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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Teresinha Soares

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 04.07.2024
1927 Brasil / Minas Gerais / Araxá
Teresinha Soares (Araxá, Minas Gerais, 1927). Artista visual, poeta, cronista. Seu trabalho explora temas como sexualidade, direito das mulheres e questões ambientais. Utiliza o corpo em suas performances e participa de importantes exposições entre as décadas de 1960 e 1970. 

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Teresinha Soares (Araxá, Minas Gerais, 1927). Artista visual, poeta, cronista. Seu trabalho explora temas como sexualidade, direito das mulheres e questões ambientais. Utiliza o corpo em suas performances e participa de importantes exposições entre as décadas de 1960 e 1970. 

Em Araxá, Teresinha Soares atua em diversas funções chegando a ser eleita vereadora. Sua carreira como artista começa aos 40 anos, depois de participar de uma série de cursos livres no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio) e formar um repertório visual ao visitar as principais instituições de arte do mundo em viagens internacionais. 

No ano de 1967, realiza sua primeira exposição individual na Galeria Guignard, em Belo Horizonte. Exibe uma série de trabalhos com um estilo ainda não bem definido, mas que demonstra com vigor um dos principais assuntos de sua obra, o erotismo. Nessa mostra apresenta Caixa de Fazer Amor, objeto com um coração dentro e duas cabeças na parte superior. O espectador, ao rodar uma manivela na lateral, escuta o barulho de um gemido. O curador Rodrigo Moura (1975) destaca a originalidade do trabalho pelo fato de a artista trazer o teor sexual e tornar o espectador cúmplice do ato. A boa receptividade da mostra e o convite para participar da 9ª Bienal Internacional de São Paulo fazem com que a artista se dedique ainda mais ao trabalho artístico.  

Explorando uma estética pop, com cores puras e fortes, em 1968, Teresinha realiza exposições em diversas cidades, como Brasília, São Paulo e Ouro Preto. Um dos trabalhos exibidos é a série Desenhos Espaciais, em que funde o corpo com a máquina, desenhando fios e mangueiras que ligam órgãos, misturados com ampolas, engrenagens e frascos. 

A experiência com o teatro, em 1969, com a adaptação de seu livro infantil Luno e Lunika no País do Futuro, em que produz os figurinos e o cenário, influencia radicalmente seu trabalho. A performance começa a fazer parte de algumas obras e passa a explorar mais o espaço expositivo, ocupando também o chão, como é o caso de Ela Me Deu Bola (Camas), de 1970, em que cria três camas, com recortes móveis de silhuetas femininas, que contêm, em seu verso, pinturas de três famosos jogadores da época: Pelé (1940), Tostão (1947) e Yustrich (1917-1990). De acordo com a curadora Cecilia Fajardo-Hill (1963), por meio do jogo de palavras, Teresinha trabalha com temas como sexo e futebol. Ao utilizar uma cama (o que para a artista é o lugar do prazer, do sexo e do descanso), toca diretamente na questão do corpo e ainda incita a participação do espectador. 

Publica o álbum Eurótica (1970), em que desenha, em papel colorido, utilizando apenas linhas quase contínuas, fragmentos de corpos como seios e falos, insinuando atos sexuais. Em diversos trabalhos a artista explora o corpo feminino, o que também retrata uma decoberta do próprio corpo: “Reinventei-me na descoberta de meu próprio corpo como uma nova mulher e, em todos os meus trabalhos de arte, nos desenhos, gravuras, performances, o leitmotiv é o corpo. Meus trabalhos, considerados de vanguarda para aquela época, nos anos 1960/70, continuam atuais porque focam todas essas problemáticas que ainda vivenciamos no nosso dia a dia: os tabus do sexo, o relacionamento homem-mulher, os encontros e desencontros, a mulher na sociedade exigindo respeito, lutando pelos seus direitos e liberdade"1.

No dia abertura 4º Salão de Artes Nacional de Belo Horizonte (1972), a artista aparece vestida de anjo, para performar em A trilogia dos Túmulos (Módulo I, Vida) (Módulo II, Morte) e (Módulo III, Ressurreição), que parte de um objeto escultórico em forma de túmulo, do qual saem duas cruzes com torneiras que despejam chope. As gavetas, embaixo dos túmulos, podem ser abertas pelo público e guardam queijo, linguiça e dentadura. Conforme Marília Andrés Ribeiro, o trabalho remete a um imaginário surrealista, explorando o dualismo entre vida e morte, sagrado e profano, sonho e realidade. Uma capacidade singular de sua poética em trabalhar questões humanas fundamentais. 

Em seus dois últimos trabalhos, O Circo e a Montanha (1973) e O Altar do Sacrifício (1976), a artista discute questões ambientais. No primeiro, arma a lona de um circo, criando o desenho de uma montanha que dialoga com o relevo de Minas Gerais, que está em constante transformação com a exploração de minério e o crescimento urbano desordenado. No último, a artista cria um altar onde se pode ler: VER, VERDE, VERDADE; e, em vez de trazer na vitrine uma tradicional imagem sacra, coloca um tronco de madeira, que lembra as esculturas de Cristo morto. Para o crítico Frederico Morais (1936), essa é uma obra profética e premonitória de tragédias ambientais que acontecem décadas mais tarde, como os rompimentos das barragens de Mariana (2015) e Brumadinho (2019), em Minas Gerais. Após essa mostra, a artista passa a se dedicar à escrita, produzindo crônicas para jornais até os anos 1980. 

Apesar da trajetória profissional curta, de cerca de uma década, a obra de Teresinha Soares tem grande impacto na cena artística mineira e nacional. Dentro de uma estética pop em pinturas e gravuras, suas figuras saem do plano para ganhar volume em objetos e instalações. 

 

Nota:

1. RIBEIRO, Marília Andrés, ‘Fiz do meu corpo a minha própria arte’. Revista UFMG, Belo Horizonte, v. 19, n. 1-2, p. 130-139, jan./dez. 2012. Disponível em: https://www.ufmg.br/revistaufmg/pdf/REVISTA_19_web_130-139.pdf. 

Exposições 27

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Fontes de pesquisa 8

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  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
  • AYALA, Walmir. Dicionário de pintores brasileiros. Organização André Seffrin. 2. ed. rev. e ampl. Curitiba: Ed. UFPR, 1997.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
  • MASP Conversas | Teresinha Soares. São Paulo: Masp, 2017. (1h21min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zTPjYQMG95Y&t. Acesso em: 17 maio 2020.
  • RIBEIRO, Marília Andrés (org.); SILVA, Fernando Pedro da (org.). Um século de história das artes plásticas em Belo Horizonte. Belo Horizonte: C/Arte, 1997. (Centenário).
  • RIBEIRO, Marília Andrés, ‘Fiz do meu corpo a minha própria arte’. Revista UFMG, Belo Horizonte, v. 19, n. 1-2, p. 130-139, jan./dez. 2012. Disponível em: https://www.ufmg.br/revistaufmg/pdf/REVISTA_19_web_130-139.pdf. Acesso em: 15 maio 2020.
  • SOARES, Teresinha. Acontecências. 1. ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2017.
  • SOARES, Teresinha. Quem tem medo de Teresinha Soares? São Paulo: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, 2017. 272 p. Exposição realizada no período de 27 abr. a 06 jul. 2017.

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