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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Ugo Giorgetti

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 28.11.2022
1942 Brasil / São Paulo / São Paulo
Ugo César Giorgetti (São Paulo, São Paulo, 1942). Roteirista, diretor, publicitário. Ugo Giorgetti realiza seus longas-metragens no período de renovação do cinema paulista, nos anos 1980, enfatizando as transformações da arquitetura e da urbanística da cidade de São Paulo. Personagens marginalizados e o conflito deles com classes abastadas, além...

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Ugo César Giorgetti (São Paulo, São Paulo, 1942). Roteirista, diretor, publicitário. Ugo Giorgetti realiza seus longas-metragens no período de renovação do cinema paulista, nos anos 1980, enfatizando as transformações da arquitetura e da urbanística da cidade de São Paulo. Personagens marginalizados e o conflito deles com classes abastadas, além da luta política da geração dos anos 1960 são também temas recorrentes em sua obra. 

Entre 1963 e 1965, cursa filosofia na Universidade de São Paulo, sem concluir a graduação. O interesse por cinema começa nos anos 1960, quando entra em contato com o neorrealismo italiano e a nouvelle vague francesa. Em 1966, começa a trabalhar na  agência de publicidade Alcântara Machado, chegando a atuar como diretor da empresa. Até os anos 1980, passa por diversas agências publicitárias e se torna um dos principais diretores de comerciais do país. Paralelamente, realiza seus primeiros filmes para cinema: Campos Elíseos (1973), curta documental sobre o bairro homônimo de São Paulo, e o média documental Rua São Bento, 405 – Edifício Martinelli (1976).

Em 1977, inicia as filmagens de um documentário sobre o pugilista Éder Jofre (1936) e sua família. Rodado em 16mm, com equipamentos emprestados, Quebrando a cara só é concluído em 1986, mas não é lançado comercialmente. Durante o percurso de gravação do filme, escreve e dirige a peça teatral Humor bandido (1982) e filma, com baixo orçamento, seu primeiro longa ficcional, Jogo duro (1985), de forma cooperativa com outros profissionais da publicidade. No filme, um ex-pugilista, que toma conta de um casarão abandonado no bairro paulistano de Pacaembu, encontra uma mulher e sua filha vivendo clandestinamente no local. Quem as coloca lá é o vigia da rua. Com esse argumento, Giorgetti retrata três personagens marginalizados ocupando um bairro rico, ainda que decadente, de São Paulo. A  obra, que trabalha o registro cômico e contestador, é bem recebida pela crítica especializada e pelos festivais. 

Realiza, em seguida, Festa (1989), com melhores condições de produção e apoio da Embrafilme. Na obra, um jogador de sinuca, seu comparsa e um gaiteiro são chamados para entreter a festa de um senador da Nova República. Enquanto o evento  transcorre no andar de cima para a elite, os três contratados esperam ser chamados no andar de baixo, com os demais serviçais da casa. Em determinado momento de Festa, aparece em cena outro contratado para entreter os convidados: um ator para discursar a favor do senador. Ele se prepara no andar de baixo, mas logo é chamado a subir, pois é famoso. Conforme proclama o comparsa do jogador de sinuca, o ator é “alguém”. O filme é o grande vencedor do 17º Festival de Gramado. 

Em 1994, lança Sábado, ampliando as questões de Jogo duro e Festa. Uma equipe de publicitários vai rodar um comercial para televisão em um prédio de passado glorioso no centro de São Paulo. Ali, a riqueza do comercial se opõe  à pobreza dos moradores. Conforme aponta o crítico Inácio Araújo (1948): “Os filmes de Ugo Giorgetti visam habitualmente um país em transformação permanente e frenética, o Brasil, e impõem uma sutil, embora intransponível distância, entre o que se vê e o que não se vê”.1

Em 1996, funda a produtora SP Filmes, para realizar Boleiros – Era uma vez o futebol (1998), feito com o apoio da Lei de Incentivo Federal à Cultura. O filme ganha continuação em 2006, com Boleiros 2 – Vencedores e vencidos. Os dois longas-metragens realizam um apelo crítico ao mundo do futebol e de seus jogadores a partir de um tom marcadamente memorialístico. São narrados por jogadores de várias gerações que se reúnem em um bar para falar de futebol, com o eixo narrativo estruturado em episódios em flashbacks. 

