Luís Delfino
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Biografia
Luís Delfino dos Santos (Desterro, atual Florianópolis, Santa Catarina, 1834 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1910). Poeta, médico. Inicia em sua cidade natal os estudos no colégio de jesuítas, época em que tem "Delfino" acrescentado a seu nome, em homenagem à mãe, Delfina. Transfere-se aos dezesseis anos para o Rio de Janeiro, onde conclui, em 1857, curso na Academia Imperial de Medicina. Atua como clínico, o que lhe permite alcançar conforto material, e dedica-se paralelamente à literatura - a estreia deu-se 1852, com a publicação do conto "O Órfão do Templo" na revista carioca Beija-Flor. Em 1859 torna-se membro da Academia Filosófica, associação literária que reunia acadêmicos de Medicina e médicos. O poema mais famoso de sua primeira fase poética, A Filha d´África, é publicado em 1862, na Revista Popular. A colaboração para a imprensa será longa e produtiva: escreve para diversos periódicos, como Revista Popular, Diário do Rio de Janeiro, A Estação e Gazetinha entre 1861 e 1881, A Vida Moderna, em 1886, e, entre 1898 e 1904, os simbolistas A Meridional, Revista Contemporânea, Rosa-Cruz e Vera-Cruz - nos festejos comemorativos do primeiro aniversário desta revista, é coroado Príncipe dos Poetas Brasileiros. Eleito senador por Santa Catarina em 1891, integra a Constituinte Republicana: como senador, assina seus trabalhos como Luiz Delfino. Seus livros de poemas foram publicados todos postumamente, em 14 volumes editados por seu filho.
Análise
A poesia de Luís Delfino tem a marca das três escolas literárias que vigoraram no fim do século XX: Romantismo, Parnasianismo e Simbolismo - sem, contudo, filiar-se a nenhuma delas. Os versos, em sua maioria lírico-amorosos, se organizam mais frequentemente em sonetos, embora o poeta tenha se dedicado também a composições longas.
Para Péricles Eugênio da Silva Ramos (1919-1992), o verso parnasiano do autor é "plástico e sonoro, por vezes até com complicações sinestésicas que poderiam dar-lhe laivos simbolistas". É o caso, por exemplo, de "A Valsa" (Algas e musgos), um soneto supostamente descritivo, mas cujo ritmo, simulando a dança, leva o eu lírico a expor sua subjetividade:
"Move-se, treme, anseia, empalidece,
Cai, agoniza; acaba-lhe nos braços [...]
Rojar-me ao chão, à terra de repente,
E nas voltas daquela valsa ardente
Morrer em baixo de seus pés calcado!".
Já o Romantismo se revela sobretudo no retrato da mulher amada, intangível e idealizada em sua beleza sublime e na alegria plena que poderia proporcionar um contato íntimo. O poeta pode possuí-la somente a partir da poesia, obsessão que leva inclusive à reescritura poética do Gênesis. Imortalidades III apresenta um Adão pouco preocupado com a expulsão do Éden, já que teria sempre a companhia de Eva, neste caso superior à qualquer divindade.
Outro traço romântico se faz ver na poesia cívica do autor, em que efetua a defesa do abolicionismo, neste aspecto se aproximando a Castro Alves (1847-1871). A respeito da escravidão no Brasil, A Filha d'África verseja: "Podes ser grande... hás de ser grande, ó terra!/ Mas teus braços - um dia - envergonhados,/ Hão de levar do tempo à fronte augusta/ Uma c'roa de séculos manchados!".
O parecer crítico sobre a poesia de Luís Delfino não é consensual. Se Gilberto Amado o considerou "o maior de nossos líricos", Sílvio Romero (1851-1914) afirmou que o autor "não está destinado a representar na história (...) o primeiro papel, a primeira figura de nossa poesia". Para Celso Luft, a divergência nas avaliações "se justifica em parte pelo ecletismo de sua obra".
Como citar
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LUÍS Delfino.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa2841/luis-delfino. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7