Ruth Rachou
Texto
Ruth Margarido da Silva (São Paulo, São Paulo, 1927 – Idem, 2022). Professora, bailarina e coreógrafa, expoente da dança moderna em São Paulo, reconhecida pelo trabalho a partir da técnica da dançarina estadunidense Martha Graham (1894-1991) e pela formação de gerações de bailarinos ao longo de sua carreira, por meio de propostas pedagógicas modernas.
Nasce em São Paulo e, desde os 4 anos de idade, acompanha a irmã mais velha nas aulas de dança. Passa por diversas professoras de balé, como Kitty Bodenheim (1912-2003) e Maria Olenewa (1896-1965). Sua carreira profissional começa aos 26 anos, no Ballet do IV Centenário, a primeira companhia profissional de São Paulo, criada para a comemoração dos quatrocentos anos da fundação da cidade e dirigida pelo húngaro Aurel Von Milloss (1906-1988). A companhia trabalha com uma proposta moderna, em grandes produções com artistas de múltiplas áreas.
Quando a companhia se encerra em 1955, Rachou segue o percurso comum àquela geração: alterna trabalhos em companhias que tentam se firmar na cidade, como o Ballet do Museu de Arte de São Paulo, dirigido por Abelardo Figueiredo (1931-2009), e atividades em televisão, musicais e shows.
Em 1967, seu interesse pela dança moderna a leva aos Estados Unidos, onde faz aulas na escola de Martha Graham, conhecendo a técnica da própria bailarina, além de outros professores da dança moderna, como José Limón (1908-1972) e Merce Cunningham (1919-2009). Esse contato com a dança moderna estadunidense oferece ferramentas para explorar as possibilidades para além do balé. A característica que mais lhe chama atenção no trabalho de Graham é a formação ampla dos bailarinos, com um trabalho corporal exigente, acompanhado de intenso esforço de pensamento e reflexão sobre a movimentação e a dança.
Essa proposta orienta a criação de sua escola em 1972. Em atividade até 2015, o Estúdio Ruth Rachou produz gerações de bailarinos em São Paulo, em programas inovadores de formação, incluindo, além dos trabalhos técnicos corporais de múltiplas vertentes, estudos de história e teoria da dança, ginástica, música, anatomia, cenário e figurino. Desde a inauguração, a escola se opõe à vertente predominante no ensino de dança no país, focada em formação técnica (majoritariamente de balé clássico), apresentações de final de ano e em festivais competitivos.
Ao longo dos seus mais de quarenta anos de atividade, a escola conta com professores de destaque na cena da dança brasileira, como Klauss Vianna (1928-1992), J.C. Violla (1947), Mara Borba (1951) e Mariana Muniz (1957). A variedade desse quadro de colaboradores ilustra um projeto amplo e variado de formação.
Paralelamente ao trabalho como educadora, a bailarina marca presença em cena, dançando, coreografando e atuando. Em Sonho de valsa (1979), dirigido por José Possi Neto (1947), contracena com o bailarino Thales Pan Chacon (1956-1997). O trabalho tem origem no solo em que a bailarina interpreta uma personagem que, com balde e pano na mão, passa grande parte da cena limpando o chão, para depois se deitar numa cama e sonhar. A bailarina percebe a potência desse trabalho na direção teatral e naquilo que o diretor consegue guiar na busca por uma interpretação não baseada na demonstração técnica, mas na expressividade do movimento.
Os projetos de sua escola propõem mudar a dança, seu ensino e sua percepção enquanto campo da arte e do conhecimento. Um desses importantes trabalhos é Inventores da dança (1985), mostra não competitiva apresentada na capital paulista – no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), no Teatro Sérgio Cardoso e no Centro Cultural São Paulo (CCSP) –, com conversas e discussões com a crítica Helena Katz (1950) sobre história da dança. Outro projeto é o curso Corpo inteiro, curso técnico piloto com proposta multidisciplinar de formação em dança, intento impossibilitado por falta de verbas.
A partir de 1989, a bailarina dá aulas na Escola Municipal de Bailados, ligada ao Theatro Municipal de São Paulo. Por vinte anos na instituição, ensina dança moderna no último ano da formação de bailarinos que, antes, se dedicavam inteiramente ao balé clássico.
O reconhecimento de sua carreira ocorre em diversas instâncias. Em 2008, um programa de homenagem aos seus 80 anos reúne apresentações, exposição e lançamento de sua biografia em livro. Em 2013, a bailarina recebe da Comissão de Dança da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) o Grande Prêmio da Crítica. Em 2017, celebrando seus 90 anos, seu trabalho é homenageado em exposição virtual e documentário realizados pelo Portal do Museu da Dança (MUD) em mostra de obras, oficinas e conversas com a artista e colaboradores, no Sesc Consolação.
Reconhecida por seu extenso trabalho com técnicas de dança moderna, em projetos pedagógicos múltiplos e contínuos, por décadas em sua escola própria, além da colaboração em outras instituições, Ruth Rachou é figura fundamental da dança brasileira, formadora de gerações de bailarinos em São Paulo.
Espetáculos 10
Espetáculos de dança 4
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22/5/1982 - 30/5/1982
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5/1982 - 5/1982
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3/6/1982 - 6/6/1982
Fontes de pesquisa 9
- ALAMADA, Izaías; FIGUEIREDO, Bernadette. Ruth Rachou – Biografia. São Paulo: Ed. Caros Amigos, 2008.
- DIAS, Linneu. Indefinição prejudica balé. O Estado de S. Paulo, 7 dez. 1975.
- NAVAS, Cássia; DIAS, Linneu. Dança Moderna. São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura, 1992.
- O Carrasco do Sol. São Paulo: Teatro Anchieta, 1973. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Anchieta.
- PERNICIOTTI, Fernanda. Morre a bailarina Ruth Rachou, pioneira do pensamento moderno no Brasil. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 12 jan. 2022. Disponível em: https://cultura.estadao.com.br/noticias/teatro-e-danca,morre-a-bailarina-ruth-rachou-pioneira-do-pensamento-moderno-no-brasil,70003948324. Acesso em: 12 jan. 2022.
- PORTAL MUD. Ruth Rachou: Dança Afetos Resistência. Documentário, 50’. São Paulo, 2017. Disponível em: https://youtu.be/nLAwrak_VF0. Acesso em: 3 set. 2021.
- PORTAL MUD. Ruth Rachou: Dança Afetos Resistência. Exposição Virutal. São Paulo, 2017. Disponível em: http://museudadanca.com.br/ruthrachou/. Acesso em: 3 set. 2021.
- RACHOU, Ruth; RACHOU, Raul. Ruth Rachou. São Paulo: [s.n.], 2021. Entrevista concedida a Henrique Rochelle, crítico de dança.
- SÃO PAULO COMPANHIA DE DANÇA. Ruth Rachou. Série Figuras da dança. Governo do Estado de São Paulo, 2009.
Como citar
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RUTH Rachou.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa109033/ruth-rachou. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7