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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Como Nossos Pais

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 17.05.2024
2017
Como Nossos Pais (2017) é um filme dirigido por Laís Bodanzky (1969), que se destaca pela forma como aborda o papel feminino na família e na sociedade. É um drama que gira em torno das pressões que geram culpa nas mulheres.

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Como Nossos Pais (2017) é um filme dirigido por Laís Bodanzky (1969), que se destaca pela forma como aborda o papel feminino na família e na sociedade. É um drama que gira em torno das pressões que geram culpa nas mulheres.

A protagonista é Rosa [Maria Ribeiro (1975)], uma mãe de família de 38 anos que vive estressada pelo excesso de afazeres e pela vontade de ser perfeita em tudo. Ela tem duas filhas pré-adolescentes e vive um casamento infeliz com Dado [Paulo Vilhena (1979)]. O pai, Homero [Jorge Mautner (1941)], é um tipo hippie tardio, que a ama, mas lhe cria mais problemas do que soluções. A mãe, Clarice [Clarisse Abujamra (1955)], parece gostar mais de Dado do que da filha. A relação entre elas é conflituosa.

Rosa tem um emprego que lhe dá dinheiro suficiente para sustentar a família. Mas, em vez de redigir peças publicitárias sobre louças de banheiro, o que ela quer mesmo é ter mais tempo para escrever peças de teatro. E também ter a seu lado alguém mais carinhoso e parceiro, que não provoque nela a sensação de ser traída.

Sua rotina começa a mudar quando, num trivial almoço de domingo, Clarice lhe dá a primeira de duas notícias que mudam sua vida. Na frente de todos, a mãe revela que Homero na verdade não é o pai dela. O fato de descobrir que é fruto de uma relação extraconjugal leva a protagonista a uma jornada de ressignificação. Ela precisa encontrar seu lugar no mundo, e talvez esse lugar seja exatamente onde está, mas não da mesma maneira.

Como Nossos Pais é lançado em fevereiro de 2017, no Festival de Berlim, e em agosto do mesmo ano no circuito brasileiro. Recebe seis Kikitos no Festival de Gramado, entre eles, melhor filme e direção, e dois prêmios no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro: direção e atriz (Maria Ribeiro). É escolhido como melhor filme no Festival de Cinema Brasileiro de Paris, entre outras premiações.

Os artigos sobre o longa, de modo geral, elogiam a naturalidade, a sutileza e a maturidade com que a história é contada. As situações encenadas fazem o espectador refletir e pensar que aquilo lhe é familiar, realista, como a sequência em que Rosa precisa cuidar sozinha das filhas de manhã, porque Dado se recusa a sair da cama. Ela bate boca com uma das meninas e acaba esquecendo no fogo o leite, que entorna e suja o fogão.

A crítica vê com bons olhos a transformação de Rosa, encenada sem excesso de carga emotiva e sem austeridade por parte da atriz. Também destaca a riqueza dramática das relações entre os personagens e da própria construção deles. Ninguém é totalmente mau, nem bom. Esses são méritos que diferenciam o filme de outros tantos dramas familiares. Para ilustrar essas qualidades, pode-se destacar a cena em que, depois de um diálogo franco com a mãe, Rosa decide se abrir para um flerte com Pedro [Felipe Rocha (1972)] em uma degustação de vinho num supermercado – a encenação é marcada pela característica poética dos diálogos.

Mas há ressalvas nas resenhas. Uma delas diz respeito aos desdobramentos de uma revelação feita por Clarice: a de que ela sofre de um câncer incurável. Como ela até então é dura com Rosa, a pacificação entre elas a partir desse momento é considerada artificial, improvável, mesmo levando-se em conta a comoção pela morte iminente. Argumento semelhante é usado para criticar o personagem Dado, o marido folgado e egocêntrico que não lava sequer um copo em casa. Pela falta de profundidade, ele é muitas vezes reduzido a antagonista de Rosa. Assim, o clichê do marido negligente em oposição à mulher dedicada empobrece o conflito do casal, ainda que seja uma dinâmica muito presente na vida real.

Machismo e liberdade sexual são temas centrais do roteiro, escrito por Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi (1966). A história funciona à base de um descompasso: a sociedade avança em termos de costumes, mas não tanto quanto se imagina. Em certa medida, apesar da chamada revolução comportamental dos anos 1960, o patriarcado ainda rege as relações.

Um aspecto elogiado do roteiro é situar a protagonista em um núcleo familiar progressista – mãe de esquerda, marido que quer salvar o planeta, pai artista – e, mesmo assim, ela conviver com ranços de conservadorismo. Rosa representa uma geração perdida entre ideias vanguardistas e valores atrasados. O filme é lançado numa época em que ganha corpo na sociedade brasileira certa reação à pauta da igualdade de gênero, assim como a outras questões identitárias.

Questionada sobre a razão de adotar um discurso feminista, Bodanzky responde que, após séculos de dominação masculina, as mulheres começam a tomar mais consciência do que querem e do que podem. E explica que essa realidade está não apenas em Rosa, mas também em Clarice, uma jovem libertária da geração de 1968. A diretora, no entanto, acha que não é um filme propriamente feminista, mas que ele toca em alguns pontos do movimento feminista ao contar a história de uma mulher que, vivendo num mundo de repressão invisível, grita para se fazer ouvir, mesmo correndo riscos.

Como Nossos Pais é o ponto de vista de uma mulher (a diretora) sobre outra mulher (a protagonista). Juntas, elas levam às telas uma representação feminina libertária, por meio da trajetória de uma mãe de família sobrecarregada que, quando consegue dar um tempo em suas inúmeras obrigações cotidianas, descobre que a vida lhe reserva algumas novidades.

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