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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Arquimedes Memória

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
1893 Brasil / Ceará / Ipu
1960 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Archimedes Memória (Ipu CE 1893 - Rio de Janeiro RJ 1960). Arquiteto e professor. Muda-se para o Rio de Janeiro, em 1911, para estudar desenho na Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Transfere-se para o curso de arquitetura, formando-se em 1917. No ano seguinte, inicia a vida profissional no Escritório Técnico Heitor de Mello, segundo o histor...

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Biografia
Archimedes Memória (Ipu CE 1893 - Rio de Janeiro RJ 1960). Arquiteto e professor. Muda-se para o Rio de Janeiro, em 1911, para estudar desenho na Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Transfere-se para o curso de arquitetura, formando-se em 1917. No ano seguinte, inicia a vida profissional no Escritório Técnico Heitor de Mello, segundo o historiador da arquitetura Yves Bruand, a primeira organização comercial de arquitetura no Brasil dedicada ao desenvolvimento de projetos, acompanhamento e fiscalização de obras. Com o falecimento de Heitor de Mello (1875 - 1920), de quem se torna genro, Memória assume a direção do escritório e cria, com outro membro da equipe, o Escritório Técnico Heitor de Mello, Archimedes Memória e Francisque Cuchet, arquiteto franco-suíço radicado no Rio de Janeiro. Em 1929, a sociedade é desfeita. Mantendo o prestígio que o escritório de Mello alcança no Rio de Janeiro entre 1898 e 1920, Memória permanece na direção até 1935, quando vence o concurso nacional de anteprojetos para o Ministério da Educação e Saúde - MES. Apesar de receber a premiação, seu projeto é preterido pelo ministro Gustavo Capanema (1900 - 1985), que convida, no mesmo ano, o aluno de Memória na Enba, seu estagiário entre 1919 e 1922 e opositor radical de sua arquitetura a partir de 1930, Lucio Costa (1902 - 1998), para o desenvolvimento de um novo projeto para a sede do ministério.

Memória ingressa, em 1920, no corpo docente da Enba, como professor de desenho de ornatos e elementos de arquitetura e composição de arquitetura, disciplina ministrada por Mello até esse ano, data de seu falecimento. Em 1931, Memória assume a direção da escola, substituindo Costa, cuja polêmica reforma de ensino desagrada à maioria dos professores, permanece no cargo até 1934, sendo reconduzido em 1938. É membro da Sociedade Pan-Americana de Arquitetos e da Câmara dos Quarenta, órgão máximo do Partido Integralista.

Comentário Crítico
Archimedes Memória protagoniza um dos episódios centrais da disputa entre os arquitetos acadêmicos e modernos pelo domínio da cena arquitetônica nos anos 1930 no Brasil: o concurso nacional de anteprojetos para a sede do Ministério da Educação e Saúde - MES. Arquiteto de prestígio, dono de um dos maiores escritórios de arquitetura e construção do Rio de Janeiro, Memória transita entre diferentes estilos, valendo-se da justaposição de elementos escolhidos em épocas e lugares diversos para compor seus edifícios. O período mais fértil de sua produção, de 1920 a 1929, corresponde à sociedade com o arquiteto franco-suíço Francisque Cuchet, com quem desenvolve o Palácio Tiradentes, 1921, o Palácio das Grandes Indústrias, 1922, o Jockey Club Brasileiro, 1924/1926, e a sede do Botafogo Futebol e Regatas, 1926/1928.

O Palácio Tiradentes e o Jockey Club vinculam-se de modo geral à tradição clássica, a composição da fachada principal seguindo o mesmo esquema: um corpo central destacado ladeado por dois corpos maciços realçados por esculturas e torreões. Assim como Christiano Stockler das Neves (1889 - 1982), entre outros arquitetos ecléticos, Memória e Cuchet empregam novas técnicas construtivas, revestindo-as completamente para que o funcionamento mecânico da construção, considerado desagradável e artisticamente inaceitável, fique oculto. Contribuem assim para a engenharia brasileira, adotando o aço para a estrutura da cúpula de vidro do plenário do Palácio Tiradentes, o concreto armado para a estrutura principal do mesmo edifício, e essa técnica para a marquise da tribuna de honra do Jockey Club, na época considerada a maior estrutura em balanço de concreto armado da América Latina.

