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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Adoniran Barbosa

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 21.05.2024
07.1975
Assim como o primeiro, este segundo disco individual de Adoniran Barbosa (1910-1982) no formato LP (do inglês, Long-Play), leva apenas o nome do artista na capa. É consequência do sucesso inesperado do LP de estreia, lançado no ano anterior. Embora reconhecido como um dos grandes nomes do samba paulista, Adoniran não encontra espaço para sua mús...

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Assim como o primeiro, este segundo disco individual de Adoniran Barbosa (1910-1982) no formato LP (do inglês, Long-Play), leva apenas o nome do artista na capa. É consequência do sucesso inesperado do LP de estreia, lançado no ano anterior. Embora reconhecido como um dos grandes nomes do samba paulista, Adoniran não encontra espaço para sua música. O mercado fonográfico de então volta-se para a geração de artistas da jovem guarda e dos festivais televisivos.

Para surpresa da gravadora Odeon, o álbum tem excelente receptividade do público jovem e universitário, que escuta Adoniran pela primeira vez. Devido ao êxito comercial, apenas seis meses depois de colocar o LP na praça, a Odeon encomenda novo disco ao artista.

A produção é assinada por João Carlos Botezelli, o Pelão (1942), e a direção musical, pelo maestro José Briamonte (1931), responsável pelos arranjos. Das 12 faixas, somente “Vide Verso Meu Endereço” e “Triste Margarida (Samba do metrô)”, ambas de Adoniran, não haviam recebido registros anteriores. Isso, no entanto, não compromete o ineditismo do álbum, pois apenas três músicas do repertório tinham sido gravadas pelo próprio artista. São elas: “Pafunça” [Adoniran Barbosa / Osvaldo Moles (1913-1967)] , “Samba do Arnesto” [Adoniran Barbosa / Alocin (1927)] e “Conselho de Mulher” [Adoniran Barbosa / Osvaldo Moles / João Belarmino dos Santos].

O disco abre com “No Morro da Casa Verde” (Adoniran Barbosa),que aparece pela primeira vez na voz de autor. A música já tem versões de Aracy de Almeida (1914-1988) e dos Demônios da Garoa, em 1959. O refrão convoca para o samba: “Valdir, vai buscar o tambor / Laércio, traz o agogô / Que o samba na Casa Verde enfezou!”

Na sequência, surge a inédita “Vide Verso Meu Endereço”. Nela, um compositor-engraxate narra sua história, agradecendo a ajuda recebida de um certo Dr. José num bilhete em forma de samba. “Venho por meio destas mau traçadas linhas/ Comunicar-lhe que fiz um samba pra você”. Na parte final, a canção torna-se mais singela, ao revelar o analfabetismo do remetente.

Não repare a letra

A letra é de minha mulher

Vide verso meu endereço

Apareça quando quiser.

Destaque para os solos de trombone e flauta, em contraponto com a melodia cantada por Adoniran e pelo coro que o acompanha.

As quatro faixas seguintes são regravações de músicas lançadas pelo grupo Demônios da Garoa.

“Tocar na banda” (Adoniran Barbosa), de 1971, é um dobrado ao estilo das fanfarras de coreto. Adoniran participa dessas fanfarras na infância, na cidade de Santo André, São Paulo. A letra é uma crítica às dificuldades enfrentadas pelos músicos em sua profissão. O compositor apresentado na música tem anos de carreira e dezenas de sucessos. Entretanto, percebe que a recompensa pelo trabalho não passa de mariolas (doces de banana) e cigarros Yolanda, produto da fábrica Souza Cruz, considerado de baixa qualidade pelos fumantes.

“Malvina” (Adoniran Barbosa), por sua vez, remete a 1952, quando se estabelece a parceria entre Adoniran e Demônios da Garoa. Lançada naquele ano, a música tornara-se sucesso de vendas, eleita melhor samba do Carnaval em concurso promovido pela Folha da Tarde.

Na quinta faixa, “Não Quero Entrar” (Adoniran Barbosa), música de 1969, o arranjo de Briamonte valoriza os bordões do violão de sete cordas, que dialoga com a voz de Adoniran.

