Roberto Corrêa
Texto
Roberto Nunes Corrêa (Campina Verde, Minas Gerais, 1957). Violeiro e Compositor. Aprende violão com José da Conceição (1942-2012) em sua cidade natal. Muda-se para Brasília em 1975, e estuda violão clássico com Eustáquio Grilo. Em 1976, inicia o curso de física na Universidade de Brasília (UnB), onde, em 1977, forma o grupo de música regional Olho d'Água, tocando violão. Nesse mesmo ano, começa a estudar viola caipira e viaja em busca de violeiros dispostos a lhe ensinar a técnica de “pontear a viola”. Descobre que a tradição da viola caipira é oral, passada de pai para filho. Começa a pesquisar as técnicas instrumentais, o universo folclórico e lendário que envolve o instrumento e as tradições ligadas a ele.
Como resultado das pesquisas, publica, em 1983, o livro Viola Caipira, lançado com o recital Parecença no Teatro Galpão em Brasília, marco do início da carreira profissional. Além de bacharel em física, forma-se, em 1983, no curso de licenciatura em música. Dois anos depois, é contratado como professor de viola caipira pela Escola de Música de Brasília (EMB). O material preparado para os alunos origina o livro A Arte de Pontear Viola, sistematização de técnicas, afinações e crenças diversas.
Grava, em 1994, Uróboro, um disco com suas composições para solo de viola caipira e viola de cocho. Em 2010, com o violeiro e compositor Paulo Freire (1957), promove o Festival Voa Viola, com apresentações em Recife, Belo Horizonte, São Paulo e Brasília, e um portal interativo de difusão do instrumento.
Análise
Roberto Corrêa é um dos pesquisadores que trabalham para o resgate da viola, trazendo para o ambiente urbano e multicultural tradições espalhadas pelo interior do país. Sua composição ultrapassa os limites técnicos convencionais do instrumento, levando suas características a novo plano.
Autor de métodos e livros sobre violeiros, compõe e grava para diferentes tipos de viola, nos ritmos aos quais elas estão ligadas. Cria um repertório para o instrumento, difundido pelas obras de sua discografia. São comuns também as referências a sons de animais e coisas do sertão. “Araponga Isprivitada”, está gravada com um modelo antigo de viola (“de cravelha”), e a composição é inspirada pelo canto da araponga, uma ave comum no Brasil. “Baião do Pé Rachado” é inspirada pelo ritmo nordestino que lhe dá nome e suas características idiomáticas para a viola, e “Jararaca Chateadera” – gravada em viola do tipo “amarantina”, típica da região de Amarante, em Portugal – é uma das quatro peças que formam a Suíte das Cobras. Essas peças estão registradas no disco Viola Caipira – Brasil (1989), gravado por Roberto Corrêa na Alemanha para a série Traditional Music of the World da Unesco.
A “Peleja de Siriema com Cobra” é tocada na viola de cocho, viola primitiva esculpida em um único pedaço de tronco, típica da região do Pantanal. A composição trabalha ritmos e melodias pantaneiras e, a sua maneira, aparenta-se ao poema sinfônico, em que uma história é contada não por palavras, mas por sons instrumentais. Como boa parte das composições de Roberto Corrêa, está gravada no disco Uróboro.
Atua ainda como intérprete nos discos No Sertão – Viola e Cordas (1998), acompanhado por quinteto de cordas, Antiquera – Orquestra à Base de Corda Convida Roberto Corrêa (2007) e Crisálida (1996), acompanhado por Alencar Sete Cordas (1951-2011) no violão, Ivan Vilela (1962) na viola e José Eduardo Gramani (1944-1998) na rabeca. Instrumentista versátil, tem ainda discos gravados como acompanhador, como Voz e Viola (1996) e Caipira de Fato – Voz e Viola (1997), nos quais acompanha a cantora Inezita Barroso (1925-2015). Com o último disco, conquista o Prêmio Sharp de 1997. Realiza também produção, direção musical e arranjos do disco Meu Céu, da dupla Zé Mulato e Cassiano, que lhe vale outro Prêmio Sharp, ainda em 1997. Com Renato Andrade (1932-2005), toca num disco da série Brasil Musical, em 1997, produzido por André Geraissati (1951). Em sua militância pelo instrumento, cria o selo Viola Corrêa. Ao lado de Paulo Freire e Badia Medeiros, grava o disco Esbrangente (2003).
Em 2009, lança Temperança e Violas de Bronze, este último, parceria com o instrumentista pernambucano Siba (1969). As canções desse disco trazem, além da voz, a rabeca e a viola, introduzidas no país pela colonização portuguesa, integrantes das tradições populares e folguedos.
Obras 7
Espetáculos 3
Fontes de pesquisa 10
- BOTEZELLI, J. C.; PELAO. A Música brasileira deste século por seus autores e intérpretes. São Paulo: Sesc: JCB, 2003.
- CORRÊA, R. N. Viola caipira: das práticas populares à escritura da arte. 2014. 283 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-graduação em Música, Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.
- CORRÊA, Roberto. A arte de pontear viola, 2. ed. Brasília: Viola Corrêa, 2002.
- ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Júlia do Vale]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos.
- MORETZSOHN, Carmem. Viola no Sangue. Jornal de Brasília, Distrito Federal, 7 ago. 1999.
- NEPOMUCENO, Rosa. Música Caipira: da roça ao rodeio. São Paulo: Editora 34, 1999.
- ROBERTO CORRÊA. Site oficial do artista. Disponível em: http://robertocorrea.com.br/. Acesso em: 05 jun. 2011.
- ROBERTO Corrêa. Depoimento do artista para o projeto Um Brasil de Viola – Tradições e Modernidades da Viola Caipira. Disponível em: http://umbrasildeviola.blogspot.com.br/2011/10/roberto-correa-brasilia-df.html. Acesso em 31 de jul. de 2017.
- TAUBKIN, Myriam. Violeiros do Brasil. São Paulo: Myriam Taubkin, 2008.
- VILELA, Ivan. Cantando a própria história: música caipira e enraizamento. São Paulo: Edusp, 2013.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
ROBERTO Corrêa.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa12159/roberto-correa. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7