Em 1922, Memória e Cuchet concebem o plano urbanístico da Exposição Internacional do Centenário da Independência, 1922/1923, evento de maior destaque da arquitetura neocolonial. A maioria dos pavilhões é baseada nesse estilo, o Palácio das Grandes Indústrias, 1922, é fruto da reforma da Casa do Trem, 1762/1822, instalação militar colonial construída sobre a Fortaleza de Santiago, 1603, e o Calabouço, 1693. Na reforma, os arquitetos aplicam sobre o antigo edifício elementos definidos pelo estilo como característicos da arquitetura colonial, como o muxarabie, os painéis de azulejo e as telhas de louça, para "aformosear" o edifício "em seu próprio estilo original".1 Essa maneira de intervir em edifícios coloniais é comum entre os defensores do neocolonial, sendo adotado pelos mesmos arquitetos no Paço Imperial, no Rio de Janeiro e por Ricardo Severo (1869 - 1940) na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, São Paulo, em 1938. Na sede do Botafogo, os arquitetos adotam o estilo missões, inspirado da arquitetura colonial da América espanhola tal como fora interpretada nos Estados Unidos, com pequenas referências à arquitetura colonial portuguesa.

Nos anos 1930, Memória se aproxima do art déco e desenvolve obras como a Igreja de Santa Terezinha, 1935, cuja fachada principal, em planos escalonados que culminam na torre sineira, é reforçada pelos elementos decorativos. No concurso do MES, desenvolve uma variante do art déco que se aproxima do discurso nacionalista do neocolonial, o estilo marajoara. O júri, formado pelos engenheiros Eduardo Sousa Aguiar e Natal Palladini, e os arquitetos Salvador Duque Estrada Batalha e Adolpho Morales de los Rios Filho, todos defensores da arquitetura acadêmica, além do ministro Gustavo Capanema, elimina na primeira etapa do concurso 33 projetos que desrespeitam a legislação vigente, entre eles os projetos modernos apresentados por Lucio Costa (1902 - 1998), Jorge Machado Moreira (1904 - 1992), Carlos Leão (1906 - 1983) e Affonso Eduardo Reidy (1909 - 1964), que criticam na grande imprensa e em revistas especializadas a condução e o resultado do concurso.

O projeto vencedor, de Memória, é marcado pela simetria, composição em planos escalonados, contraste entre linhas horizontais e verticais, com ênfase nestas últimas, predominância de cheios sobre vazios e a utilização de elementos decorativos inspirados nos motivos geométricos da cerâmica indígena da Ilha de Marajó. O projeto, entretanto, realizado num concurso cujo objetivo é dar forma à ação civilizadora daquele ministério não entusiasma alguns membros do júri, entre eles Batalha e Palladini, que o consideram inadequado para o programa a que se destina. Capanema, por sua vez, decepcionado com o resultado encomenda pareceres sobre o projeto ao ministro Maurício Nabuco (1881 - 1979), ao engenheiro Fernando Saturnino de Brito (1914 - 196-) e ao inspetor de engenharia sanitária do MES, Domingos da Silva Cunha, que também o desaprovam. Fundamentado nesses pareceres, Capanema paga a premiação a Memória e solicita uma autorização ao presidente Getúlio Vargas (1882 - 1954) para contratar Lucio Costa para o desenvolvimento de um novo projeto, que é realizado por Carlos Leão, Reidy, Jorge Moreira, Ernani Vasconcellos (1909 - 1988) e Oscar Niemeyer (1907 - 2012), com a colaboração de Le Corbusier (1887 - 1965). Diante dessa reviravolta, Memória escreve, em vão, uma carta ao presidente Vargas, acusando de comunistas esse arquitetos, que afinal conseguem vincular suas propostas ao governo, naquele que é o principal responsável por traçar as novas diretrizes culturais da nação, o Ministério da Educação e Saúde.

 

Nota
1 ROCHA-PEIXOTO, Gustavo. O ecletismo e seus contemporâneos na arquitetura do Rio de Janeiro. In: CZAJKOWSKI, Jorge (org.). Guia da arquitetura eclética no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Centro de Arquitetura e Urbanismo, 2000. p. 16.

Fontes de pesquisa 6

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  • BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981.
  • CAVALCANTI, Lauro. Moderno e brasileiro: história de uma nova linguagem na arquitetura (1930 -1960). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006. 246p. Il. P&b.
  • CONDE, Luiz Paulo e ALMADA, Mauro. Panorama do Art Decó na arquitetura e no urbanismo do Rio de Janeiro. In: Guia da arquitetura Art Decó no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Urbanismo, 1997. 123p., il. p&b.
  • DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5). IC R703.0981 C376d v.3 pt. 2
  • ROCHA-PEIXOTO, Gustavo. O ecletismo e seus contemporâneos na arquiteutra do Rio de Janeiro. In: CZAJKOWSKI, Jorge (org.). Guia da arquitetura eclética no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Centro de Arquitetura e Urbanismo, 2000. 216p., il p&b.
  • TERRA, Alcione. Heitor de Mello: trajetória e contribuição profissional na cidade do Rio de Janeiro no período da Primeira República. 2004. 253f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2004.

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