Em “Samba Italiano” (Adoniran Barbosa), o compositor usa a língua de seus ancestrais -para criar uma de suas obras mais originais. A música tem influência da ópera La Bohème, do compositor italiano Giacomo Puccini (1858-1924). O verso “Aiuto, Marcello!” foi apropriado do texto da costureira Mimi, personagem de Puccini.

Em “Triste Margarida (Samba do metrô)", inédita, o compositor retoma de certa maneira o tema de seu grande sucesso, “Trem das Onze”. Aqui, ao narrar uma conquista amorosa mal sucedida, Adoniran faz referência ao metrô de São Paulo, inaugurado um ano antes do lançamento da música.

“Mulher, Patrão e Cachaça” (Adoniran Barbosa / Osvaldo Moles), é a música com a qual disputa uma das eliminatórias da 1a Bienal do Samba da TV Record, em 1968. Narra o triângulo amoroso envolvendo um violão, uma cuíca e um cavaquinho. O escritor e radialista Osvaldo Moles, falecido antes da obra ser criada,  não tem participação nesse samba. A indicação como coautor é uma homenagem de Adoniran ao amigo.

A parceria e amizade com Moles também está representada no disco em duas regravações, “Conselho de Mulher” (com João Belarmino dos Santos) e “Pafunça”. Elas são lançadas em 1953 e 1958, respectivamente.

A faixa “Samba do Arnesto” (parceria com Alocin), gravada em 78 RPM pelo próprio Adoniran em 1953, deveria constar no LP de estreia do compositor. Todavia, é barrada pela Censura Federal, pelos erros de português e por ser interpretada como deboche. Após longa disputa, os advogados da gravadora conseguem a liberação para inserir a música neste segundo disco.

Como resposta à censura, o produtor Pelão convida o professor, crítico e sociólogo Antonio Candido (1918), autor do clássico Formação da Literatura Brasileira (1959), para escrever o texto de contracapa do álbum. “Já tenho lido que ele [Adoniran] usa uma língua misturada de italiano e português. Não concordo. Da mistura, que é o sal da nossa terra, Adoniran colheu a flor e produziu uma obra radicalmente brasileira, em que as melhores cadências do samba e da canção, alimentadas inclusive pelo terreno fértil das Escolas, se alia com naturalidade às deformações normais de português brasileiro, onde Ernesto vira Arnesto, em cuja casa nós fumo e não encontremo ninguém, exatamente como por todo esse país”, analisa Candido.

O álbum fecha com “Joga a Chave” (parceria com Osvaldo França), samba que dá o bicampeonato do Carnaval ao compositor, em 1953, na interpretação original dos Demônios da Garoa.

Em 1996, os dois primeiros LPs de Adoniran Barbosa são lançados num único CD. 

1. No Morro da Casa Verde
    (Adoniran Barbosa)

2. Vide Verso Meu Endereço
    (Adoniran Barbosa)

3. Tocar na Banda
    (Adoniran Barbosa)

4. Malvina
    (Adoniran Barbosa)

5. Não Quero Entrar
    (Adoniran Barbosa)

6. Samba Italiano
    (Adoniran Barbosa)

7. Triste Margarida (Samba do Metrô)
    (Adoniran Barbosa)

8. Mulher, Patrão e Cachaça
    (Adoniran Barbosa / Osvaldo Moles)

9. Pafunça
    (Adoniran Barbosa / Osvaldo Moles)

10. Samba do Arnesto
    (Adoniran Barbosa / Alocin)

11. Conselho de Mulher
    (Adoniran Barbosa / Osvaldo Moles / João Belarmino dos Santos)

12. Joga a Chave
    (Adoniran Barbosa / Osvaldo França)

Fontes de pesquisa 4

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  • BARBOSA, Adoniran. Adoniran Barbosa. [Rio de Janeiro]: Odeon, 1975. LP.
  • CAMPOS JÚNIOR, Celso de. Adoniran: uma biografia. São Paulo: Globo, 2004.
  • DISCOS do Brasil. Disponível em: < http://www.discosdobrasil.com.br >. Acesso em: 16 set. 2013.
  • INSTITUTO Memória Musical Brasileira. Rio de Janeiro. Disponível em: < http://www.memoriamusical.com.br >. Acesso em: 16 set. 2013.

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