Gero Camilo
Texto
Biografia
Paulo Rogério da Silva (Fortaleza CE 1970). Dramaturgo e ator. Um dos autores mais promissores dos primeiros anos de 2000. Escreve para dar vazão a seu trabalho de intérprete. Encontra a base de sua produção teatral no lirismo que procura extrair das lembranças da infância no Nordeste, confrontadas com a dureza da cidade grande.
Nas suas próprias palavras, é nítida a orientação de seu trabalho tanto de dramaturgo como de ator: "Sou desavergonhadamente poeta. Acho que todo intérprete está à mercê da poesia. Minha vontade é sempre trazer a poesia para este tempo. A poesia é a mãe de todas as artes".1 De fato, as primeiras encenações de suas obras para o teatro revelam um tom marcadamente lírico, cujo resultado positivo ante o público e a crítica se dá rapidamente.
Como militante da Teologia da Libertação, inicia-se, em seu Estado natal, no teatro amador, com objetivos didáticos. Aos 19 anos, no Teatro José de Alencar, em Fortaleza, cursa princípios básicos de teatro. Muda-se para São Paulo e ingressa na Escola de Arte Dramática (EAD), em 1994. Nesse período, integra o elenco de montagens realizadas por alunos, que lhe valem o contato com diretores como Celso Frateschi, em Aquele que Diz Sim, Aquele que Diz Não, de Bertolt Brecht; Cristiane Paoli-Quito, na improvisação Prelúdico para Clowns e Guitarra; e José Rubens Siqueira, em Tartufo, ou O Impostor. Forma-se em 1998.
No processo seletivo da EAD, manifesta vocação dramatúrgica, apresentando sua primeira peça, o monólogo A Procissão, escrita em julho de 1993 e encenada em 1998, com direção e interpretação do próprio Gero. Trata da luta de romeiros pela sobrevivência no sertão, narrada pela personagem Zé, em meio a um cenário composto por lampiões, cruzes e velas.
A proximidade com a platéia, à qual a personagem se dirige diretamente, e a sonoridade do espetáculo rendem sugestões que tiveram boa acolhida pelo crítico Sérgio Salvia Coelho, no Festival Internacional de São José do Rio Preto, São Paulo, em 2004: "Com um ritmo sereno, cheio de silêncios perfumados pelos sons do sertão, executados pelas músicas-cantoras com precisão e malícia, compartilha nessa vigília momentos inesquecíveis. [...] A elegância despojada dos figurinos, o capricho ingênuo dos adereços e instrumentos que formam um altar nessa capela improvisada, mas que bastam para consagrar o ritual, são estojos de veludo para contos instantâneos como o desse menino que fez todos rirem ao pedir dinheiro se dizendo anjo".2
Ainda em 2004, Aldeotas, dirigido por Cristiane Paoli-Quito, confirma a sensibilidade do autor e rende à diretora o Prêmio Shell. Trata-se da história de um poeta, Levi, que envia ao melhor amigo de infância, Elias, na véspera de seu reencontro depois de muitos anos, uma peça de teatro que rememora causos e casos compartilhados por eles.
No mesmo ano, Ivan Andrade e o próprio dramaturgo dirigem Entreatos, composto inicialmente por duas e depois por três peças que abordam temas cotidianos e que são extraídas de seu livro A Macaúba da Terra, de 2002, que apresenta também contos, além de peças curtas. Em Café com Torradas, um homem está com uma senha numa fila de espera e interage com o público; Quem Dará o Veredicto? conta a aflição de uma telefonista que não suporta mais sua rotina e decide não sair mais de casa; em Um Quatro Cinco, há um encontro marcado pelo disque-amizade.
A sua publicação independente, A Macaúba da Terra, já tinha rendido em 2003 a montagem As Bastianas pela Cia. São Jorge de Variedades, com direção de Luís Mármora, baseada nos contos do livro.
Cleide, Eló e as Pêras, dirigido por Gustavo Machado, em 2006, constitui-se de mais três textos do mesmo A Macaúba da Terra. Nas duas primeiras partes, as declarações de amor do vigia Ernesto por Cleide e de Isadora por um homem chamado Eló; na última, o encontro de Ernesto e Isadora. Mais uma vez, há o despojamento do cenário e a dramatização centrada nos atores, características que a dramaturgia de Gero Camilo demanda. Sérgio Salvia Coelho, mais uma vez, não economiza os elogios ao dramaturgo e intérprete ao escrever sobre o espetáculo: "Assim é Gero Camilo: palmo e meio de gente, a humildade nordestina sorridente, até ele pôr a gente no bolso. Solar, enorme de escutar os outros, e sabendo contar o que ouviu. [...] na primeira cena, quando Gero entra e canta, contra a cidade por trás das vidraças, o coração da platéia se abre como na casa de amigos, e nada nos falta mais".3
Gero Camilo dedica-se também ao cinema, chamando a atenção em Carandiru, 2003, de Hector Babenco, e à música, como compositor e cantor.
Notas
1. CAMILO, Gero. Depoimento à Enciclopédia Itaú Cultural de Teatro. São Paulo, 14 mar. 2007.
2. COELHO, Sérgio Salvia. Gero Camilo concilia fé e luta social em peça. Folha de S.Paulo, São Paulo, Ilustrada, 24 jul. 2004. p. 5.
3. COELHO, Sérgio Salvia. Gero Camilo compartilha a paixão em três enredos. Folha de S.Paulo, São Paulo, Ilustrada, 2 ago. 2006. p. 6.
Espetáculos 26
Performances 1
Fontes de pesquisa 6
- CAMILO, Gero. Entrevista concedida à Enciclopédia Itaú Cultural de Teatro. São Paulo, 14/3/2007.
- COELHO, Sérgio Salvia. Gero Camilo compartilha a paixão em três enredos. Folha de S.Paulo, São Paulo, Ilustrada, 2/8/2006. p. 6.
- COELHO, Sérgio Salvia. Gero Camilo concilia fé e luta social em peça. Folha de S.Paulo, São Paulo, Ilustrada, 24/7/2004. p. 5.
- Programa do Espetáculo - Aldeotas - 2004. Não Catalogado
- Programa do Espetáculo - Cleide, Eló e as Pêras - 2006. Não Catalogado
- TEATRO EVA HERZ. São Paulo. Disponível em : < http://www.livrariacultura.com.br/teatro/index.asp?l=resenha&npeca=13 >. Acesso em : 5 de maio de 2011. Não catalogado
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
GERO Camilo.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa359737/gero-camilo. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7