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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Adoniran Barbosa

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 26.08.2024
06.08.1910 Brasil / São Paulo / Valinhos
23.11.1982 Brasil / São Paulo / São Paulo
João Rubinato (Valinhos, São Paulo, 1910 - São Paulo, São Paulo, 1982). Compositor, intérprete, comediante, radioator. Adoniran Barbosa tem muitas profissões até ingressar no meio radiofônico, no começo dos anos 1930. Sétimo filho de um casal de imigrantes italianos, vai com a família para a cidade de Jundiaí, São Paulo, em 1918, e trabalha com ...

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João Rubinato (Valinhos, São Paulo, 1910 - São Paulo, São Paulo, 1982). Compositor, intérprete, comediante, radioator. Adoniran Barbosa tem muitas profissões até ingressar no meio radiofônico, no começo dos anos 1930. Sétimo filho de um casal de imigrantes italianos, vai com a família para a cidade de Jundiaí, São Paulo, em 1918, e trabalha com o pai no carregamento de vagões da São Paulo Railway. Nessa cidade frequenta o grupo escolar. Depois torna-se entregador de marmita e, posteriormente, varredor em uma fábrica de tecidos.

Com 14 anos, muda-se para Santo André, São Paulo, onde exerce a função de tecelão, encanador, pintor, vendedor ambulante de meias e garçom. Ingressa no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo e faz o curso de metalúrgico-ajustador. Trabalha pouco tempo como metalúrgico por causa de problemas pulmonares. No início dos anos 1930, já em São Paulo, frequenta os programas de calouro da Rádio Cruzeiro do Sul e é contratado pela emissora.

Em 1935, classifica-se em primeiro lugar no concurso de músicas carnavalescas da prefeitura de São Paulo com a marcha Dona Boa, com J. Aimberê. Até 1941, passa por várias rádios da capital. Nesse período compõe uma série de sambas e marchas, como Agora Podes Chorar, Se Meu Balão Não se Queimar, Você Tem um Jeitinho, todas com Nicolini; Malandro Triste, com Mário Silva; e outros.

No início dos anos 1940, ingressa na Rádio Record e trabalha como comediante no programa Serões Domingueiros. Conhece o produtor e escritor Osvaldo Moles. Em peças humorísticas escritas por Moles, Adoniran protagoniza tipos como Zé Cunversa, o malandro; Jean Rubinet, o galã do cinema francês; Moisés Rabinovic, o judeu das prestações; Richard Morris, o professor de inglês; Dom Segundo Sombra, o cantor de tango-paródia; Perna Fina, o chofer italiano; e o sambista Charutinho.

Eleito o melhor intérprete cômico do rádio paulista em 1950, no ano seguinte, conquista, na mesma categoria, o primeiro de uma série de cinco prêmios Roquette Pinto. Nessa década, suas composições musicais obtêm grande sucesso. Depois da gravação de Saudosa Maloca em 1955, pelo Demônios da Garoa, conjunto que é um dos mais importantes intérpretes de suas composições, torna-se o "mais autêntico representante do samba paulista". Título referendado em 1965, quando sua composição Trem das Onze, também interpretada pelo Demônios da Garoa, ganha o carnaval carioca.

Atua nos filmes da Cia. Vera Cruz: O Cangaceiro (1953), direção de Vitor Lima Barreto (1906 - 1982); Esquina da Ilusão (1953), de Ruggero Jacobi; e O Candinho (1954), de Abílio Pereira de Almeida, em que aparece ao lado de Amácio Mazzaropi e Marisa Prado. Também atua em comerciais de TV e na telenovela Mulheres de Areia, da Tupi, nos anos de 1973 e 1974.

Assina, em 1957, a parceria do samba-canção Bom Dia Tristeza com Vinicius de Moraes, gravado primeiramente por Aracy de Almeida e mais tarde por Maysa. Um ano depois seu samba Nois Dois Não Usa Breque Tai integra a trilha sonora da peça Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri. Na década de 1970, suas composições são celebradas pela MPB em interpretações de Elis Regina Gal Costa, Clara Nunes, Rita Lee, João Bosco, Djavan, Beth Carvalho e Jards Macalé.

Análise

Os empregos assumidos e os lugares por onde Adoniran Barbosa passa antes de ingressar na rádio são provavelmente úteis no desenvolvimento de sua profissão de radioator e compositor. Migrante do interior do estado de São Paulo, quase analfabeto e sem conhecimento do meio artístico e radiofônico, vem se aventurar na capital no início da década de 1930. Gosta dos sambas de Sinhô, Noel Rosa e Luís Barbosa. Este se destaca pelas interpretações de samba de breque e por introduzir o chapéu de palha como acompanhamento rítmico nos programas de rádio e em gravações. O "Barbosa" do pseudônimo de Adoniran é inspirado nesse sambista e o "Adoniran", no nome de um amigo funcionário dos Correios. João Rubinato, segundo o próprio compositor, não serve de nome para cantor de samba. Adoniran ouve rádio galena,1 sintoniza as estações do Rio de Janeiro e sonha ser artista. Seja como intérprete dos textos de Osvaldo Moles, seja como compositor, é no âmbito de sua relação com a rádio - e com a linguagem que aí se desenvolve - que se revelam os elementos fundamentais de seu trabalho.

