Carlos Bratke
Texto
Carlos Bratke (São Paulo, São Paulo, 1942 - Idem, 2017). Arquiteto e urbanista. Gradua-se em 1967, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Durante o período universitário, trabalha como desenhista no escritório do pai, o arquiteto Oswaldo Bratke (1907-1997), e realiza estágio no escritório Ernesto Bofil e Domingo Mazzei Arquitetos. Em 1969, complementa a formação acadêmica com pós-graduação em planejamento e evolução urbana, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP). Um ano antes, abre escritório próprio com o arquiteto Renato Lenci. Em 1974, desfaz a sociedade e inaugura o escritório Carlos Bratke - Arquiteto.
Nos anos 1980, atua como professor nos cursos de arquitetura da Universidade Mackenzie e do Centro Universitário Belas Artes. Na década seguinte, assume cargos em instituições profissionais e culturais: diretor do Departamento Paulista do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), no biênio 1992-1993; diretor do Museu da Casa Brasileira (MCB), entre 1992 e 1995; e presidente e conselheiro da Fundação Bienal de São Paulo, de 1999 a 2002.
Bratke é reconhecido em diversas ocasiões pela atividade profissional. Em 1985, recebe o Prêmio Rino Levi na premiação anual do IAB/SP; em 1997, conquista o Prêmio pelo Conjunto da Obra, no 15º Congresso Brasileiro de Arquitetos, e o Grande Prêmio, na 3ª Bienal Internacional de São Paulo; e, em 2007, o Prêmio Conjuntos de Edifícios na 11ª Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires.
A produção do arquiteto encontra-se registrada em diversas publicações, como Cadernos Brasileiros de Arquitetura - Arquiteto Carlos Bratke, lançado em 1985, Carlos Bratke - Arquiteto/Architect, publicado em 1995 e Carlos Bratke, dois livros homônimos editados, respectivamente, em 2005 e 2009.
Nos anos 1980, Carlos Bratke integra um conjunto de arquitetos que se tornam conhecidos como o grupo dos “não alinhados”, entre eles, Tito Lívio Frascino (1940), Vasco de Mello, Roberto Loeb (1941), Eduardo Longo e Pitanga do Amparo (1951). Formados nos anos 1960, a maior parte deles pela Universidade Mackenzie, esses arquitetos opõem-se aos princípios hegemônicos da chamada escola paulista. Segundo o grupo, as possibilidades de investigar as grandes estruturas construídas em concreto armado aparente e os espaços integrados por rampas e um vazio central tinham se esgotado. Transformam-se em receituário rígido, desprovido da força propositiva original. A crítica coincide com o início do processo de abertura política da ditadura militar e com a retomada do debate arquitetônico em periódicos especializados, cursos de pós-graduação e ciclos de debates promovidos pelos departamentos carioca e paulista do IAB1. Nesse novo contexto de transformações internas e externas à profissão, o consenso desfaz-se em meio a duras polêmicas travadas por arquitetos genericamente classificados como modernos, ainda comprometidos com o programa da vanguarda paulista dos anos 1960, e pós-modernos, engajados em perseguir novos rumos de investigação.
No caso específico de Carlos Bratke, esses novos caminhos têm como campo de provas a avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, em São Paulo. Nesse espaço, em conjunto com a Construtora Bratke & Collet, o arquiteto constrói dezenas de edifícios entre 1975 e 1995. O interesse pelo local dá-se pela oferta de terrenos de baixo custo e pelo potencial de desenvolvimento econômico da região. Frutos de investimento privado no mercado imobiliário e destinados ao setor terciário em expansão, os edifícios são construídos à medida que terrenos são adquiridos, sem planejamento prévio, seguindo apenas as normas urbanísticas vigentes. O arquiteto dedica-se à investigação da tipologia do arranha-céu, baseando-se nas demandas dos investidores, no aproveitamento máximo dos terrenos, nas disponibilidades materiais e nos requerimentos funcionais e urbanísticos.
