Gastão Hofstetter
Texto
Gastão Hofstetter (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 1917 – Idem, 1986). Artista visual. Pioneiro nas artes visuais e gráficas no Rio Grande do Sul na primeira metade do século XX, atua em diversas vertentes. No campo das artes visuais é pintor, gravurista, designer gráfico e ilustrador e, como articulador cultural, inaugura agremiações de artistas, como a Associação Francisco Lisboa, e participa ativamente como associado e na direção do Clube de Gravura de Porto Alegre.
Inicia sua carreira aos 18 anos quando participa, em Porto Alegre, da Exposição do Centenário Farroupilha, evento que recebe, em cinco meses, mais de um milhão de visitantes e inaugura elementos de uso público, como o lago artificial e o monumental chafariz, que permanecem atualmente no Parque da Redenção. A exposição é inspirada no modelo de feiras mundiais e nela estados brasileiros e representantes de outros países divulgam os avanços técnicos, culturais, científicos e produtos da economia industrial, distribuídos em 17 pavilhões. No Pavilhão Cultural, além de exposições de arte, com pinturas e fotografias, são exibidos projetos de arquitetura, peças musicais, obras de literatura e expoentes da mídia impressa, setor que começa a se consolidar no estado, como é o caso das edições Globo.
A Revista do Globo é publicada desde 1929 quando a papelaria e livraria Globo (inaugurada em 1883 em Porto Alegre) desenvolve produtos editoriais de maneira sistemática. Essa publicação passa a ser um importante veículo de cultura, noticiando e divulgando a cena das artes, os acontecimentos sociais e políticos, a culinária, a moda, o humor e os esportes, com propósito declarado de constituir uma ponte entre o Rio Grande do Sul e o resto do mundo. Com tiragem quinzenal, publica o total de 944 edições em quase 40 anos, até 1967.
É nesse contexto que Hofstetter é contratado, em 1929, como ilustrador da revista e capista dos livros editados pela editora Globo durante a década de 1930. Nesse período produz cinco capas entre as quais se destaca O caso do delator (1940), do inglês Edgar Wallace (1875-1932), um dos livros da Série amarela, que oferecia literatura policial, suspense e horror. Compõe a capa posicionando em primeiro plano a metade do rosto de uma figura masculina de chapéu, que aparece de modo furtivo, emoldurada atrás de uma janela de vidro, com o título na parte inferior esquerda. A arte privilegia o uso de cores complementares em alto contraste. Os traços grossos do desenho são apresentados com ângulos intensos, de modo análogo ao entalhe utilizado na xilogravura.
A relação com essa técnica não é casual. Hofstetter, assim como muitos outros artistas de sua geração, frequenta aulas de gravura com os professores alemães Julius Schmischke (1890-1945) e Ernest Zeuner (1895-1967). Este último, além de ilustrador, ensina, na Seção de Desenho – também conhecida como Oficina de Artes Gráficas – da Livraria do Globo, diversas técnicas de impressão e faz circular revistas europeias de artes gráficas, com inovações visuais e tipográficas apresentadas por grupos de vanguarda como a Bauhaus, De Stijl e construtivismo russo1.
No final da década de 1940 o pleno sucesso comercial faz com que uma agência de propaganda seja concebida internamente na revista para atender suas demandas de publicidade. Hofstetter integra o departamento de arte com outros artistas, como Edgar Koetz (1914-1969) e Nelson Boeira Faedrich (1912-1994), que trabalham na concepção de serviços como logotipos, embalagens, cartazes e anúncios.
Também faz parte da equipe que assina o projeto gráfico do jornal A Hora, periódico que surge em Porto Alegre, em 1954, trazendo inovações como o amplo uso de fotografias, ilustrações com cores e uma diagramação mais alinhada a tendências recentes.
Em paralelo ao trabalho como designer gráfico, organiza com colegas artistas maneiras para fortalecer a presença no circuito mais restrito das artes plásticas. Assim, é fundada em 1938 a Associação Rio-Grandense de Artes Plásticas Francisco Lisboa, conhecida como Chico Lisboa, que faz frente à presença tradicional do Instituto de Belas Artes, organizador do já conhecido Salão da Escola Nacional de Belas Artes. No mesmo ano de fundação, a Chico Lisboa abre o 1º Salão de Artes Plásticas, tendo Hofstetter, Carlos Scliar (1920-2001) e João Faria Viana (1905-1975) como organizadores e participantes.
Na década de 1950, atua como diretor do Clube da Gravura de Porto Alegre, cuja premissa era uma democratização das edições, com produção cuidadosa do ponto de vista técnico e socialmente engajada, com temas de imediata identificação com o universo gaúcho, como trabalhadores e a cidade. Esse formato vinha ganhando espaço desde 1935, com a reprodução de xilogravuras e linoleogravuras2 nas publicações Revista do Globo e Novela (1936-1938), ambas com o selo da Livraria do Globo.
