Tonico Pereira
Texto
Biografia
Antônio Carlos de Souza Pereira (Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 1948). Ator. Intérprete de personagens cômicos como Harpagão, em Molière, e o Bobo Feste, em Shakespeare, Tonico Pereira transita da comicidade popular à tragicidade patética presente em Amado Ribeiro de Nelson Rodrigues.
Suas primeiras experiências como ator são no Grupo Laboratório de Teatro, da Universidade Federal Fluminense, UFF, em 1968. Nos primeiros anos de profissão, atua em: O Futuro Está nos Ovos, de Eugène Ionesco, 1969 - pelo qual recebe o Prêmio Governador do Estado como ator coadjuvante; Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, 1970; Huis Clos, de Jean-Paul Sartre, 1971; Rua do Lixo 24, de Vital Santos, 1972. Sob a direção de Luiz Mendonça, interpreta duas peças de Altimar Pimentel - Lampião no Inferno, 1973; e Canção de Fogo, 1974. Em 1975, novamente com direção de Luiz Mendonça, atua em Viva o Cordão Encarnado, de Luiz Marinho. Nessa fase, torna-se conhecido pelo talento para a criação de personagens típicos da comédia popular. Em 1979, sua interpretação de Pablo Mariz em Papa Highirte, de Oduvaldo Vianna Filho, merece diversos elogios da crítica, que o vê pela primeira vez em um trabalho técnico de interiorização e de contenção emotiva. Flávio Marinho escreve: "(...) Tonico Pereira joga com tal carga dramática que se torna quase impossível ficar alheio ao sofrimento do seu Mariz".1 Macksen Luiz identifica brilho e inteligência na construção da personagem e considera que o ator "é a grande revelação do espetáculo".2
Na década de 80, Tonico Pereira atua, entre outros, em: O Último dos Nukupyrus, de Ziraldo, direção de Luiz Mendonça, 1980 - que lhe vale o inusitado prêmio do Oscar Gay; Afinal uma Mulher de Negócios, de Fassbinder, direção de Sergio Britto, 1981; A Noite dos Assassinos, de José Triana, direção de Roberto Vignati, 1982; Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues, direção de Cláudio Torres Gonzaga, 1988. Sobre sua atuação na peça de Triana, o crítico Flávio Marinho considera que, apesar de deslocado no universo do autor, ele "coloca seus nervos à flor da pele e, quase em carne viva, defende os longos 'bifes' de sua personagem".3
Nos anos 90, o ator entra em cena, entre outros, com O Cortiço, de Aluísio Azevedo (1857 - 1913), 1993; Noite de Reis, de William Shakespeare, direção de Amir Haddad, 1997; Nostradamus, de Doc Comparato, sendo dirigido por Renato Borghi, 1999, e protagoniza O Avarento, de Molière, 2000. Na peça de William Shakespeare, Tonico se destaca pela comunicabilidade da criação do ardiloso Bobo Feste, em que, segundo o crítico do Jornal do Brasil, o ator se transfigura. O desempenho lhe vale o Prêmio Cultura Inglesa. Sobre sua atuação na peça de Molière, Macksen Luiz escreve: "Tonico Pereira é um Harpagão astucioso, sem a carga patética que muitas vezes se atribui ao personagem, mas que encarna as suas fraquezas com a exuberância de um cômico popular. Mesmo sacrificando um certo desenho mais real de Harpagão, Tonico Pereira é presença catalisadora do humor no palco".4
O mesmo crítico considera que em Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, 2001, o ator "desenha, com sentido trágico e patético, a pusilanimidade do repórter".5 O desempenho lhe confere o Prêmio Qualidade Brasil como melhor ator de drama. Atua em seguida em Por Mares Nunca Dantes, de Geraldo Carneiro, na encenação de Moacir Chaves, 2002.
Seu trabalho é mais assíduo no cinema, tendo atuado em aproximadamente cinqüenta filmes. Pela atuação em O Cego que Gritava Luz, recebe, em 1996, o prêmio do Festival de Cinema de Brasília e do Sesc. Está, entre outros, em Memórias do Cárcere, de Nelson Pereira dos Santos, A Lira do Delírio, de Walter Lima Junior, O Primeiro Dia, de Walter Salles Junior, Guerra de Canudos, de Sergio Rezende, O Rei do Rio, de Fabio Barreto, e Romance da Empregada , de Bruno Barreto.
Notas
1. MARINHO, Flávio. 'Papa Highirte': América Latina em cena. O Globo, Rio de Janeiro, 01 ago. 1979.
2. LUIZ, Macksen. Em 'Papa Highirte' o testemunho de uma prática cultural. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 18 jul. 1979.
3. MARINHO, Flávio. A noite dos atores. O Globo, Rio de Janeiro, 18 ago. 1982.
4. LUIZ, Macksen. Vibração permanente. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 10 jun. 2000.
5. LUIZ, Macksen. Do realismo intenso ao melodrama. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 06 ago. 2001.
Espetáculos 30
Fontes de pesquisa 8
- CARVALHO, Tania. Ney Latorraca: uma celebração. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004. (Aplauso Especial). 792.092 L358c
- EICHBAUER, Hélio. [Currículo]. Enviado pelo artista em: 24 abr. 2011. Não catalogado
- HAMLET. São Paulo: [s.l], 2008. 1 programa do espetaculo. Não catalogado
- LUIZ, Macksen. 'Papa Highirte'. Isto É, Rio de Janeiro, 25 jul. 1979.
- LUIZ, Macksen. Encenação solar de Shakespeare. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 23 out. 1997.
- PEREIRA, Tonico. Currículo enviado pelo ator.
- PEREIRA, Tonico. Rio de Janeiro: Funarte / Cedoc. Dossiê Personalidades Artes Cênicas.
- Programa do Espetáculo - Afinal Uma Mulher de Negócios - 1981. Não catalogado
Como citar
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TONICO Pereira.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa15087/tonico-pereira. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7