Seguindo a conceituação do arquiteto americano Louis Kahn (1901-1974), Bratke distingue as áreas de trabalho - espaços servidos -, das de apoio e circulação - espaços servidores -, estabelecendo entre elas jogos formais distantes da contenção geométrica e do compromisso ideológico da escola paulista. Constituídos de lajes feitas de concreto armado e protendido e sustentadas por pilares periféricos em concreto armado, os espaços servidos são envelopados por cortinas de vidro, interrompidas por blocos de apoio, mais densos, recortados e verticais. Essa solução é adotada em várias obras do arquiteto, com destaque para o Edifício Morumbi Plaza, projeto de 1980, ganhador do Prêmio Rino Levi, em 1985. Apesar de consagrado, Bratke é criticado pelo filósofo espanhol Eduardo Subirats (1947), membro do júri, que não considera o edifício uma obra de arquitetura pelo vínculo do projeto com o mercado imobiliário especulativo. Bratke defende o projeto e reivindica o direito a outros preceitos de arquitetura, distintos da consagrada arquitetura moderna paulista.
Desde o final da década de 1980, como a maior parte dos arquitetos comprometidos com a construção de edifícios comerciais e de serviços, Bratke desloca a atenção dada aos elementos estruturais e funcionais para a volumetria e os materiais. A partir dessa visão, projeta prédios como esculturas de aço e vidro, de qualidade estética inferior aos produzidos anteriormente, porém, mais ajustados à nova face da cidade dos negócios.
Nota:
1. BASTOS, Maria Alice Junqueira. A retomada do debate arquitetônico. In: Pós-Brasília: rumos da arquitetura brasileira. São Paulo: Perspectiva, 2003. p. 53-63.
Exposições 4
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20/9/1967 - 19/10/1967
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22/9/1968 - 8/1/1967
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6/11/1980 - 30/11/1980
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Fontes de pesquisa 13
- ARTIGAS, Rosa. Carlos Bratke. São Paulo: J. J. Carol Editora, 2009.
- BASTOS, Maria Alice Junqueira. Pós-Brasília: rumos da arquitetura brasileira: discurso, prática e pensamento. São Paulo: Perspectiva: Fapesp, 2003. 277 p., il. p&b.
- BASTOS, Maria Alice Junqueira; ZEIN, Ruth Verde. Brasil: arquiteturas após 1950. São Paulo: Perspectiva, 2010.
- BRATKE, Carlos. Arquiteto Carlos Bratke. São Paulo: Projeto, 1985. (Cadernos Brasileiros de Arquitetura 16).
- BRATKE, Carlos. Comentários sobre a entrevista de Luiz Paulo Conde. Arcoweb, São Paulo, jan. 2002. Seção Artigos. Disponível em: < https://arcoweb.com.br/projetodesign/artigos/artigo-comentarios-sobre-a-entrevista-de-luiz-paulo-conde-01-01-2002 >. Acesso em: 20 dez. 2010.
- CADERNOS BRASILEIROS DE ARQUITETURA. Arquiteto Carlos Bratke. V. 15. São Paulo: Projeto, 1985. 122 p., il. p&b.
- FIX, Mariana. Parceiros da exclusão. São Paulo: Boitempo, 2001.
- FIX, Mariana. São Paulo cidade global: fundamentos financeiros de uma miragem. São Paulo: Boitempo, 2007.
- PUGLIESE, Maria Helena. Carlos Bratke. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005.
- SEGAWA, Hugo. Um panorama aberto. In: SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo: Edusp, 1999. p. 195-197
- SERAPIÃO, Fernando. Carlos Bratke. Arcoweb, São Paulo, nov. 2005. Seção Entrevistas. Disponível em: < http://www.arcoweb.com.br/entrevista/carlos-bratke-autor-de-30-11-2005.html >. Acesso em: 25 dez. 2010.
- WISSENBACH, Vicente. Carlos Bratke arquiteto/architect. São Paulo: ProEditores, 1995.
- XAVIER, Alberto; CORONA, Eduardo; LEMOS, Carlos (org.). Arquitetura moderna paulistana. São Paulo: Pini, 1983.
Como citar
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CARLOS Bratke.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa25398/carlos-bratke. Acesso em: 04 de maio de 2025.
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