Braz Chediak

Braz Chediak, 2022
Texto
Braz Chediak (Três Corações, Minas Gerais, 1942). Diretor, roteirista, ator, escritor. Destaca-se pelos roteiros e pela direção de filmes produzidos entre as décadas de 1960 e 1980, dentre eles adaptações cinematográficas de obras de dramaturgos como Plínio Marcos (1935-1999) e Nelson Rodrigues (1912-1980), além da atuação em filmes do gênero pornochanchada.
Filho de Elias José e de Maria Aparecida Guimarães Chediak, durante a infância no interior trabalha em serviços como balconista e engraxate. Depois de cumprir o serviço militar obrigatório, com 18 anos muda-se para o Rio de Janeiro, onde trabalha como bancário por dois meses. Em seguida, torna-se secretário do escritório do então senador Juscelino Kubitschek (1902-1976). Nessa mesma época, ingressa no Conservatório Nacional de Teatro, conciliando as aulas de interpretação com o trabalho.
Começa sua carreira no cinema como ator no filme O Homem que Roubou a Copa do Mundo (1961) de Victor Lima (1920-1981), ao lado de Grande Otelo (1915-1993), Ronald Golias (1929-2005), Herval Rossano (1935-2007) e Renata Fronzi (1925-2008). No teatro atua, em 1962, na peça Quatro Séculos de Maus Costumes: Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente (1465 - 1537), sob a direção de Paulo Afonso Grisolli (1934-2004).
Por meio de uma bolsa de estudos concedida pelo Ministério das Relações Exteriores, viaja para a Itália em 1962, junto com Ênio Gonçalves (1943-2013), para estudar montagem de cinema. Na volta ao Brasil, depois do início da ditadura militar, dá os primeiros passos na direção cinematográfica. Em 1966, trabalha como assistente de direção de Giorgio Moser (1923-2004) em um programa realizado para a RAI, rede de televisão italiana.
Escreve seu primeiro roteiro para o filme Na Onda do Iê-Iê-Iê (1966), de Aurélio Teixeira (1926-1973), em parceria com o diretor Renato Aragão (1935). Estreia na direção cinematográfica em Os Viciados (1968). Após o fracasso de bilheteria e crítica desse filme, adapta para as telas duas obras de Plínio Marcos nos anos seguintes: A Navalha na Carne (1969) e Dois Perdidos numa Noite Suja (1970).
Chediak obtém sucesso de bilheteria e boa aceitação por parte dos críticos com a adaptação de Navalha na Carne. A ação se desenvolve dentro de um apartamento, no qual as relações humanas entre os três protagonistas – uma prostituta, um cafetão e um homossexual – é marcada pela violência física e psicológica.
A mesma encenação em espaço restrito é retomada em Dois Perdidos numa Noite Suja. Desta vez, o local é um quarto pobre de uma hospedaria carioca. O diretor se aproxima da dramaturgia de Marcos, com diálogos agressivos, secos e cortantes.
No trabalho seguinte, o cineasta se serve mais uma vez da literatura brasileira ao adaptar para a tela Meu Pé de Laranja Lima (1970), de José Mauro de Vasconcelos (1920-1984). Logo depois, Vasconcelos adapta, em parceria com Nelson Xavier (1941-2017), seu livro As Confissões do frei Abóbora, que Chediak dirige em 1971.
Na primeira metade da década de 1970, o diretor se volta para o cinema comercial das pornochanchadas, gênero de grande aceitação por parte do público. Entre os filmes dessa fase estão: Banana Mecânica (1974) – uma paródia de Laranja Mecânica (1971), de Stanley Kubrick (1928-1999) – e O Roubo das Calcinhas (1975). Nesse período, Chediak une-se a Pedro Carlos Rovai (1938-2018), um dos maiores produtores das comédias eróticas que marcam o cinema nacional nos anos 1970.
Após esse “período erótico”, já no final da década, Chediak retoma as adaptações teatrais ao filmar O Grande Desbum (1978), baseado na peça As Desgraças de uma Criança, de Martins Pena (1815-1848). A seguir, realiza uma trilogia inspirada em obras de Nelson Rodrigues: Bonitinha, mas Ordinária (1980), Perdoa-me por me Traíres (1980) e Álbum de Família (1981).