Em 2002, realiza O príncipe, um balanço crítico sobre os opositores da ditadura militar. O filme evoca o presidente da República Fernando Henrique Cardoso (1931) para enfatizar personagens hipócritas da esquerda que lutaram contra o regime e ganharam fortunas com empreendimentos baseados em sua resistência política, completamente entregues ao comodismo institucional. 

Seguem-se a esse filme, Solo (2009), monólogo do ator Antônio Abujamra (1932-2015), que tem como foco o estranhamento do personagem em relação a si mesmo e ao mundo que o cerca; e Cara ou coroa (2012). Este último retrata uma trupe teatral nos anos 1970 e a relação dela com a censura e a atividade política clandestina durante a ditadura militar.2

Sem trabalhar com publicidade desde os anos 1990, o cineasta se dedica aos telefilmes feitos para a TV Cultura, dos quais se destacam Uma outra cidade (2000), Pizza (2005), Em busca da pátria perdida (2008), Paredes nuas e Solo e Cidade imaginária (2014). Faz também a direção cênica da ópera Norma (2010), composta pelo italiano Vincenzo Bellini (1801-1835). Em 2015, finaliza o longa-metragem Uma noite em Sampa.

O que distingue o estilo de Giorgetti é a construção do humor crítico e melancólico – não aposta na piada e no riso fáceis – basedo nos diálogos e na encenação. Sua obra busca encontrar uma conexão com o que o incomoda no Brasil, seja pelo absurdo das situações, seja pela lembrança do passado.

Notas

1. ARAÚJO, Inácio. Arte da história e do invisível preenche o filme. Folha de S.Paulo, São Paulo, 15 ago. 2002. Ilustrada, p. E1.

2. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

Obras 3

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Fontes de pesquisa 11

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  • ALPENDRE, Sérgio. Cara ou Coroa. Revista Interlúdio, São Paulo, 11 set. 2012. Disponível em: http://www.revistainterludio.com.br/?p=4012. Acesso em: 1 set. 2015.
  • ARANTES, Silvana. A geração da náusea. Folha de S.Paulo, São Paulo, 9 ago. 2002. Ilustrada, p. E11.
  • ARANTES, Silvana. Giorgetti mostra intelectualidade sombria. Folha de S.Paulo, São Paulo, 13 jun. 2001. Ilustrada, p. E4.
  • ARAÚJO, Inácio. Arte da história e do invisível preenche o filme. Folha de S.Paulo, São Paulo, 15 ago. 2002. Ilustrada, p. E1.
  • ARAÚJO, Inácio. ‘Sábado’ observa contradições do Brasil. Folha de S.Paulo, São Paulo, 7 abr. 1995. Ilustrada, p. 7.
  • ARAÚJO, Inácio. “Boleiros” aborda a fugacidade do tempo. Folha de S.Paulo, São Paulo, 24 abr. 1998. Ilustrada, p. 11.
  • BRASIL, Ubiratan. Bairrismo é driblado pela simpatia dos personagens. O Estado de S. Paulo, 24 abr. 1998.
  • CARNEIRO, Gabriel. Ugo Giorgetti e o porão da sociedade. Pós-créditos, São Paulo, 19 dez. 2014. Disponível em: http://revistaposcreditos.com/cinema-2/ugo-giorgetti-e-o-porao-da-sociedade/. Acesso em: 1 set. 2015.
  • DIRETOR foge ao debate e vira “camelô de filme”. Folha de S.Paulo, São Paulo, 2 jul. 1989. Ilustrada, p. E-6.
  • GIORGETTI, experiência obtida nos comerciais. Filme Cultura, Rio de Janeiro, n. 48, p. 158-160, nov. de 1988.
  • ORMOND, Andrea. Festa. Estranho Encontro, Rio de Janeiro, 4 nov. 2005. Disponível em: http://estranhoencontro.blogspot.com.br/2005/11/festa.html. Acesso em: 1 set. 2015.

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