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Música

Getz/Gilberto

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 13.05.2024
1963
Getz/Gilberto é um álbum gravado em 1963, em Nova York, pelo saxofonista estadunidense Stan Getz (1927-1991) e pelo violonista João Gilberto (1931-2019). É um trabalho emblemático por impulsionar a consolidação da Bossa Nova no exterior e converter quase todas suas faixas em standards do repertório jazzístico. A obra também conta com a participa...

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Getz/Gilberto é um álbum gravado em 1963, em Nova York, pelo saxofonista estadunidense Stan Getz (1927-1991) e pelo violonista João Gilberto (1931-2019). É um trabalho emblemático por impulsionar a consolidação da Bossa Nova no exterior e converter quase todas suas faixas em standards do repertório jazzístico. A obra também conta com a participação de músicos que definiram o modo interpretativo do gênero.

A gravação do álbum se deve, em grande parte, pela trajetória do jazz nos Estados Unidos. O estilo enfrenta uma crise comercial e artística com o advento de novas tendências musicais, como o rock’n’roll. Rapidamente, o gênero se volta a sonoridades que possam lhe oferecer certo frescor para, com a renovação estilística, recuperar o espaço no mercado fonográfico. 

Nessa mesma época, no Brasil, a bossa nova está em ebulição, construindo sua identidade sobre três pilares: João Gilberto, com raízes na tradição da canção brasileira, sobretudo na do samba; Tom Jobim (1927-1994), com sua formação em música erudita; e os jovens influenciados pelo jazz que se encontram regularmente em Copacabana, como o compositor, cantor e pianista Johnny Alf (1929-2010), por exemplo. Essa conjuntura revela-se perfeita para explorar a bossa nova nos Estados Unidos: uma música próxima o bastante da linguagem do jazz para não extrapolar completamente as fronteiras estadunidenses, mas exótica o suficiente para conferir originalidade e proporcionar a renovação desse estilo.

O estopim que leva Creed Taylor (1929), produtor dos discos de Getz, a convidar Gilberto a gravar com o saxofonista é o concerto Bossa Nova, New Brazilian Jazz, realizado no Carnegie Hall em 1962: nessa oportunidade, os músicos estadunidenses ouvem pela primeira vez a Bossa Nova ser tocada por seus protagonistas.

A gravação de Getz/Gilberto ocorre entre os dias 18 e 19 de março de 1963. No final do mesmo ano, o single de "The Girl from Ipanema" é apresentado apenas com a voz de Astrud Gilberto (1940-2023) e assegura o sucesso do álbum. O disco completo é lançado em 1964, contando com a participação de Taylor (produção), Phil Ramone (engenheiro de som), Jobim (piano e arranjos), Astrud Gilberto (voz), Sebastião Neto (contrabaixo) e Milton Banana (bateria). O disco torna-se rapidamente um dos mais vendidos da história do jazz, além de permanecer na lista da Billboard 200 durante 96 semanas e receber o Grammy Awards em quatro categorias em 1965.

No álbum, Gilberto estabelece uma batida do violão em que harmonia e ritmo se fundem em uma entidade indissociável. Combinada com sua emissão vocal, o artista cria um organismo unissonante. Aproveitando-se da tecnologia do microfone, sua voz não precisa do timbre operístico para ser ouvida pela audiência do teatro. Desse modo, baseia seu canto no ritmo natural da fala, cuja riquezas fonética, sonora, melodiosa e rítmica emergem do trabalho minucioso sobre cada sílaba emitida.

Milton Banana (1935-1999) consagra a batida da bossa nova na bateria e Jobim constrói uma linguagem harmônica atravessada por referências à música erudita com tratamento contrapontístico ao piano, recurso não habitual à linguagem do jazz. Ouve-se um embate estilístico, pois Getz é mais presente e possui emissão mais enfática nas gravações do que os contrapontos discretos que o samba e a Bossa Nova conferem aos instrumentos de sopro. Apesar disso, no álbum, há uma potencialização das características marcantes da Bossa: objetividade da interpretação (executando apenas o necessário de forma sóbria, sem nenhum tipo de floreio melódico, harmônico, dinâmico etc.), assimilação do intérprete à obra como um todo (onde “ele existe em função da obra e não apesar dela”) e integração da melodia, da harmonia, do ritmo e do contraponto no tecido da obra “de maneira a não se permitir a prevalência de qualquer deles sobre os demais”1.

Em 1966, é lançado o segundo álbum, Getz/Gilberto Vol.2, registro do concerto no Carnegie Hall em 1964. Getz e Gilberto voltam a gravar 12 anos depois e realizam The Best of Two Worlds (1976). A partir dele, lança-se Selection from Getz/Gilberto 76 (2015), álbum em que se pode ouvir quatro faixas inéditas selecionadas do concerto em São Francisco realizado em 1976.

Fonte de inspiração para as gerações de músicos que os sucederam, Getz/Gilberto mostra-se, graças à herança cultural do samba brasileiro [como na execução de “Doralice”, de Dorival Caymmi (1914-2008) e Antonio Almeida] em diálogo com o universo jazzístico de nomes como Frank Sinatra (1915-1998), Ella Fitzgerald (1917-1996) ou Chet Baker (1929-1988), como a verdadeira síntese desses dois mundos.

Nota

1. ROCHA BRITO, Brasil. “Bossa Nova”. In: CAMPOS, Augusto de (Ed.). Balanço da Bossa e Outras Bossas. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1974.

Fontes de pesquisa 21

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  • CASTRO, Ruy. Chega de Saudade: a história e as histórias da bossa nova. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
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  • ROCHA BRITO, Brasil. Bossa Nova. In: CAMPOS, Augusto de (Ed.). Balanço da Bossa e Outras Bossas. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1974, pp. 17-50.
  • SCARABELOT, André Luis. Música Brasileira e Jazz – o outro lado da história. Revista Digital Art, ano III, n. 3, abr. 2005. Disponível em: http://www.revista.art.br/site-numero-03/trabalhos/07.htm. Acesso em: 27 set. 2019
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