Bordalo Pinheiro
![[D. Pedro II], 1880 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/010263001019.jpg)
[D. Pedro II], 05.1880
Bordalo Pinheiro
Texto
Biografia
Rafael Bordalo Pinheiro (Lisboa, Portugal 1846 - idem,1905). Caricaturista, ceramista. De família de artistas, inicia-se nas artes como ator teatral, freqüentando em 1860 a Escola de Artes Dramáticas. No ano seguinte ingressa no curso superior de letras da Academia de Belas Artes de Lisboa, onde também freqüenta, sem concluir, os cursos de desenho de arquitetura civil, desenho artístico e modelo vivo. Em 1868, filia-se à Sociedade Promotora das Belas Artes, participando de exposições promovidas pela instituição. No ano seguinte publica suas primeiras caricaturas no jornal A Revolução de Setembro e inicia a produção de caricaturas para o seu primeiro álbum, O Calcanhar de Achilles, publicado em 1870 em Lisboa. No mesmo ano funda os periódicos A Berlinda e O Binóculo. Em 1871, é premiado na Exposição Internacional de Madri, com a obra Bodas d'Aldeia. Em 1872, publica o álbum Apontamentos sobre a Picaresca Viagem do Imperador do Rasilb pela Europa, onde satiriza o imperador dom Pedro II (1825 - 1891). Em 1875, vem para o Brasil e funda o periódico Lanterna Mágica, no qual cria o personagem Zé Povinho. Nesse mesmo ano colabora no periódico O Mosquito, ao lado de Angelo Agostini (1843 - 1910). Em 1876, trabalha em O Fígaro com Cândido de Faria (1849 - 1911). Em 1877, funda o Psit! e no ano seguinte, O Besouro, no qual estampa uma série de caricaturas satirizando os políticos locais. Após sofrer dois atentados na cidade, retorna a Portugal em 1879. Em 1880 cria, com outros artistas portugueses, o Grupo do Leão que, distanciando-se do academicismo, inaugura o naturalismo nas artes portuguesas. Em 1885, funda em Caldas da Rainha a Fábrica de Faianças que revitaliza a produção de cerâmicas dessa região. Em 1889, a produção da fábrica é premiada na Exposição Internacional de Paris. Como responsável pela construção do Pavilhão Português, recebe do governo francês o grau de Cavaleiro da Legião de Honra.
Análise
Pioneiro no gênero da caricatura em Portugal, Bordalo Pinheiro já é um artista de renome quando vem para o Brasil, em 1875. À publicação, em 1870, do álbum O Calcanhar de Achilles, em que satiriza diversas personalidades do meio literário de Lisboa, seguem-se outras edições, como os Apontamentos de Rafael Bordalo Pinheiro sobre a Picaresca Viagem do Imperador do Rasilb pela Europa, 1872 e História Tétrica duma Empresa Lírica, 1873, uma coleção de charges dos principais atores portugueses do período. Tais criações difundem seu prestígio, bem como sua fama de artista irreverente e polêmico. Os Apontamentos de Rafael Bordalo Pinheiro, álbum composto de mais de uma centena de desenhos organizados na forma de história em quadrinhos, em que satiriza o imperador dom Pedro II, alcançam grande sucesso.
No início da década de 1870, além de produzir para os periódicos A Berlinda e O Binóculo, por ele fundados, e outros veículos da imprensa portuguesa, colabora com as revistas Ilustración Española y Americana e El Mundo Cómico, de Madri, e a inglesa The Illustrated London News. Mas é no periódico Lanterna Mágica, fundado com Guilherme de Azevedo (1839 - 1882) e Abílio Guerra Junqueiro (1850 - 1923) em 1875, que Pinheiro apresenta seu mais conhecido personagem, o Zé Povinho, figura esperta e matreira que se transforma em símbolo nacional português.
Nos anos em que atua no Brasil, entre 1875 e 1879, produz intensamente para diversos órgãos da imprensa carioca, charges políticas e caricaturas de personalidades dotadas de criatividade inovadora e de ousadia incomum para o contexto brasileiro da época. Entre as ilustrações publicadas em O Mosquito, são freqüentes as charges anticlericais e a sátira política. Dom Pedro II é retratado em inúmeras charges que comentam os fatos políticos atuais. Em uma delas, de 1876, intitulada A Questão Religiosa, mostra o imperador dando a mão à palmatória ao papa Pio IX, num gesto de submissão às exigências do clero.
Lança, em 1877, o periódico Psit!, em que surgem os personagens Psit e Arolae, e, no ano seguinte, O Besouro, para o qual cria o personagem Fagundes. Em 1878 trava uma polêmica pública com Angelo Agostini, numa seqüência de charges publicadas semanalmente nas páginas de O Besouro e da Revista Ilustrada, para as quais colaboram, respectivamente, Bordalo e Agostini.
