Susana Yamauchi
Texto
Susana Takayama Yamauchi (São Paulo, São Paulo, 1957). Bailarina, coreógrafa e professora de dança. Inicia-se em dança clássica aos 6 anos de idade. Sua formação artística inclui a Escola Municipal de Bailados e professores como Ismael Guiser (1927-2008), Sonia Mota (1948) e Reneé Gumiel (1913-2006). Em 1976, estreia como bailarina profissional no Ballet Stagium, e integra, em 1977, o Corpo de Baile Municipal (CBM), atual Balé da Cidade de São Paulo. Em 1978, viaja aos Estados Unidos para especializar-se em dança moderna com os coreógrafos Alvin Ailey Jr. (1931-1989) e Louis Falco (1942-1943). Em 1980, no Brasil, atua em Certas Mulheres, de Mara Borba (1950), coreografa Revés, para o Ballet Ismael Guiser, e Chiclete com Banana, para o Grupo Andança. Em 1981, estreia Kiunka, no Teatro de Dança Galpão, ao lado de João Maurício e Sônia Mota, apresentação pela qual recebe o prêmio de melhor bailarina da Associação Paulista de Críticos de Arte (Apca). No ano seguinte, retorna ao Balé da Cidade de São Paulo e compõe trabalhos para a companhia: Karadá (1983), em parceria com João Maurício, e Absurdos ou os Doze Trabalhos de Flérsules (1984).
Em 1985, recebe bolsa de estudos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Comissão Fulbright para estudar com Jennifer Muller (1949), em Nova York. Em 1986, atua em Rito de Amor e Morte na Casa de Lilith, a Lua Negra, com direção de José Possi Neto (1947). Em 1988, participa do musical Emoções Baratas. Em 1987, cria Malê para o Balé do Teatro Castro Alves, e, no ano seguinte, Danças Seculares e Instantâneas para o Ballet Ópera Paulista. Nos anos 1990, produz os dois primeiros solos da trilogia baseada em sua origem nipo-brasileira: À Flor da Pele (1992) e A Face Oculta (1996).
Em 1997, compõe Plenilúnio, a terceira criação para o Balé da Cidade de São Paulo. Em 1999, cria Muito Romântico, para a própria companhia, a Lúdica Dança. Feita em parceria com João Maurício a partir de músicas de Roberto Carlos (1941), o espetáculo tem direção de Naum Alves de Souza (1942-2016). Depois das apresentações para o Teatro Popular do Sesi, em São Paulo, Susana excursiona com a peça pela Europa. Em 2002 e 2003, realiza curadoria do Panorama Sesi de Dança. Em 2006, em outra parceria com João Maurício e com o cineasta Fernando Meirelles (1955), realiza Cubo, espetáculo que une dança e computação gráfica.
Em 2007, dirige Pedrinho Luz para Fábricas de Cultura, projeto de inserção social por meio da linguagem artística. O espetáculo envolve 42 jovens de São Paulo e reconta a história de Petrushka, o balé burlesco composto pelo russo Igor Stravinsky (1882-1971). Atua como consultora de dança e idealiza os figurinos dos espetáculos desse programa.
WabiSabi (2009) completa a trilogia de solos em que explora as faces de sua ligação com a cultura japonesa. Assume, em janeiro de 2011, a direção da Escola Municipal de Bailados, atual Escola de Dança de São Paulo, e encena, em dezembro do mesmo ano, com os alunos da escola, o espetáculo Pinochianas, a partir fábula As Aventuras de Pinóquio (1881) do autor italiano Carlo Collodi (1826-1890).
Análise
A carreira da bailarina e coreógrafa Susana Yamauchi, que se desenvolve entre a busca por um padrão de dança global e os solos em que particulariza sua ascendência japonesa.
Esse padrão evidencia-se em um de seus três primeiros trabalhos, depois de curta experiência como bailarina do Ballet Stagium e do Corpo de Baile Municipal: Chiclete com Banana (1980) chama a atenção pelo ritmo vibrante. Para o crítico Rui Fontana Lopez, a coreografia dá:
uma boa amostra do talento de uma coreógrafa iniciante, de quem se podem esperar com interesse novos trabalhos. A escolha musical não poderia ser mais acertada para quem apenas começa na difícil arte da coreografia: Susana aproveita o ritmo, a vibração e as marcações musicais para fazer um balé simples e de efeito 1.
Em 1983, Susana cria Karadá, primeiro trabalho em parceria com João Maurício, para o workshop do Balé da Cidade de São Paulo. A coreografia incorpora-se ao repertório da artista no ano seguinte. Sobre a obra, a crítica Helena Katz assinala: “Tê-la num programa como este é a garantia que o Balé da Cidade nos dá de que se atualiza ao tempo das danceterias, sem preconceito. E que não vai deixar o prazer de dançar ilhado naqueles espaços” 2. Em 1988, no entanto, na remontagem junto à Companhia do Palácio das Artes de Belo Horizonte, o crítico Antonio José Faro (1933-1991) apelida a apresentação de “balé de perfil, tanto os bailarinos são usados naquela posição” 3.
O trabalho posterior que realiza no Balé da Cidade de São Paulo, Absurdos ou os Doze Trabalhos de Flérsules ambiciona-se como obra total. Além de coreografar, Susana assume o roteiro ao lado de Flávio Império, em um espetáculo com múltiplos figurinos e cenários. A temática é difusa, e os cortes espaciais da coreografia e o desenvolvimento cênico são simplificados.
