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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Kiko Goifman

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 25.10.2023
05.08.1968 Brasil / Minas Gerais / Belo Horizonte
José Henrique Goifman (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1968). Diretor, roteirista, artista multimídia, web artista, produtor cultural e ator. É formado em antropologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com mestrado em multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ao longo da década de 1990, Goifman assina a direção d...

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Biografia

José Henrique Goifman (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1968). Diretor, roteirista, artista multimídia, web artista, produtor cultural e ator. É formado em antropologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com mestrado em multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ao longo da década de 1990, Goifman assina a direção de diversos trabalhos em vídeo, entre ficções, documentários e videoclipes.

Uma produtiva parceria com o artista e documentarista Jurandir Müller (1960), seu sócio na produtora Paleo TV, inicia-se em 1997, com o documentário experimental A Cidade e suas Histórias. Seu primeiro trabalho reconhecido internacionalmente é o CD-ROM (com livro) Valetes em Slow-Motion (1998), ganhador do 7º Grand Prix Möbius e incorporado ao acervo do Centro Georges Pompidou de Paris. Na 24ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1998, Goifman e Müller convertem o projeto Valetes num website que permite aos visitantes do pavilhão do Ibirapuera interagir em tempo real com presidiários do Carandiru. No documentário média-metragem Morte Densa (2001), integrado a uma videoinstalação e a um website, os diretores captam depoimentos de “assassinos de uma morte só”. O filme é exibido no Festival de Locarno, em 2003.

Seu primeiro longa-metragem dirigido individualmente é 33 (2004), que documenta a busca do próprio diretor por sua mãe biológica. O filme participa dos festivais de Locarno e Roterdã e recebe o prêmio de melhor roteiro de 2004 no Cinema Paulista Fiesp/Sesi. Seguem-se, entre outros trabalhos: Atos dos Homens(2006), sobre a violência e o tráfico de drogas na Baixada Fluminense, mostrado no Festival de Berlim e prêmio de melhor documentário no Festival de Nantes; Filmefobia (2008), com depoimentos de anônimos e famosos sobre suas piores fobias – projetado no Festival de Locarno e vencedor do Festival de Brasíli, em 2008; Olhe pra Mim de Novo (2012), prêmio especial do júri no Festival do Rio 2011 e exibido no Festival de Berlim 2012.

Entre 2009 e 2010, dirige os 52 episódios da série Hiperreal, transmitida pelo SescTV. Entre as homenagens recebidas e as retrospectivas de seus filmes, destacam-se as realizadas no Festival de Cinema de Tiradentes, na Mostra do Audiovisual Paulista, no Festival de Toulouse, no Festival de Santa Maria da Feira e no Festival de Tampere. Em outubro de 2013, lança Periscópio, seu primeiro longa de ficção, na competição principal do Festival do Rio.

Análise

Desde o início de sua carreira, como demonstra o microdocumentário Matar o Tempo (1992)seu primeiro vídeo, de apenas um minuto de duração, gravado em U-matic e produzido em parceria com o diretor e cenógrafo Caco Pereira de Souza, tematizando a passagem do tempo na prisão –, a marginalidade, a violência, a miséria e o abandono são temas recorrentes nos documentários, mídias e videoinstalações de Goifman. Por outro lado, o diretor mineiro radicado em São Paulo procura contrapor as entranhas da psicologia das personagens focalizadas ao “império do real” descrito pela antropologia, proporcionando irrupções inesperadas de surrealismo em meio ao prosaísmo das imagens e depoimentos captados. A assumida influência de Eduardo Coutinho se revela nesses momentos de epifania cultivados com paciência pelo diretor e montados com eficiente noção de dramaticidade.

