Luis Otávio Burnier
Texto
Biografia
Luís Otávio Sartori Burnier Pessôa de Mello (São Paulo SP 1956 - Campinas SP 1995). Diretor e ator. Intérprete e performer de largos recursos, ligado à antropologia teatral, um dos fundadores e líder do grupo LUME.
Cursa artes plásticas no Conservatório Carlos Gomes de Campinas, formando-se em 1969, ali também freqüentando cursos de interpretação e direção teatral. Entre 1976 e 1980 faz o curso de estudos teatrais do Institut d'Etudes Theatrales da Sorbonne Nouvelle, Paris, França. Conhece as manifestações asiáticas em 1979, num curso sobre kathakali, no Centre Mandapa, e a Ópera de Pequim, com Mme. Tang (do Musée de l'Homme), na Sorbonne. Em 1983 inicia-se na Antropologia Teatral, através de um estágio com Tereza Nawrot, aprofundado, no ano seguinte, com Togeir Wethal e Roberta Carreri, no Odin Theatr de Eugênio Barba. Em 1985, obtém o mestrado na Sorbonne Nouvelle com uma tese sobre formação do ator. Nos três anos seguintes, faz cursos de mímica nas escolas de Etiènne Decroux e Jacques Le Coq, além de dança moderna com Cynthia Briggs.
Essa formação múltipla leva-o a ministrar aulas no curso de Artes Cênicas da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, onde cria o Laboratório Unicamp de Movimento e Expressão, LUME, iniciando a pesquisa e divulgação mais estruturada da antropologia teatral no país. Cria, dirige e interpreta muitos espetáculos, com destaque para Burna, 1974; La Statuaire Mobile, 1978; Curriculum, 1979, Hablando Com El Cuerpo, 1981, e Linguagem do Corpo, 1982. Em 1983 faz a direção de atores de Rei Lear, de Shakespeare, montagem de Celso Nunes para o Teatro dos Quatro.
Após a criação do LUME dirige Macário, 1984; Circo da Paz, de Juan Rulfo, em Campinas, 1986, e O Guarani, de Carlos Alberto Soffredini, em 1986, no Teatro Ruth Escobar. Em 1988 encena Kelbilim, O Cão da Divindade, solo do ator Carlos Simioni. Em 1991 encena Wolzen, uma adaptação livre da Valsa nº 6, de Nelson Rodrigues. Em 1995 inicia a direção de Cnossos, com o ator Ricardo Puccetti, trabalho que não chega a concluir, falecendo em meio ao processo.
Burnier participa, ainda, de incontáveis eventos em diversas partes do mundo, ligados à pesquisa, ensino ou divulgação das técnicas da antropologia teatral. Torna-se membro da International School of Theatre Anthropology, ISTA, em 1992. É o tradutor brasileiro de duas importantes publicações: Além das Ilhas Flutuantes e A Arte Secreta do Ator - dicionário de antropologia teatral, ambos escritos por Eugênio Barba.
Analisando seu trabalho, anota a professora Suzi Frankl Sperber: "Com sensibilidade fina, atores e Luís Otávio apreenderam aquilo que caracteriza o universo dos simples do interior do Brasil. Este que parece arcaico e rústico, é uma sabedoria. Está no não dito, na ação, sobretudo nos gestos, na postura física, no corpo do excluído e das personagens. O que é dito não é representação: fundamentalmente é - dando força ao não dito. Este revela e ao mesmo tempo faculta a contemplação e a quietude. Entrelaça atores, personagens e público, num congraçamento que se assemelha a um ritual e com uma força e uma vitalidade que estão fazendo falta no cenário das artes cênicas".1
Notas
1. SPERBER, Suzi Frankl. O Lume, a pesquisa da arte de ator no Brasil e a expressão do sagrado. Revista do Lume, Campinas, n. 2, p. 56-61, 1999.
Espetáculos 36
Fontes de pesquisa 12
- ALBUQUERQUE, Johana. Luis Otávio Burnier (ficha curricular) In: ___________. ENCICLOPÉDIA do Teatro Brasileiro Contemporâneo. Material elaborado em projeto de pesquisa para a Fundação VITAE. São Paulo, 2000.
- ANUÁRIO de teatro 1994. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 1996. R792.0981 A636t 1994
- BURNIER, Luís Otávio. "Kaoapeie do naturalismo". FESTIVAL DE TEATRO do SESC, 12ª Revista do Congresso de Críticos e Pesquisa Teatral, I. S.L, p. 60, [198(7)].
- BURNIER, Luís Otávio. A arte de ator: da técnica à representação: elaboração, codificação e sistematização de técnicas corpóreas e vocais de representação de ator. 1994. 340 f. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica)-Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1994.
- BURNIER, Luís Otávio. A presença e a ação no tempo ou introdução à pesquisa teatral. Revista do Instituto de Artes da Unicamp, Campinas, 1987.
- BURNIER, Luís Otávio. Kaiapeie do Naturalismo. Revista do Congresso de Críticos e Pesquisa Teatral, s.l., n. 12, 1987.
- BURNIER, Luís Otávio. Louco e visionário. Palco e Platéia, São Paulo, jan./fev., 1987.
- BURNIER, Luís Otávio. Primeiras reflexões sobre o trabalho de Eugênio Barba. Rio de Janeiro: Boletim do INACEN, n. 9, 1987.
- CAFIERO, Carlota. A arte de Luís Otávio Burnier: em busca da memória. Campinas, 1999. 154 p. Projeto experimental do Curso de Jornalismo do Instituto de Artes, Comunicação e Turismo, Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
- CARVALHO, Tania. Ney Latorraca: uma celebração. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004. (Aplauso Especial). 792.092 L358c
- COURI, Norma. As loucuras do poder: com quase quatro séculos, o Rei Lear de Shakespeare chega ao Rio, numa vigorosa montagem. Veja, São Paulo, n. 789, p. 146-147, 19 out. 1983.
- LUIS OTÁVIO BURNIER. Disponível em: < http://www.lumeteatro.com.br/o-grupo/historia/luis-otavio-burnel>. Acesso em: 15 nov. 2017.
Como citar
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LUIS Otávio Burnier.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa359419/luis-otavio-burnier. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7