo seminal e transformador".2
E refletindo sobre o trabalho múltiplo e incessante de Bortolotto, comenta o diretor Fauzi Arap: "Um ator carismático e impecável, autor e diretor de seus próprios textos, o talento de Mário Bortolotto não cabe num único meio de expressão. [...] A par da qualidade, sua produção continuada faz imaginar um trabalhador incansável escondido por trás de sua postura 'rebelde', e faz supor que guarde ainda muitos tesouros escondidos".3
Notas
1. FERNANDES, Sílvia. A violência do novo. Bravo, São Paulo, n. 51, p. 134-139, dez. 2001.
2. MILARÉ, Sebastião. Depoimento sobre Mário Bortolotto. In: SEIS peças de Mário Bortolotto. São Paulo: s.e., 1997.
3. ARAP, Fauzi. Depoimento sobre Mário Bortolotto. In: SEIS peças de Mário Bortolotto. São Paulo: s.e, 1997.
Espetáculos 83
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11/1998 - 1997
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Fontes de pesquisa 12
- A IDÉIA (Monólogo Dadaista). São Paulo: [S.l,], 2008. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Vivo. Não catalogado
- FERNANDES, Sílvia. A violência do novo. Bravo, São Paulo, n. 51, p. 134-139, dez. 2001.
- LIMA, Mariangela Alves de. O teatro paulista. Sete Palcos, Coimbra, Portugal, n. 3, set. 1998.
- Programa do Espetáculo - Alzira Power - 2005. Não Catalogado
- Programa do Espetáculo - Brutal - 2005. Não catalogado
- Programa do Espetáculo - Caixa 2 - 1997. Não Catalogado
- Programa do Espetáculo - Chapa Quente - 2006. Não catalogado
- Programa do Espetáculo - Diário das Crianças do Velho Quarteirão - 1998. Não Catalogado
- Programa do Espetáculo - E Éramos Todos Thunderbirds - 2002. Não Catalogado
- Programa do Espetáculo - O Cobrador - 2007. Não catalogado
- Programa do espetáculo - Gravidade Zero. Não catalogado
- SESCSP. Disponível em: < http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/mostra_detalhe.cfm?programacao_id=197648 >. Acesso em :01 de agosto de 2011. Não catalogado
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MÁRIO Bortolotto.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa438548/mario-bortolotto. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7