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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Luiz Bolognesi

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 31.01.2024
14.04.1966 Brasil / São Paulo / São Paulo
Luiz Roberto Bolognesi (São Paulo, São Paulo, 1966). Diretor de cinema, roteirista. Sua produção audiovisual se distingue pela abordagem crítica e reflexiva de temas relevantes da realidade brasileira. Destaca-se pelo roteiro e pela direção de documentários premiados, como Ex-pajé (2017) e A última floresta (2021), que dão voz e visibilidade no ...

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Luiz Roberto Bolognesi (São Paulo, São Paulo, 1966). Diretor de cinema, roteirista. Sua produção audiovisual se distingue pela abordagem crítica e reflexiva de temas relevantes da realidade brasileira. Destaca-se pelo roteiro e pela direção de documentários premiados, como Ex-pajé (2017) e A última floresta (2021), que dão voz e visibilidade no Brasil e no exterior ao povos indígenas brasileiros e denunciam as ameaças que sofrem a cultura, o território e a própria existência desses povos. Assina ainda roteiros de filmes aclamados como Bicho de sete cabeças (2000) dirigido por Laís Bodanzky (1969).

Formado em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica  (PUC) de São Paulo, inicia a trajetória profissional como redator no jornal Folha de S.Paulo. Mais tarde, na Rede Globo, atua como redator publicitário, atividade à qual reputa sua iniciação na redação de textos para audiovisual. Aos 24 anos, é convidado para trabalhar em vídeos institucionais, experiência que o leva definitivamente para a área cinematográfica, com a realização, cinco anos mais tarde, do primeiro curta-metragem de ficção, Pedro e o Senhor (1995), adaptação de contos do escritor italiano Italo Calvino (1923-1985).

Nos anos 1990, constata que os curtas dele e de outros diretores têm exibição limitada a festivais de cinema e decide criar, em 1996, ao lado da cineasta Laís Bodanzky, o projeto Cine Tela Brasil1, realizado pela Buriti Filmes, produtora fundada por ambos em 1997. A iniciativa promove o encontro entre cinema e educação, com exibição de curtas em praças públicas das periferias em todo o Brasil e realização de oficinas audiovisuais para pessoas de comunidades de baixa renda.

É com o documentário Cine Mambembe, o cinema descobre o Brasil (1998), resultante do projeto Cine Tela Brasil, codirigido e roteirizado por Bolognesi, e com o filme de ficção Bicho de sete cabeças (2001), do qual escreve o roteiro, que, segundo o próprio roteirista, ele se reconhece cineasta. O longa, que conta os horrores vividos por um adolescente internado à força em um manicômio pelo pai, obtém enorme recepção nacional e internacional.

A experiência cinematográfica se amplia em 2006, quando o cineasta escreve o roteiro para seu primeiro longa-metragem como diretor, a animação Uma história de amor e fúria (2012). A obra, com linguagem de HQ, conta uma história de amor que atravessa 600 anos, retratando três períodos da história do Brasil – a colonização, a escravidão e a ditadura militar –, e desemboca em 2096, época em que guerras são travadas por causa da água. Para Adriana Cruz, do site Cinema com Rapadura, “o enredo é bem construído e ver a história do Brasil contada de forma tão clara e tão bem arquitetada em animação mostra uma nova área cinematográfica que precisa ser mais explorada”. Em 2013, o filme de animação recebe o prêmio máximo no Festival de Annecy (França), o mais importante do gênero no mundo. No ano seguinte, é premiado como melhor animação no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.

Nos anos seguintes, realiza filmes considerados os mais significativos de sua carreira como diretor e roteirista, nos quais o cinema se alia à antropologia, estudada pelo cineasta por cinco anos. Com temática indígena, Bolognesi roteiriza o filme Terra vermelha (2008) em parceria com o chileno Marco Bechis (1955), que dirige o longa. O filme retrata a realidade da tribo Guarani-Kaiowá e alcança grande repercussão internacional, sendo selecionado para o festival de Veneza.

O crescente interesse de Bolognesi pelas culturas e lutas dos povos indígenas amadurece com o roteiro e direção do documentário Ex-pajé, no qual acompanha a realidade de Perpera, um pajé poderoso dos Paiter Suruí antes do contato de seu povo com os brancos em 1969. Com a chegada de um pastor evangélico que prega a pajelança como coisa do diabo, Perpera é forçado a abrir mão de seu papel na tribo e passa a viver com medo dos espíritos da floresta. Quando uma indígena de sua tribo adoece, o ex-pajé resgata seu poder de falar com esses espíritos para curá-la. O filme ganha o prêmio da crítica no Festival É Tudo Verdade, além de outras críticas positivas na imprensa especializada.

Em 2021, lança no festival de Berlim o documentário A última floresta, dirigido por ele e roteirizado com o xamã Davi Kopenawa Yanomami (1956). Ao contrário de Ex-pajé, o novo filme retrata o poder inflexível de resistência aos brancos de um grupo Yanomami, que vive isolado entre o Brasil e a Venezuela há mais de um milênio. O documentário revela ainda a força e iniciativa das mulheres Yanomami, representadas pela líder indígena Ehuana, em um movimento de protagonismo feminino nas lutas de seu povo.

O crítico Denis Klimiuc, do site Cinema com Rapadura, escreve que,“com esse olhar tão importante quanto essencial, o cineasta Luiz Bolognesi mais uma vez defende a raiz brasileira, agora com o espetacular A última floresta, [...] uma joia rara naquilo que se apresenta: um documentário semificcional sobre a vida dos yanomamis no Brasil”. Já Lorenna Montenegro, de Cenas de Cinema, afirma que “a esperança manifesta em A última floresta, que é veículo artístico da pujança da cosmogonia yanomami, se traduz também na possibilidade de que a troca de saberes entre brancos e índios seja horizontal e verdadeira”.

Transitando entre diferentes atividades e gêneros da criação cinematográfica, Luiz Bolognesi constrói um cinema original e poderoso que alia rigor e experimentação no seu fazer. Um cinema que se abre para o novo e o inesperado na realização de filmes de ficção que se encontram com a história do Brasil e documentários que buscam tanto a denúncia quanto a poesia na realidade mais dura dos povos indígenas brasileiros.  

Notas
1.
Coordenado por Bolognesi e Bodanzky, o projeto (lançado em 1996, formalizado em 2004 e encerrado em 2015) leva, ao longo de 19 anos, mais de 1,5 milhão de pessoas a 7.439 sessões de cinema em 759 bairros de periferia em 18 estados e no Distrito Federal, percorrendo mais de 116 mil quilômetros de estradas. Para a maioria dos espectadores, o projeto proporciona a primeira experiência em uma sala de cinema. Além disso, a iniciativa produz, em oficinas audiovisuais, mais de 450 curtas com jovens moradores de periferias. Em 2014, é lançado o livro Cine Tela Brasil e Oficinas Tela Brasil: 10 anos levando cinema a escolas públicas e comunidades de baixa renda, cuja tiragem de quatro mil exemplares é distribuída gratuitamente para escolas públicas e instituições de ensino em todo o Brasil.

Obras 5

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