Suas sátiras da situação política e social do império rendem-lhe antagonismos e inimizades entre poderosos políticos, provável motivação dos dois atentados por ele sofridos e da decisão de retornar a Portugal em 1879. Nesse ano, funda em Lisboa, com Guilherme de Azevedo, o periódico António Maria, um jornal ilustrado em que Bordalo repassa os mais importantes aspectos da vida política, social e artística de Portugal no decorrer de quase uma década. Também em Portugal enfrenta reações a suas posições políticas. Em substituição ao periódico António Maria, funda em 1885, com o filho Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, o jornal Pontos nos ii, que é encerrado em 1891, em decorrência da censura imposta a uma matéria sobre a Revolução do Porto. De 1891 a 1898, retoma a publicação do António Maria, no qual volta a apresentar o personagem Zé Povinho, comentador predileto do artista.
Em 1880, cria, com os artistas Antonio Ramalho, João Vaz (1859 - 1931), José Malhoa (1854 - 1933), António Carvalho da Silva Porto (1850 - 1893), Columbano Bordalo Pinheiro (1857 - 1929), entre outros, o Grupo do Leão, assim chamado porque os artistas se reuniam no Café Leão de Ouro, em Lisboa. Distanciando-se do academicismo, o grupo é o responsável pela renovação naturalista na arte portuguesa. No mesmo ano, lança a primeira série do Álbum das Glórias, composto de mais de quarenta desenhos de personalidades, conhecidos como portraits-charges, em que reúne ilustrações de figuras de renome. A segunda série é editada em 1885, e a terceira, em 1902. Em uma caricatura célebre, criticando as freqüentes viagens feitas pelo imperador, Bordalo retrata dom Pedro II vestido de sobrecasaca, com a maleta de viagem aberta, da qual escapa o manto de tucano, num quarto de hotel onde, sobre a cadeira, estão pousam o cetro e a coroa.
Em 1884, funda na cidade portuguesa de Caldas da Rainha, com seu irmão Feliciano Bordalo Pinheiro (1847 - 1905), a Fábrica de Faianças. Passa a dedicar-se à produção de cerâmica. Em 1889, comanda a construção do Pavilhão de Portugal na Exposição Internacional de Paris, onde expõe algumas de suas cerâmicas, pelas quais recebe medalhas de ouro e prata. Colabora para diversos periódicos portugueses e elabora ilustrações e capas para livros. Em 1899, viaja para o Rio de Janeiro, e expõe, na Rua do Ouvidor, entre outras peças, a Jarra Beethoven, oferecida ao então presidente da república Campos Sales, e hoje integra o acervo do Museu Nacional de Belas Artes - MNBA.
Em 1900, para o periódico A Paródia, publica uma série de charges que representam, entre outros temas, a política (A Grande Porca), a finança (O Grande Cão), a economia (A Galinha Choca) e a retórica parlamentar (O Grande Papagaio). O poeta Artur Ernesto de Santa Cruz Magalhães, admirador e colecionador da obra do caricaturista, já então falecido, funda em sua residência o Museu Rafael Bordalo Pinheiro, em 1916. O museu, que expõe a produção gráfica e cerâmica do artista, passa a ser municipal em 1924. No decorrer do tempo, o acervo é acrescido de doações feitas pela família e por incorporação de coleções particulares.
Para Pedro Correia do Lago, embora a contribuição de Bordalo Pinheiro tenha sido significativa para o desenvolvimento da caricatura e da imprensa brasileira, seu desenho, em bico-de-pena ou litografia, mais livre e estilizado, não chega a impor estilo, provavelmente pela forte influência de Angelo Agostini, autor de um desenho mais detalhado e preciso.1 Apesar da curta duração de sua permanência no Rio de Janeiro, o prestígio de Bordalo Pinheiro no meio cultural local é marcante, não apenas no que diz respeito à história da caricatura brasileira, mas também na vida política do segundo reinado.
Nota
1. LAGO, Pedro Corrêa do. Caricaturistas brasileiros: 1836-1999. Rio de Janeiro: Sextante Artes, 1999. p. 44.
Obras 3
Exposições 16
Fontes de pesquisa 7
- CiTi - Centro de Investigação para Tecnologias Interactivas. Universidade Nova de Lisboa. Disponível em [http://www.citi.pt/index_pt.html]. Acesso em: 23 de out. 2004.
- HENRIQUES, Paulo (curador). Rafael Bordalo Pinheiro - o português tal e qual: da caricatura a cerâmica. O ceramista. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 1996.
- LAGO, Pedro Corrêa do. Caricaturistas brasileiros: 1836-1999. Rio de Janeiro: Sextante Artes, 1999. p. 40-47.
- LIMA, Herman. Os precursores (conclusão). In: ______. História da caricatura no Brasil III. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1963.
- MARTINS, Rocha. Pequena História da Imprensa Portuguesa. Lisboa: Editora Inquérito Ltda, s.d. (Cadernos Inquérito, série G, Crítica e História Literária, XV).
- PINTO, Manoel de Sousa: Raphael Bordallo Pinheiro: o caricaturista. Desenhos escolhidos por Manuel Gustavo Bordallo Pinheiro. Lisboa: Livraria Ferreira, Ferreira Ltda. Editores, 1915.
- SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1966. 583 p. (Retratos do Brasil, 51).
Como citar
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BORDALO Pinheiro.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa208698/bordalo-pinheiro. Acesso em: 04 de maio de 2025.
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