Outro importante momento de sua carreira dá-se nos anos 1990, quando produz dois solos de uma trilogia voltada para reflexão sobre a ascendência japonesa. A coreógrafa poetiza traços de um Japão desconhecido do Ocidente. De acordo com a crítica de dança Helena Katz, é um trabalho “sem dúvida, o da sua mais relevante contribuição para a arte brasileira” 4. À Flor da Pele, traz à tona lembranças de infância e adolescência como nissei (em japonês, segunda geração de japoneses nascidos no Brasil), a face mais ácida de quem nasce aqui e está impossibilitado de retornar às origens culturais e familiares. O Japão contado pelas histórias de sua avó é urdido como fantasia.
O segundo solo é A Face Oculta. Esta coreografia é baseada na viagem de trem pelo Japão, feita pela dançarina em 1994. A peça é criada a partir de personagens e o entorno de cada um deles. Por isso, a necessidade de a artista conceber e realizar tudo artesanalmente, como costurar os criativos figurinos do espetáculo, que se dobram e desdobram em transformações sequenciais, ou modelar as diversas máscaras repletas de simbologia 5. Em 1996, o trabalho recebe o prêmio de criação e de intérprete da Associação Paulista de Críticos de Arte (Apca). Os dois solos cumprem longas temporadas no Brasil: À Flor da Pele fica em cartaz de 1992 a 1995, e A Face Oculta, de 1996 e 1997. Depois das apresentações brasileiras, os espetáculos são apresentados no Festival New Visions, em Miami.
No final dos anos 1990, Susana retoma os trabalhos coletivos: em 1997, com Plenilúnio, a terceira criação para o Balé da Cidade de São Paulo, e, em 1999, com Muito Romântico, para o Teatro Popular do Sesi. Essas apresentação, entretanto, não alcaçam o mesmo impacto de seus solos anteriores. Yamauchi e João Maurício unem-se ao diretor Naum Alves de Souza e criam danças para 19 canções de Roberto Carlos. O rigor da produção musical e de cenários e figurinos não encontra correspondência na coreografia. Em 2009, Coisas Que Me Ajudam a Viver, a quarta realização para o Balé da Cidade de São Paulo, igualmente não obtém a mesma repercussão de seus trabalhos iniciais para conjuntos.
Notas
1. LOPEZ, Rui Fontana. Grupo Andança. IstoÉ, São Paulo, 27 ago. 1980.
2. KATZ, Helena. Movimentos elegantes, mas frios. Folha de S.Paulo, São Paulo, 11 set. 1984. Ilustrada, p. 30.
3. FARO, Antonio José. A Nova Companhia do Palácio das Artes – Crítica. Dançar, São Paulo, ano V, n. 23, p. 17, 1988.
4. KATZ, Helena. Yamauchi intervém em instalação. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 3 nov. 2000.
Caderno 2, p. D-54.
5. KATZ, Helena. ‘A Face Oculta’ esculpe novas paisagens. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 30 ago. 1996. Caderno 2, p. 53.
Espetáculos 8
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21/1/1983 - 30/1/1983
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Espetáculos de dança 1
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3/6/1982 - 6/6/1982
Exposições 2
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24/10/1995 - 26/11/1995
Fontes de pesquisa 19
- BARBARA, Aida. Instante antes e depois da morte. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 4 dez. 1986. Caderno 2, p. 91.
- BRAGATO, Marcos. Absurdos, Balé da Cidade de São Paulo. Dançar, São Paulo, ano II, n. 8, p. 30-31, 1984.
- BRAGATO, Marcos. Dança faz temporada de verão. Folha da Tarde, São Paulo, 29 jan. 1993. Programa-se, p. D-3.
- BRAGATO, Marcos. Muito romântico. Isto É Gente, São Paulo, 25 out. 1999.
- BRAGATO, Marcos. O Balé da Cidade e a estética da monotonia. Jornal da Tarde, São Paulo, 30 jun. 1998. SPVariedades, p. 4C.
- BRAGATO, Marcos. Raízes no Oriente. Jornal da Tarde, São Paulo, 19 mar. 1997. Divirta-se, p. 7C.
- DIÁRIO Oficial Cidade de São Paulo. São Paulo, ano 56, n. 2, 5 jan. 2011.
- FARO, Antonio José. A Nova Companhia do Palácio das Artes – Crítica. Dançar, São Paulo, ano V, n. 23, p. 17, 1988.
- FOLHA de S. Paulo. Espetáculo evoca o lado do ciúme nas músicas do Rei. Folha de S. Paulo, 9 nov. 2004. Ilustrada. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0911200407.htm. Acesso em: 29 out. 2012.
- KATZ, Helena. A excelência à espera de um bom material. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 10 dez. 2009. Caderno 2, p. 103.
- KATZ, Helena. Movimentos elegantes, mas frios. Folha de S.Paulo, São Paulo, 11 set. 1984. Ilustrada, p. 30.
- KATZ, Helena. Os novos passos do Andança. Folha de S.Paulo, São Paulo, 12 ago. 1980.
- KATZ, Helena. Yamauchi intervém em instalação. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 3 nov. 2000. Caderno 2, p. D-54.
- KATZ, Helena. ‘A Face Oculta’ esculpe novas paisagens. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 30 ago. 1996. Caderno 2, p. 53.
- LOPEZ, Rui Fontana. Grupo Andança. IstoÉ, São Paulo, 27 ago. 1980.
- MARTINS, Andréa. Susana Yamauchi mostra ‘A Face Oculta’. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 19. Mar. 1997. Caderno 2, p. 49.
- PONZIO, Ana Francisca. Dança Contemporânea volta a agitar São Paulo. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 4 mar. 1992. Caderno 2, p. 2.
- PONZIO, Ana Francisca. Flashes do Japão nissei na Coreografia de Yamauchi. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 18 mar. 1992. Caderno 2, p. 44.
- Programa do Espetáculo: Joana Dark a Re-Volta - 2001.
Como citar
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SUSANA Yamauchi.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa109042/susana-yamauchi. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7