Gerson Pompeu
![Paisagem , s.d. [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/005903001013.jpg)
Paisagem
Gerson Pompeu
Óleo sobre madeira
Texto
Gerson Pompeu Pinheiro (Campinas, São Paulo, 1910 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1978). Arquiteto, pintor, desenhista, professor de artes. Integrante do movimento modernista brasileiro e um dos pioneiros a introduzir a arquitetura moderna no país, publica seus desenhos em jornais influentes da época como O Paiz e O Globo.
Destaca-se nas habilidades de desenho desde cedo e revela sua vocação. Aos onze anos faz um retrato de Dom Pedro II que impressiona a opinião pública e, em 1922, obtém uma menção honrosa graças ao quadro Homenagem do presente ao passado na Exposição Internacional Comemorativa do Centenário da Independência. A obra, pintada em óleo sobre tela, chama atenção pelo realismo e dinâmica retratados nas figuras. Aos 14 anos, torna-se um dos expositores no Salão Nacional de Belas Artes, importante veículo de divulgação de arte vanguardista nacional. Neste salão, obtém medalha de prata e de bronze, além de outra menção honrosa.
Desde 1925, atua paralelamente no jornalismo, com a publicação de seus desenhos e caricaturas, assim como de textos de sua autoria como crítico de arte e arquitetura. Nestas matérias, dentre outros temas, comenta aspectos da arquitetura contemporânea da época nos influentes jornais O Paiz, O Globo, Diário Carioca, Revista da Semana e Fono-Arte.
Gradua-se em arquitetura em 1930 e, no ano seguinte, projeta o Albergue da Boa Vontade, juntamente com o arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909-1964), com quem inicia sua carreira de arquiteto e funda um escritório. O projeto é ganhador de um concurso público e se torna o primeiro edifício modernista construído do Rio de Janeiro, no bairro da Saúde. Destinado a abrigar moradores de rua, a planta do edifício se distribui a partir de um pátio central. Os traços são geométricos e o prédio evoca a permeabilidade entre a rua e o espaço interno do pátio. A planta simétrica, a ortogonalidade e a laje plana se destacam como elementos inovadores na arquitetura do país e remetem aos atributos defendidos pelo arquiteto alemão Walter Gropius (1883-1969), fundador da escola alemã vanguardista Bauhaus1.
Ainda no ano de 1930, o arquiteto Lucio Costa (1902-1988), também pioneiro da arquitetura moderna nacional, assume a direção da Escola Nacional de Belas Artes (Enba), no Rio de Janeiro, importante centro de difusão e debate da arquitetura e arte moderna no país. Na ocasião, Pinheiro o entrevista para o jornal O Globo, o que resulta no conhecido texto "A situação do ensino das Belas Artes"2. Estes últimos dois acontecimentos, o concurso do Albergue da Boa Vontade e a publicação da matéria, contribuem para a notoriedade do arquiteto.
Em 1933, ingressa no Ministério da Marinha como desenhista após se submeter a concurso público e, em 1940, torna-se professor de teoria e filosofia da arquitetura da Enba, onde posteriormente assume a cátedra de perspectiva, sombras e estereotomia. É nomeado diretor da escola por três vezes. Durante sua trajetória acadêmica, questiona e transforma o ensino da arquitetura por meio de mudanças curriculares e divulgação de palestras e textos. Em 1932, por exemplo, propõe um curso livre de arquitetura por meio de palestras focadas na função social do arquiteto, contrapondo-se ao modelo de ensino Beaux-Arts. Em 1935, Pinheiro e Reidy ganham o terceiro lugar no concurso para projeto da sede do Ministério da Educação e Saúde (MES).
Sua atividade como crítico traz importante contribuição para a discussão do modernismo. Na Revista de Arquitetura da Enba contribui com os textos "O momento brasileiro da arquitetura", "Arquitetura, sua origem e evolução" e "Arquitetura racional". Silva divide sua contribuição como crítico em duas partes, sendo o projeto do MES o divisor de águas. Segundo ele, nesta primeira fase, o arquiteto referencia majoritariamente o trabalho de Lucio Costa e do arquiteto francês Le Corbusier (1887-1965) e assume como mestres outros nomes como o arquiteto americano Lloyd Wright (1867-1959), os austríacos Otto Wagner (1841-1918) e Adolf Loos (1870-1933) e o alemão Walter Gropius. Os critérios da Bauhaus, como a racionalidade, a lógica e a funcionalidade dos traços, são então enaltecidos.
Alguns textos de Pinheiro após o projeto do MES trazem críticas à reverência aos "cinco pontos" elencados por Le Corbusier. Divulgados na Revista Arquitetura e Urbanismo, os textos "Estrutura livre", publicado em 1937, e "Rumo à Casa Brasileira", publicado em 1938, questionam a adesão total aos princípios corbusianos no modernismo, assim como a defesa da memória colonial como patrimônio histórico, campo em que Lucio Costa tem destaque. Em outro artigo, nomeado de "Clássico e moderno", Pinheiro enfatiza sua oposição ao grupo de arquitetos que projeta o MES, além de criticar também a postura do Estado na produção da arquitetura moderna brasileira. Segundo ele, o governo e o modernismo estariam vinculados.
Os últimos anos de sua trajetória profissional são marcados por um maior vínculo com a academia e a pintura, tornando-se um artista nacionalmente reconhecido. Seu trabalho como acadêmico e diretor da principal escola de belas artes do país também é reconhecido.
Gerson Pompeu Pinheiro deixa importante aporte multidisciplinar artístico, acadêmico e crítico para o campo do modernismo brasileiro.
Notas
[1] PINHEIRO, Gerson Pompeu. A estrutura livre. Revista Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, jul./ago. 1937. p. 173-175. Disponível em: https://coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/11/03/a-estrutura-livre/. Acesso em: 28 set. 2022.
[2] RABELO, Clevio. Arquitetos na cidade: espaços profissionais em expansão (Rio de Janeiro, 1925-35). 2011. 339 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16133/tde-31082011-140637/publico/DOUTORADO_CLEVIO_RABELO.pdf. Acesso em: 20 set. 2022
Obras 1
Paisagem
Exposições 9
Fontes de pesquisa 1
- 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
GERSON Pompeu.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa23418/gerson-pompeu. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7