Segundo o crítico Ismail Xavier (1947), esta aproximação não produz trabalhos relevantes. Sobre Álbum de Família, por exemplo, Xavier afirma que Chediak “tropeçou nas dificuldades do tom sério em situações exacerbadas, confirmando os desajeites de uma produção média do cinema brasileiro na lida com o tema”1
Em 2000, escreve o texto da peça teatral Beijos, em parceria com Nelson Rodrigues Filho (1945), baseado no livro de contos A Vida Como ela É (1961), de Nelson Rodrigues. Em 2002, retoma o mesmo livro de Rodrigues para criar o texto teatral Futebol Paixão, com Nelson Rodrigues Filho e Maurício Antoun.
A partir dos anos 2000, dedica-se à literatura, escrevendo contos e crônicas, algumas delas publicadas na imprensa mineira, e o romance Cortina de sangue: uma aventura de Popeye (2011). De volta à sua cidade natal, cria os projetos Pedalarte e Tocarte, nos quais ensina teatro e música, respectivamente, para crianças carentes da cidade.
Apesar de ser reconhecido nacionalmente pelo trabalho no cinema, Braz Chediak transita também pela literatura e pelo teatro, os quais também servem de base para seus trabalhos cinematográficos. Ao considerarmos suas adaptações como um registro da peça encenada num palco”2 , o marco de sua atuação como cineasta coloca-se justamente nessa aproximação entre as linguagens cinematográfica e teatral.
Notas
1. XAVIER, Ismail. O olhar e a cena: melodrama, Hollywood, Cinema Novo, Nelson Rodrigues. São Paulo, Cosac Naify, 2003. p. 198-199.
2. ALONSO, Wagner de Lima; CARDOSO, Joel. Adaptações de ‘Dois perdidos numa noite suja’. In: XIV Congresso da Associação Brasileira de Literatura Comparada (Abralic), 2015, Belém (PA). Anais XIV Congresso Abralic. Belém (PA): Abralic, 2015, v. 1, p. 1-12.
Espetáculos 3
Mídias (1)
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Fontes de pesquisa 10
- ALONSO, Wagner de Lima; CARDOSO, Joel. Adaptações de ‘Dois perdidos numa noite suja’. In: XIV Congresso da Associação Brasileira de Literatura Comparada (Abralic), 2015, Belém (PA). Anais XIV Congresso Abralic. Belém (PA): Abralic, 2015, v. 1, p. 1-12.
- FASSONI, Orlando L. Uma obra maldita de Nelson Rodrigues. Folha de S.Paulo, São Paulo, 22 fev. 1982. Ilustrada, p. 19.
- FREIRE, Rafael de Luna. Atalhos e quebradas: Plínio Marcos e o cinema brasileiro. 2006. 432 p. Dissertação (Mestrado em Comunicação, Imagem e Informação) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2006.
- LAURA, Ida. Fotografia de um ambiente. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 30 abr. 1970. p. 14
- RAMOS, Fernão Pessoa (org). História do cinema brasileiro. São Paulo: Art Editora, 1987.
- RAMOS, Fernão Pessoa; MIRANDA, Luiz Felipe (Orgs.). Enciclopédia do cinema brasileiro. 3. ed. ampliada e atualizada. São Paulo: Senac, 2012.
- RAMOS, Luciano. “Bonitinha”, mas muito anacrônica. Folha de S. Paulo, São Paulo, 05 mar. 1981. Ilustrada, p. 3.
- REIS, Sérgio Rodrigo. Braz Chediak: fragmentos de uma vida. São Paulo: Imprensa Oficial, 2005. (Aplauso – Cinema Brasil.).
- XAVIER, Ismail. Nelson Rodrigues no cinema (1952 – 1999): anotações de um percurso. In:_______. O olhar e a cena: melodrama, Hollywood, cinema novo, Nelson Rodrigues. São Paulo: Cosac Naify, 2003. p. 161-222.
- XAVIER, Ismail. O Cinema brasileiro moderno. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
Como citar
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BRAZ Chediak.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa425616/braz-chediak. Acesso em: 03 de maio de 2025.
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