Ruth Laus
Texto
Ruth de Paula Varella Laus (Tijucas, Santa Catarina, 1920 – Idem, 2007). Galerista, marchand, crítica de arte, jornalista, escritora, museóloga. Funda a Galeria Villa Rica, no Rio de Janeiro, instituição em que defende a divulgação de jovens artistas e a valorização dos itens decorativos do período colonial brasileiro. Exerce também a profissão de jornalista e escritora.
Entre os anos de 1926 e 1930, estuda no Grupo Escolar Cruz e Sousa e na Escola Normal, ambos na cidade catarinense de Tijucas. Nessa época, ainda muito jovem, escreve informalmente na coluna social do jornal local O Binóculo, em que assina com o pseudônimo de Moreninha Sentimental. No ano de 1936, muda-se para a cidade de Passo Fundo, em Rio Grande do Sul, onde reside seu irmão caçula, o crítico de arte e jornalista Harry Laus (1922-1992), de quem será responsável pela organização da produção intelectual e pela fortuna crítica após seu falecimento. Em Passo Fundo, estuda Administração de Empresas, Relações Públicas e Vitrinismo. Em 1943, muda-se para Porto Alegre, onde trabalha no comércio e na área de secretariado. Em 1952, transfere-se para o Rio de Janeiro, onde permanecerá até 2002, quando retorna a Santa Catarina e fixa residência na cidade de Porto Belo.
Em 1956, funda a Galeria Villa Rica na rua Barata Ribeiro, no bairro carioca de Copacabana, misto de galeria de arte e loja de decoração colonial. A escolha do nome da galeria é uma homenagem ao primeiro nome de Ouro Preto, cidade com importante peso na malha historiográfica e artística do país. O espaço é um dos principais pontos de projeção de jovens artistas na cena artística fluminense na década de 1960. Em 1964, por exemplo, promove exposições de Rubens Gerchman (1942-2008), Maria do Carmo Secco (1933-2013) e de Vilma Pasqualini (1930-2012).
Além de abrigar atividades culturais como concursos artísticos, palestras e cursos na área de artes e literatura, o local exerce atividade comercial com enfoque em antiguidades decorativas e mobiliário barroco – o universo colonial de Villa Rica inspira o recorte de itens decorativos e artísticos da galeria. Tal empreendimento é também a oportunidade para Laus criticar a intensa circulação de cópias e falsificações de itens barrocos no mercado secundário de artes.
Em 1965, a galeria encerra as atividades comerciais, e Ruth Laus passa a colaborar com diversos veículos de comunicação como crítica de arte, além de publicar romances e livros ensaísticos sobre arte brasileira e decoração. Entre os anos de 1957 e 1976, colabora como colunista para Revista GAM e O Jornal, importantes publicações sobre a cena artística da época. É autora do livro Nem Módulo nem Máfua, publicado em 1966, sobre a história da decoração no Brasil e da tradição barroca. No livro Decoração Brasileira, lançado em 1977, com ilustrações do pintor e gravurista paraense Quirino Campofiorito (1902-1993), Laus sintetiza com linguagem coloquial as principais características da decoração doméstica brasileira, passando dos itens do mobiliário à estrutura arquitetônica das casas, tendo como referencial identitário nacional o período colonial.
Laus frequenta diversos cursos livres na área cultural: Introdução à Museologia e Direção Teatral no MEC Rio, em 1957; Composição e Análise Crítica, em 1959, oferecido pelo Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro; e História da Estética, entre 1959 e 1961, no Instituto de Belas Artes do Rio de Janeiro. Esses cursos são dirigidos tanto para auxiliar sua atuação como galerista, como para servir de laboratório de pesquisa para seus romances.
Como romancista, Laus ganha destaque com as obras Presença de Thalia (1989), Relações (1994), e Viagem ao Desencontro (1972), trilogia de romance de formação feminina. O tema comum a essas obras é a experiência de mulheres em contextos conservadores da região Sul do país. Os enredos apresentam, tanto na construção subjetiva das personagens como na elaboração das situações literárias, anedotas sobre as frustrações afetivas e o desejo de autonomia social e laboral das mulheres, revelando o perfil feminista da autora.
Entre os anos de 1970 e 1974, Laus atua como secretária da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), instituição em que participa de mesas de discussão e coordena a Semana da Crítica de Arte. Em 1976, torna-se responsável pelo Seminário de Críticos nos Estados e participa da versão internacional da agremiação, a Associação Internacional de Críticos de Arte (Aica).
Ainda que mais conhecida pelo papel como organizadora da obra e fortuna crítica de seu irmão mais novo, Ruth Laus atua ao longo de suas atividades como agente cultural relevante na articulação e na estruturação profissional do mercado de arte brasileiro.
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 8
- LAUS, Ruth. Decoração Brasileira. Rio de Janeiro: Editora Ediouro, 1977.
- LAUS, Ruth. Presença de Thalia. 2. ed. Rio de Janeiro: Laus, 1999.
- LAUS, Ruth. Relações. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1994.
- LAUS, Ruth. Viagem ao desencontro. 2. ed. Porto Belo (SC): Laus, 1999.
- LAUS, Ruth. Villa Rica Apresenta – Um Tempo Feliz. Passo Fundo: Karlla Osório, 2005.
- OVERMUNDO. Memorial Ruth Laus. Disponível em: http://www.overmundo.com.br/guia/memorial-ruth-laus. Acesso em: 05 fev. 2021.
- ROCHA, Karen Gomes da. Representações do sujeito feminino em Presença de Thalia, de Ruth Laus: regionalidade, cultura e subjetividade. 2015. Dissertação (Mestrado em Letras, Cultura e Regionalidade) – Universidade de Caxias do Sul, 2015.
- Ruth Laus - guerreira da arte. Memorial Ruth Laus (1920-2007), 24 mar. 2008. Disponível em: http://ruthlaus.blogspot.com/2008/03/ruth-laus-guerreira-da-arte.html. Acesso em: 26 maio 2011.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
RUTH Laus.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa423805/ruth-laus. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7