É a fusão entre as duas faces (radioator e compositor) que assinala o estilo de Adoniran, um artista que exercita sua poética como uma espécie de ponte entre a rua e a rádio, em um contexto configurado pelo radical processo de urbanização da metrópole paulista, que, na primeira metade do século XX, se torna o maior centro industrial do Brasil. O artista, em São Paulo desde o início dos anos 1930, tem sua biografia inscrita num cenário urbano que se transforma dia a dia e impõe novas relações a seus habitantes. Nesse ambiente, sua poética busca narrar o cotidiano da grande cidade.

Em muitas falas Adoniran se pronuncia no intuito de demarcar um estilo, recorrendo a determinada ideia de povo para identificar sua poética e mesmo legitimá-la. Aqui, dois aspectos se destacam: a forma como ele constrói as letras e os temas. O compositor se inspira na linguagem dos excluídos sociais, recriando com base nessas falas as letras de seus sambas. Assim, ele justifica em sua música expressões como "nóis fumus e não encontremos ninguém" (Samba do Arnesto), "nóis peguemus todas nossas coisas... din din donde nóis passemos" (Saudosa Maloca). Sobre os temas de seus sambas, aponta histórias e acontecimentos com os quais o povo se identifica: "Meus sambas não nascem com hora marcada, não são consequências de inspirações. Eles nascem por si, por mim, pelas coisas. Contam de uma São Paulo grande, falam da gente simples, humana, das malocas, dos malandros, de gente boa. Não pretendo agredir ninguém com meus sambas... Eles não falam de grandes paixões, mas mostram os problemas e o cotidiano das pessoas da cidade grande, das muitas lutas e poucas vitórias".2

É certo que a parceria com Osvaldo Moles é fundamental na criação desse seu estilo. Personagens como o Charutinho, da radiopeça História das Malocas, apresentada na Rede Record entre 1955 e 1967, traduzem muito da temática e estética que inspiram Adoniran. Tal como os textos de Moles, as composições de Adoniran retratam a cidade na perspectiva daqueles que ficam à margem de seu processo de modernização. Eis o sentido da crítica social presente em seus sambas, tão bem delineado em interpretações como a de Saudosa Maloca,  por Elis Regina, no fim dos anos 1970, ainda num ambiente de censura imposto pela ditadura militar.

Em muitas de suas entrevistas ele insiste: "Faço samba para o povo. Por isso, faço letras com erros de português, porque é assim que o povo fala". Mas há ainda uma outra definição sua que leva ao cerne de seu estilo: "Pra falar errado, é preciso saber falar errado". Ou seja, Adoniran não se resume a um transcritor da fala cotidiana, da gente comum. Menos do que produzir um "arquivo da fala do povo", sua arte interage nos lugares em que circulam conversas, histórias portadoras de experiências vividas e que são intercambiadas pelo homem comum. Em suma, a arte de Adoniran é sobretudo a crônica da cidade que ele vivencia. Uma poética afinada com as vozes daqueles que, no contexto da modernização de São Paulo, habitam o "espaço da exclusão", onde transitam negros, imigrantes italianos e retirantes nordestinos, numa polifonia de vozes, expressão das mais diversas heranças culturais, da qual emerge a síntese de sua obra.

Notas

1 Aparece nos primórdios da era do rádio. É um dos receptores mais simples e entres seus componentes tem-se um cristal de galena, daí o nome desse aparelho. Dispensa o uso de corrente para alimentá-lo, sendo muito usado em locais onde não havia energia elétrica ou outra fonte de tensão.

2 BENICCHIO, Marlene. Samba do metro. São Paulo, Última Hora,  p. 5, 20 jun. 1975.

Obras 64

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Espetáculos 5

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Exposições 1

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Fontes de pesquisa 7

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  • GOMES, Bruno Ferreira. Adoniran: um Sambista Diferente. Rio de Janeiro: M. Fontes, FUNARTE, 1987.
  • KRAUSCHE, Valter. Adoniran Barbosa - Pelas ruas da cidade. Col. Encanto Radical. São Paulo, Brasiliense, 1985.
  • MPB Compositores - Adoniran Barbosa. vol. 7. São Paulo, Ed. Globo, 1996.
  • MUGNAINI JR., Ayrton. Adoniran: dá licença de contar... São Paulo: Editora 34, 2002.Nova História da Música Popular Brasileira - Adoniran Barbosa / Paulo Vanzolini, 2 ª ed. São Paulo, Abril Cultural, 1978.
  • RAMOS, Fernão Pessoa; MIRANDA, Luiz Felipe (Orgs). Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo: Senac, 2000. p.41.
  • ROCHA, Francisco. Adoniran Barbosa, o poeta da cidade: trajetória e obra do radioator e cancionista: os anos 1950. Cotia: Ateliê Editorial, 2002.
  • TEIXEIRA, Isabel (Coord.). Arena conta arena 50 anos. São Paulo: Cia. Livre da Cooperativa Paulista de Teatro, [2004].

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