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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Wilson Simonal

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 01.11.2022
26.02.1938 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
25.06.2000 Brasil / São Paulo / São Paulo
Reprodução fotográfica Correio da Manhã/Acervo Arquivo Nacional

Wilson Simonal, 1969

Wilson Simonal de Castro (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1938 – São Paulo, São Paulo, 2000). Cantor e Compositor. A maestria vocal e o swing caracterizam sua trajetória, singularizada pela chamada “estética da pilantragem”. Sua obra contempla gêneros musicais diversos como chá-chá-chá, bossa nova, samba, soul, samba-rock, samba funk.

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Wilson Simonal de Castro (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1938 – São Paulo, São Paulo, 2000). Cantor e Compositor. A maestria vocal e o swing caracterizam sua trajetória, singularizada pela chamada “estética da pilantragem”. Sua obra contempla gêneros musicais diversos como chá-chá-chá, bossa nova, samba, soul, samba-rock, samba funk.

Inicia sua carreira em fins da década de 1950, momento de aparecimento da bossa nova e do chamado “iê-iê-iê”. Em 1960, forma o grupo Dry Boys, apresentando-se no programa de Carlos Imperial (1935-1992), Clube do Rock. O futuro Rei da Pilantragem lança em 1963 seu LP de estreia, Tem Algo Mais, e a canção “Balanço Zona Sul” é o primeiro trabalho a emplacar nas rádios. Assim, Simonal é convidado para se apresentar no famoso Beco das Garrafas entre 1964 e 1965. 

Lança A Nova Dimensão do Samba (1964), uma releitura de várias canções bossa-novistas. O sucesso do gênero contribui para conseguir seu primeiro programa na TV Tupi, o Spotlight (1965).

Assim como vários artistas da época, assina contrato com a TV Record em 1966, e se apresenta com frequência nos programas O Fino da Bossa e Jovem Guarda. A sonoridade eclética de Simonal possibilita-lhe transitar entre o “iê-iê-iê” e a bossa nova, até conseguir os próprios programas, Show em Si... Monal e Vamos S'imbora, ambos em 1966. 

No programa Show em Si...Monal faz extremo sucesso a canção “Meu limão, meu limoeiro”, do disco Vou Deixar Cair (1966), no qual já aparece a mistura de gêneros musicais por meio dos arranjos de César Camargo Mariano (1943). Nesse contexto, já morando em São Paulo, passa a circular entre um grupo de artistas e compositores que formam o panteão da música popular brasileira (MPB).

Sua contribuição para essa geração de artistas se dá em diversas ocasiões: Simonal defende uma canção no 1º Festival da Música Popular Brasileira da TV Excelsior (1965); é o segundo a gravar artistas como Chico Buarque (1944) e Caetano Veloso (1942); é o primeiro a gravar Toquinho (1946). Isso demonstra o feeling do Rei do Swing para as novidades que aparecem na música brasileira. 

Em 1966, lança o compacto Mamãe Passou Açúcar em Mim, que compõe a trilha sonora do filme Na Onda do Iê-iê-iê, dos Trapalhões. Devido ao sucesso de público, fecha parceria com o grupo Som Três, que conta com o pianista César Camargo Mariano, o contrabaixista Sabá (1927-2010) e o baterista Toninho Pinheiro (1938-2004).

A parceria com o trio é fundamental para compreender a estética singular do artista. Por meio dela surge a chamada “estética da pilantragem” – uma musicalidade que mistura soul, iê-iê-iê e samba, em que reside seu diferencial.

É justamente com o Som Três que Simonal vive o auge da carreira, gravando as famosas canções “Nem Vem que Não Tem” (1967), “Sá Marina” (1968) e “País Tropical” (1969). “Sá Marina” tem repercussão internacional, e é gravada por artistas como Sérgio Mendes (1941) e o cantor americano Stevie Wonder (1950). Também influenciado pela luta dos direitos civis norte-americanos e assumindo sua negritude, lança “Tributo a Martin Luther King” (1967), retida pela censura por quatro meses.  

O auge da sua trajetória pode ser entendido pela análise da quadrilogia Alegria Alegria, lançados entre 1967 e 1969. Nestes discos, é possível perceber de forma mais acentuada a referência em Simonal do soul e do funk norte-americanos. O último disco da quadrilogia (1969), com o subtítulo Homenagem à Graça, à Beleza, ao Charme e ao Veneno da Mulher Brasileira, marca tanto esse período de consagração do Rei da Pilantragem como o início de seu declínio no meio artístico. São exemplos dessa consagração: o show no Maracanãzinho, em que o público não o deixa sair do palco; o patrocínio para se tornar garoto-propaganda da Shell; e por ser o embaixador oficial do Festival Internacional da Canção nos anos 1970. Isso possibilita ao artista se apresentar no Midem, na França, e na TV RAI, na Itália, onde grava uma versão em italiano de “País Tropical”. 

Simonal excursiona ainda pelo México, acompanhando a seleção brasileira de futebol na Copa de 1970. No mesmo ano, estreia o filme É Simonal, dirigido por Domingos Oliveira (1936-2019). Entretanto, no auge da carreira, o artista se envolve em polêmicas que afetam toda a sua vida. É acusado de extorsão seguida de sequestro pelo contador da sua empresa, a Simonal produções artísticas, e de delator para o Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Sem conseguir grandes shows e banido da mídia, nos anos 1980 Simonal cai no ostracismo. Lançando discos por um pequeno selo “independente”, perde todo o capital social, simbólico e econômico  conquistado. 

As relações de poder e as hierarquias raciais afetam a vida, a memória e a moral do artista, injustamente esquecido da história da música brasileira por um longo período. Simonal sofre a pena de ser tachado de “dedo-duro” por muitos anos. Sua retratação moral ocorre apenas em 2003, quando a Comissão Nacional de Direitos Humanos julgou que o “superastro negro”1 não colaborou com os órgãos de informação da ditadura militar. 

O brilhantismo, a ousadia e o swing que marcam a trajetória do Rei do Pilantragem são resgatados com o lançamento do documentário Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei (2009), da ficção Simonal (2019) e com as biografias Nem Vem que Não Tem (2009) e Quem Não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga (2011)2.  

A trajetória musical de Wilson Simonal evidencia um músico que no tempero da “estética da pilantragem” traz mais uma pitada de swing à música nacional. 

 

Notas:

1. Cf. PAIVA, Carlos Eduardo Amaral. Wilson Simonal: vida e morte de um superastro negro. Idéias, Revista do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, Campinas, v. 8, n. 2, p. 57-82, jul/dez 2017.

2. O documentário de 2009 foi dirigido por Micael Langer, Calvito Leral (1977) e Cláudio Manoel (1958). A ficção de 2019 foi dirigida por Leonardo Domingos. As biografias foram escritas respectivamente por Ricardo Alexandre e Gustavo Alonso.

Fontes de pesquisa 6

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