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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Uma História de Amor e Fúria

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 26.07.2024
2013
Uma história de amor e fúria (2013) é um filme de animação dirigido e roteirizado pelo cineasta paulistano Luiz Bolognesi (1966). Utilizando linguagens e técnicas de HQ, tem como fio condutor três episódios verídicos da história do Brasil e um episódio ficcional situado no final do século XXI.

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Uma história de amor e fúria (2013) é um filme de animação dirigido e roteirizado pelo cineasta paulistano Luiz Bolognesi (1966). Utilizando linguagens e técnicas de HQ, tem como fio condutor três episódios verídicos da história do Brasil e um episódio ficcional situado no final do século XXI.

A animação acompanha a jornada de Abeguar, um guerreiro tupinambá, que se inicia durante os conflitos entre portugueses e franceses na época da colonização do Brasil, em 1565. Imortalizado pelo deus Munhã para derrotar Anhangá, o espírito do mal, Abeguar atravessa 600 anos em busca de sua amada Janaína e, em cada momento da história do Brasil por que passa, vê-se envolvido na luta contra a violência e a desigualdade social.

Em 1825, o personagem encarna como Manuel Balaio durante o período de escravidão no Maranhão, onde protagoniza a revolta chamada Balaiada, mas é morto por Duque de Caxias e tem sua esposa Janaína e suas filhas escravizadas. Abeguar renasce como Cau em 1969, durante a ditadura militar, quando se envolve na luta armada, da qual também faz parte Janaína. Depois de um assalto a banco abortado pela polícia política, é torturado e delata companheiros para proteger Janaína. Com a anistia, torna-se professor na favela, onde é morto pela milícia.

O enredo salta para o Rio de Janeiro de  2096, quando a água é escassa e valiosa, controlada pela AquaBras, poderosa empresa que reprime os adversários com extrema violência. Abeguar renasce como o jornalista JC, desesperançado com a luta árdua, enquanto Janaína surge como guerrilheira disfarçada de prostituta, que tenta matar o presidente da AquaBras. Para salvar a amada da morte, JC se lança com ela por uma janela da corporação e recupera a capacidade de voar como um pássaro.

A ideia de realizar um filme de animação começa a ser delineada por Bolognesi durante a produção do longa Bicho de sete cabeças (2000), da cineasta Laís Bodanzky (1969), do qual foi roteirista. Apaixonado por história em quadrinhos e pela história do Brasil, o cineasta decide unir suas duas paixões na animação.

Uma história de amor e fúria é a estreia de Bolognesi na direção de longa-metragem; até então atuava como roteirista e produtor de cinema. Concluídas depois de oito anos, as etapas de pesquisa histórica e escrita do roteiro envolvem a participação de historiadores e antropólogos na escolha dos períodos da história do Brasil retratados na produção.

Além da linguagem e do traço de HQ, a animação tem a influência de quadrinistas como o estadunidense Frank Miller (1957) e o francês Jean Giraud (1938-2012), conhecido como Moebius, e a tradição do animê japonês e sul-coreano.

Na realização do filme, o diretor decide-se pela técnica tradicional de animação 2D, com desenho feito à mão, com lápis sobre papel. Para reduzir o trabalho investido no processo, trabalha com seis a oito quadros por segundo, um método do animê japonês. A utilização dessas técnicas, porém, busca criar material genuinamente brasileiro.

Quanto aos custos do filme, o cuidadoso planejamento da produção possibilita trabalhar com um orçamento de apenas 4 milhões de dólares, valor muito abaixo dos custos de produções estrangeiras.

A diretora  de arte Anna Caiado utiliza conceitos visuais para expressar o contexto e os sentimentos dos personagens. As texturas e cores de cada episódio são definidas por associação com as estações do ano e os quatro elementos da natureza (ar, fogo, terra e ar). A trilha sonora original mescla elementos eletrônicos com ritmos de cada período histórico e sons de diferentes instrumentos.

A dublagem dos personagens principais, fundamental para a fluidez e a verossimilhança da narrativa, é realizada pelos atores Selton Mello (1972), que assume as diversas vozes do guerreiro imortal, e Camila Pitanga (1977), que dá voz a Janaína. 

A animação é o primeiro longa brasileiro a receber o prêmio máximo na competição oficial do Festival Internacional do Filme de Animação de Annecy (FIFA), o mais importante do mundo no gênero, criado na França em 1960. No Brasil, a animação também é bem recebida, tanto pelo público, quanto pela crítica especializada.

Para Pedro Henrique Ferreira, “[n]a projeção apocalíptica de um Rio de Janeiro em 2096, dominado por milícias e empresas que deixam as camadas inferiores da população largadas à miséria, é possível se perceber o quanto, através do passado e do futuro, Luiz Bolognesi quer realmente chamar atenção para riscos políticos que são da ordem do presente”1.

O crítico Robledo Milani afirma que a animação “é uma obra digna de uma cinematografia adulta e ambiciosa, e por isso merece ser vista com respeito e curiosidade. [...] É um trabalho de grande beleza estética, com um profundo cuidado artístico”2. Por fim, na opinião de Antônio Moreno, cineasta, pesquisador, professor e autor de livros sobre cinema brasileiro, o longa “representa o momento final do grande salto que a animação brasileira já vinha promovendo há muito tempo”3.

Voltado para jovens e adultos, a produção é um marco do cinema de animação no Brasil, provando que é possível problematizar questões sociais que atravessam a história do país com uma proposta que conjuga arte, reflexão e entretenimento. 

Com linguagens artísticas e técnicas contemporâneas, Uma história de amor e fúria encontra espaço não apenas no universo dos fãs de HQ, mas também nas aulas de história para jovens brasileiros, entrelaçando arte e educação. 

Notas

1. FERREIRA, Pedro Henrique. Uma história de amor e fúria, de Luiz Bolognesi (Brasil, 2012). Cinética, [s.l.], out. 2012. Disponível em: http://www.revistacinetica.com.br/amorefuria.htm. Acesso em: 30 set. 2023.

2. MILANI, Robledo. Uma história de amor e fúria. Papo de Cinema, [s.l.], [s.d.]. Disponível em:  https://www.papodecinema.com.br/filmes/uma-historia-de-amor-e-furia/. Acesso em: 2 out. 2023.

3. Apud OLIVEIRA, Eduardo dos Santos. O processo de produção na animação brasileira contemporânea: um estudo sobre Uma história de amor e fúria. Dissertação (Mestrado em Artes) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2022, p.7.

Fontes de pesquisa 9

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