LUME
Texto
Grupo fundado por Luis Otávio Burnier junto à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), dedicado a reverberar e ampliar seu campo de pesquisa, identificado com a chamada antropologia teatral, criada e difundida por Eugênio Barba.
Em 1985 juntam-se Luis Otávio Burnier, Denise Garcia, Carlos Simioni e Ricardo Puccetti no estabelecimento do Laboratório Unicamp de Movimento e Expressão, LUME. O grupo encontra, na Unicamp, condições de infra-estrutura para desenvolver uma pesquisa sobre técnicas do ator.
Entre as primeiras criações destacam-se Macário, de Juan Rulfo, de Luis Otávio Burnier e Denise Garcia, direção de Burnier em 1985, assim como Guarani, de Carlos Alberto Soffredini, com a Orquestra Sinfônica de Campinas, em 1986. A primeira realização que efetivamente possui o perfil do projeto dá-se com Kelbilim, o Cão da Divindade, uma edição de textos de Hilda Hilst (1930 - 2004), realização solo de Carlos Simioni dirigida por Burnier, em 1988. Com H2Olos, de J. P. Kaletrianos, em 1988; Duo Para Piano e Mímica, de Luis Otávio Burnier e Denise Garcia, em 1989; Nostos, em 1990, novamente de J. P. Kaletrianos, e Wolzen, uma adaptação de Valsa nº 6, de Nelson Rodrigues, em 1991, prosseguem a linha de investigação do grupo.
Num intercâmbio com o Japão, o grupo é dirigido por Natsu Nakaijima, em 1991, um reconhecido mestre de 'butoh', iniciando a reciprocidade e as trocas criativas, tão características da antropologia teatral, com a montagem de Sleep and Reincarnation from the Empty Land. As pesquisas prosseguem, com Valef Ormos, em 1992, e Taucoauaa Panhé Mondo Pé, dois espetáculos de Luis Otávio Burnier. Em 1993 o nome do conjunto é reformulado para LUME - Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais, ano em que a equipe é aumentada, com os atores Renato Ferracini, Raquel Scotti Hirson, Ana Cristina Colla e Jesser Souza, abrindo os experimentos para outros formatos que não os solos e duetos.
Em 1995 a companhia tem seu útimo espetáculo por seu diretor-fundador, Cnossos, de Luis Otávio Burnier, que falece nesse mesmo ano. A criação de Mixórdia em Marcha-Ré Menor utiliza preponderantemente o trabalho de clowns e inclui todos os integrantes do grupo, com direção de Ricardo Puccetti. Seguem-se as produções de Contadores de Histórias, em 1995; Cravo, Lírio e Rosa, em 1996, e uma nova produção internacional - Afastem-se Vacas Que a Vida É Curta - com direção de Anzu Furukawa. Com La Scarpetta o grupo mais uma vez conta com um colaborador, um clown-circense italiano de renome, Nani Colombaioni, realização que une técnicas clownescas e performáticas. Parada de Rua, com direção de Kai Bredholt, leva o grupo a explorar os espaços abertos, em 1998. Café Com Queijo, trabalho baseado na pesquisa antropológica, é criado em 1999, com direção coletiva. Em 2000, é a vez de Um Dia..., agora com direção de Naomi Silman.
A ênfase sobre a interpretação faz o grupo privilegiar três abordagens: a dança pessoal (o treinamento de cada um), a utilização cômica do corpo (especialmente o trabalho de clowns) e a mimese corpórea (uso da expressividade não-realista), colocando o grupo na linha de trabalho que possui na performance seu eixo mais notório. Segue, mesmo com a ausência de Burnier, os princípios que ele legou: "Se o corpo não é tão somente o corpo, mas corpo-em-vida, então ele é o canal por meio do qual o ator entra em contato com aspectos distintos de seu ser gravados em sua memória. O corpo não tem memória, ele é memória, como disse Grotowski. Trabalhar um ator é, sobretudo e antes de mais nada, preparar seu corpo não para que ele diga, mas para que ele permita dizer. Não mostrar o que ele é, mas revelar o que, por meio dele, se descobre ser. Ser artista é antes de mais nada se predispor a revelar. A revelação pede generosidade e coragem".1
O LUME visita diversas cidades e Estados do Brasil, países da América do Sul e do Norte e Europa, sempre combinando apresentações de espetáculos, workshops, demonstrações técnicas e palestras sobre seu método de treinamento e representação. Como atividades de reciclagem e intercâmbio, o grupo participa da International School of Theatre Anthropology, ISTA, na França, Itália e Brasil; do Irvine Work Session com Jerzy Grotowski nos Estados Unidos; do International Seminar Research on Actor´s Technique na Dinamarca, Itália e Brasil.
O LUME também orienta o trabalho de vários profissionais (indivíduos ou grupos) pelo Brasil, além de manter em suas dependências estágios periódicos de treinamento técnico para atores e para aperfeiçoamento de clowns. Além de teses acadêmicas e outras atividades ligadas à Unicamp, o LUME edita semestralmente a Revista do LUME.
Notas
1. BURNIER, Luís Otávio. A arte do ator. Revista do LUME, Campinas, n. 2, 1999.
Espetáculos 35
Exposições 1
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23/10/2015 - 3/5/2014
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 5
- ALBUQUERQUE, Johana. LUME (ficha curricular) In: ___________. ENCICLOPÉDIA do Teatro Brasileiro Contemporâneo. Material elaborado em projeto de pesquisa para a Fundação VITAE. São Paulo, 2000.
- LUME - Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais. Coordenação Ivan Santo Barbosa. Desenvolvido pela Universidade Estadual Campinas. Disponível em: http://www.unicamp.br/lume.
- LUME, catálogo de divulgação, s/d.
- REVISTA DO LUME. Campinas: Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais, n. 2, 1999.
- SESC BELENZINHO. Shi-Zen, 7 Cuias: 17 abril a 6 jun. 2004, SESC SP, São Paulo, SP, 2004. Programa do Espetáculo.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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LUME.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/grupo399363/lume. Acesso em: 07 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7