Cora Coralina
Texto
Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (Cidade de Goiás, Goiás, 1889 – Goiânia, Goiás, 1985). Poeta, contista. Sua obra é marcada pelo desapego formal, pelo uso de linguagem coloquial e por tematizar o cotidiano a partir de questões sociais e existenciais. A vinculação entre vida e criação é a linha de força de sua poética.
Pertencente a uma família de origem aristocrática, passa a infância e a adolescência na Cidade de Goiás. É educada em casa por uma mestre-escola, cursando apenas os quatro primeiros anos primários. Apesar da pouca escolaridade, aos 14 anos começa a publicar contos e poemas em periódicos da cidade sob o pseudônimo de Cora Coralina, que adota por pressão familiar. Na mesma época, frequenta as reuniões do Clube Literário Goiano, onde conhece o advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas. Em 1911, foge com ele para o interior paulista, e os dois se casam oficialmente em 1926.
Durante os anos de casada, escreve, porém não publica sua produção. Como sua família e, de modo geral, a sociedade da época, Cantídio não é simpático à ideia de uma mulher exercendo atividades intelectuais. Cora, no entanto, contribui com artigos para jornais das regiões de Avaré e Jaboticabal. Com a morte do marido, em 1934, passa a morar na capital paulista e, para sustentar a si e aos filhos, torna-se vendedora de livros na editora de José Olympio (1902-1990). Em 1956, volta para a cidade de origem, tornando-se doceira, profissão que a sustenta até o fim da vida. Em 1965, aos 76 anos, publica o primeiro livro, Poemas dos becos de Goiás e estórias mais, pela mesma Editora José Olympio. Entre poesia, conto e literatura infantil, publica um total de nove obras, cinco delas em edições póstumas.
A infância na cidade natal, muitas vezes retratada em cenas que se passam no espaço doméstico, é um dos temas recorrentes de sua obra, a exemplo do poema "Antiguidades": "Quando eu era menina / bem pequena, / em nossa casa, /se fazia um bolo, / assado na panela / com um texto de borralho em cima". O título desse e de outros poemas da autora, como "Velho sobrado", "O passado..." e "Velho", antecipa que o vivido é a matéria dessa poética, ancorada no filtro da memória autobiográfica. Obra e vida são indissociáveis nos textos de Cora Coralina, em que se misturam a figura pública da escritora e a da senhora doceira que rememora o passado de menina. Mesmo em suas publicações infanto-juvenis, como O tesouro da casa velha, em que são narradas aventuras de tom imemorial, os contornos biográficos estão presentes: os fantasmas são parentes de Cora, os tesouros estão escondidos na casa de sua família. Nesse sentido, a cidade de Goiás – e seu glorioso passado colonial – ocupa lugar relevante em sua obra, uma vez que a escritora associa de forma tenaz a cidade natal e a biografia. Por vezes, ao versar sobre o sobrado familiar (ligado intrinsecamente à história da cidade), o eu lírico parece demonstrar certa nostalgia das formas de vida do Brasil colônia ("Homens sem pressa, / talvez cansados, / descem com leva / madeirões pesados, / lavrados por escravos / [...] Passantes cautelosos / desviam-se com prudência. / Que importa a eles o sobrado?").
Embora não tenha participado ativamente do movimento modernista, a linguagem simples e coloquial, a mistura de poesia e prosa e o registro do dado local em sua obra guardam afinidades com a estética inaugurada pelo movimento, evidenciando o sincronismo da autora com seu tempo. Cora, aliás, cultiva amizades no meio literário, mantendo o hábito de se corresponder com escritores como Monteiro Lobato (1882-1948) e Miguel Jorge (1933), com os quais compartilha textos e impressões sobre a cena literária da época. Contudo, seu trabalho passa a ser reconhecido somente quando, em 1979, Carlos Drummond de Andrade (1902-1981) lhe escreve uma carta celebrando sua produção. Em 1983, a escritora recebe o título de doutora honoris causa da Universidade Federal de Goiás (UFG) e, no mesmo ano, torna-se a primeira mulher a vencer o prêmio Juca Pato com o livro Vintém de cobre: meias confissões de Aninha.
Construída a partir de memórias da infância simples e da vida difícil, a obra de Cora Coralina se volta para o prosaico, o local, o particular, para chegar ao universal. Seu olhar atribui grandeza às coisas e às pessoas que a sociedade considera pequenas, num exercício lírico em que a vida é a grande fonte de poesia.
Espetáculos 1
Exposições 2
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29/9/2009 - 13/12/2009
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11/1/2011 - 13/3/2011
Fontes de pesquisa 2
- REIMER, Ivoni Richter. Vida e obra de Cora Coralina. [Entrevista concedida a] Ebe Lima Siqueira. Caminhos, Goiânia, v. 18, pp. 930-942, 2020. Disponível em: http://revistas.pucgoias.edu.br/index.php/caminhos/article/view/8549. Acesso em: 26 out. 2022.
- TAHAN, Vicência Bretas. Cora Coragem, Cora Poesia. Global Editora, 1989.
Como citar
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CORA Coralina.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa2609/cora-coralina. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7