Em 1954, participa da primeira exposição coletiva de artistas que inaugura o Museu de Arte Ado Malagoli do Rio Grande do Sul (Margs) e nove de suas obras, entre pinturas e gravuras produzidas entre 1952 e 1978, estão catalogadas no acervo.
Sua temática está ligada a representação da paisagem de Porto Alegre, suas transformações sociais e urbanísticas, com destaque para a região central e para o bairro Navegantes e adjacências. Sua obra se caracteriza por cores intensas com influência do modernismo. Realiza poucas exposições individuais sendo a mais importante a de 1973 no Margs, onde apresenta 27 pinturas a óleo de pequeno formato. Em 2022, o curador Marcello Dantas (1963) divulga que Hofstetter é um dos artistas da 13ª Bienal do Mercosul de 2022.
Transitando por diferentes movimentos de vanguarda, Gastão Hofstetter figura entre os importantes nomes das artes visuais do sul do país, tendo seus trabalhos como marca de importantes veículos de mídia e de publicações literárias.
Notas
1. Os três movimentos têm o construtivismo como base estética e técnica de sua produção, prezando pela simplicidade das formas por meio do uso de figuras geométricas e ausência de ornamentos. Estendem-se para áreas como o design e a arquitetura, como no caso da Bauhaus, fundada pelo arquiteto alemão Walter Gropius (1883-1969) na República de Weimar (atual Alemanha), e do movimento holandês De Stijl. Estendem-se também para a propaganda política e as artes gráficas como o construtivismo russo, diretamente atrelado ao comunismo.
2. Técnica semelhante à xilogravura, trata-se de um tipo de impressão em que se utiliza uma placa de linóleo – que receberá a tinta – sobre uma superfície de madeira.
Exposições 8
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18/2/1954 - 27/2/1954
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26/10/1983 - 13/11/1983
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2/6/2014 - 10/10/2014
Fontes de pesquisa 11
- CATÁLOGO de obras: Gastão Hofstetter. Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Disponível em: https://www.margs.rs.gov.br/catalogo-de-obras/G/36425/. Acesso em: jun. 2022.
- CONSTRUTIVISMO na arte: o movimento, suas influências e repercussões. Laart, 23 mar. 2021. Disponível em: https://laart.art.br/blog/construtivismo-arte/. Acesso em: 28 jun. 2022.
- DE STIJL: entenda a proposta do movimento liderado por Piet Mondrian. Laart, 3 set. 2020. Disponível em: https://laart.art.br/blog/de-stijl/. Acesso em: 28 jun. 2022.
- EXPOSIÇÃO de Gastão Hofstetter. Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1973. https://acervo.margs.rs.gov.br/index.php/atividades-do-margs/exposicao-de-gastao-hofstetter/#&gid=tainacan-item-document_id-11020&pid=1. Acesso em: 28 jun. 2022.
- GONÇALVES, Cassandra de Castro Assis. Clube de gravura de Porto Alegre: arte e política na modernidade. 2005. 163 f. Dissertação (Mestrado em História da Arte) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
- LINOGRAVURA. Gravurafbaup’s blog. Disponível em: https://gravurafbaup.files.wordpress.com/2009/11/linogravura.pdf. Acesso em: 26 jul. 2022.
- PINACOTECA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Gravura e crítica social: 1925-1956: de 26 out. 2019 a 24 fev. 2020. São Paulo, SP. Disponível em: http://pinacoteca.org.br/programacao/gravura-social-moderna/. Acesso em: 29 mar. 2021.
- RAMOS, Paula Viviane. Artistas ilustradores: a Editora Globo e a constituição de uma visualidade moderna pela ilustração. 2007. 446 f. Tese (Doutorado em Artes Visuais) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.
- ROSA, Renato; PRESSER, Décio. Dicionário de artes plásticas no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora da Universidade, 1997.
- SANTOS, Wanderson Oliveira dos. A exposição do centenário da Revolução Farroupilha através da mídia. In: ENCONTRO DE HISTÓRIA DA ANPUH-RIO, 18., Niterói, 2018. Anais [...]. Niterói, 2018. Disponível em: https://www.encontro2018.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1529873270_ARQUIVO_eventouff.pdf. Acesso em: jun. 2022.
- SCARINCI, Carlos. A gravura contemporânea no Rio Grande do Sul (1900-1960): debate. Museu de Arte do Rio Grande do Sul: Porto Alegre, 1980.
Como citar
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GASTÃO Hofstetter.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa274821/gastao-hofstetter. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7