Os filmes e vídeos de Goifman habitualmente mergulham na realidade urbana da hiperexploração capitalista para focalizar personagens relegados à margem da sociedade. O primeiro vídeo realizado em parceria com Jurandir Müller, em 1997, no âmbito de uma ocupação artística no degradado centro de São Paulo, é uma reflexão sobre a cidade e suas histórias que antecipa os documentários curtos e médios que se seguiriam. A exitosa associação com Müller assinala o momento em que a velocidade e a interatividade, experimentadas na atuação como artista multimídia (e em seguida web artista), se transformam em chaves definidoras de sua produção como documentarista. Valetes em Slow-Motion, disco multimídia premiado, trata do cotidiano na prisão a partir de uma estrutura de navegação não ortodoxa que passa a permear seu cinema.

Primando pelas imagens captadas com câmera na mão e decupadas em estruturas narrativas não lineares que emulam as possibilidades da web, Goifman explora os subtons inusitados da realidade ao dialogar com momentos selecionados da história do cinema e da fotografia. O diretor dá voz a presidiários, transexuais, mendigos, drogados e outros indivíduos de algum modo excluídos das relações de cidadania no Brasil contemporâneo. Esses protagonistas relatam para uma câmera perscrutadora as histórias trágicoabsurdas em que desempenham o papel de vítimas e/ou algozes.

No longa 33, interlúdio autobiográfico que critica a onda dos reality shows, o diretor desloca o foco para sua própria história pessoal: filho adotivo, Goifman sai em busca do paradeiro de sua mãe natural em Belo Horizonte. Trata-se de uma viagem documental repleta de ficção, cujo suspense e fotografia dialogam em um registro irônico com o cinema noir. Em Filmefobia, a intermitente atração pela marginalidade se desloca para uma galeria de pessoas vitimadas por diferentes patologias fóbicas, corajosamente expostas diante da câmera.

Seu primeiro longa de ficção, Periscópio(2013), estrelado por João Miguel (1970) e Jean-Claude Bernardet (1936), também responsável pelo roteiro, transpõe as relações de poder que operam as iniquidades sociais mostradas com olho de antropólogo nos documentários anteriores para o ambiente claustrofóbico de um apartamento. A sequência de situações psicológicas entre os dois protagonistas, com ressonâncias de Samuel Beckett (1906-1989), perfaz uma alegoria da solidão no mundo contemporâneo

Espetáculos 1

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  • 19/9/1997 - 21/9/1997

Exposições 26

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Fontes de pesquisa 10

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  • BERNADET, Jean-Claude. Documentários de busca: 33 e Passaporte húngaro. In: MOURÃO, Maria Dora, LABAKI, Amir (org.). O cinema do real. Textos de Brian Winston et al. São Paulo: Cosac Naify, 2005. 285 p.
  • GOIFMAN, Kiko. A morte do tempo na prisão. Revista do Instituto Carioca de Criminologia. Rio de Janeiro, 2000.
  • GOIFMAN, Kiko. Dense death: an experimental documentary. Prince Claus Fund n. 4. Holanda, 2000.
  • GOIFMAN, Kiko. Killing the time in the brazilian slammer. Ethnography, Sage Publications, vol. 3, n. 4. Berkeley, Wolverhampton, 2002.
  • GOIFMAN, Kiko. Máquinas do olhar. São Paulo em Perspectiva, vol. 12. São Paulo, 2000.
  • GOIFMAN, Kiko. Valetes em slow-motion (CD-ROM e livro). Campinas: Editora da Unicamp, 1998.
  • KIKO GOIFMAN. Perfil do artista no site do Festival VideoBrasil. São Paulo, 2013. Disponível em: < http://site.videobrasil.org.br/acervo/artistas/artista/37928 >. Acesso em: 17 out. 2013.
  • LIRA, Bertrand. Documentário e subjetividade: a fotografia noire em 33, de Kiko Goifman. Culturas Midiáticas, ano 5, n. 9, João Pessoa, 2012.
  • MELLO, Christine. Extremidades do vídeo. São Paulo: Senac, 2008.
  • SAFATLE, Vladimir. A vida como reality show. Folha de S.Paulo, Caderno Mais!, 1 mar. 2004.

Como citar

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